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História dos principais pontos litorâneos de Tarrafal
Ponto de Vista

História dos principais pontos litorâneos de Tarrafal

O capitão inglês George Roberts, que passou pelos portos de Tarrafal por duas vezes no ano de 1722, deixou um exaustivo relato sobre a situação de pobreza em que encontrou esses portos. E falou muito sobre a hostilidade por que passou no porto do Mangue na segunda viagem, perpetrado por um grupo de mais ou menos 15 escravos desconfiados das intenções dele.

1 – Fazenda

A baía, ou melhor, porto de Fazenda, foi o primeiro porto de entrada e saída deste extremo norte de Santiago. Nos primórdios do séc: XVI, o Capitão-Mor João Correia de Sousa, manda ocupar esta parte norte, que até à data não tinha presença humana, com a criação do maior curral jamais visto em Cabo Verde (Senna Barcellos). Com isto acontecia o primeiro assentamento populacional na região de Tarrafal. Os principais objetivos deste curral eram: fixar homens nesta região; produzir animais, carne, sebo e manteiga, para abastecer navios negreiros que faziam aguada neste porto.

Fazenda é nome dado ao primeiro núcleo populacional desta região, situado num vale verdejante, à época, com água a correr quase o ano todo, autêntico celeiro da região, tinha muita agricultura, teve estrutura de fazenda desde o início, com seu feitor, capataz e escravos, a isto deve-se-lhe o nome. Este vale e a própria baía estão encravados entre monte Graciosa e a pequena elevação denominada Ponta Fazenda.

Deixando Ribeira Grande, navios negreiros aportavam Fazenda para aguada, último ponto de escala em Cabo Verde, isto é, depois de abastecido com carne, sebo, manteiga, animais, água de Pedra ‘Npena e produtos agrícolas, partiam para o outro lado do Atlântico. Essa aventura viu seu término com entrada em sena da dinastia filipina.

Água de Pedra ‘Npena, de grande qualidade, brotava em quantidade das entranhas de monte Graciosa.

O porto de Fazenda é em consequência o último ponto de escala de escravos levados para o continente americano a partir de Cabo Verde durante algum tempo.

A baía de Fazenda pela sua exuberância conseguiu muita navegação durante séculos, foi também importante porto de comércio de urzela e purgueira.

O célebre súbdito francês Eugenio Renneteau escolheu Fazenda para fixar sua residência, em 1890.

Ainda hoje, a baía esconde o mistério das ossadas humanas, que, devido a erosão ambiental dão à superfície, ossadas que estão na proximidade da praia que antes era muito arenosa.

Até meados do seculo passado navios de pequeno porte (faluchos) escalavam esta baía para descarregar sal e outros produtos da ilha do Maio.

2 – Mangue

Pouco tempo depois de terem chegado os primeiros moradores ao Tarrafal, despontava a povoação de Mangue nas proximidades do magnífico porto de Mangue, o segundo melhor porto de Cabo Verde, segue o Porto Grande de S. Vicente. Os primeiros ocupantes demandaram a esta parte no início do séc: XVII, concentrando-se à volta da farta baía ladeada de um denso manguezal (espécie própria de lugares pantanosos), que deu nome ao lugar – Mangue. A abundância de recursos propiciou condições de sobrevivência aos escravos fujões e, de seguida como abrigo a “criminosos” que aproveitando das dificuldades de acesso ao lugar, resistiam às autoridades.

Vencidas as dificuldades de penetração e movido pela importância do lugar, muito cedo fez-se sentir a presença de autoridades.

Tarrafal foi sempre dado como lugar de desterro.

A condição esplêndida do porto fez com que a povoação em nascença crescesse exponencialmente, começando a atrair a atenção de navios estrangeiros que regularmente aportavam-no para aguada, negócios de contrabando e ou saque, com casos de raptos.

O capitão inglês George Roberts, que passou pelos portos de Tarrafal por duas vezes no ano de 1722, deixou um exaustivo relato sobre a situação de pobreza em que encontrou esses portos. E falou muito sobre a hostilidade por que passou no porto do Mangue na segunda viagem, perpetrado por um grupo de mais ou menos 15 escravos desconfiados das intenções dele.

Com casos frequentes de saque, e por vezes de rapto, como foi o caso de Ribeira da Prata em 1737, estando uma balandra inglesa na baía de Mangue em 1739, informado que foi o Ouvidor Geral José da Costa Ribeiro, mandou um contingente de 450 homens da vila da Praia de Santa Maria da Victória, capitaneado por Sebastião Quaresma, que, chegado ao porto de Mangue, travou duro combate com os marinheiros da balandra, sendo todos mortos e o barco apresado e levado para Praia. Um outro caso digno de realce foi a presença de uma outra embarcação inglesa no ano de 1799, também com intenção de saque, mas que foi perseguido pela guarda portuária e população, a escaramuça durou pouco tempo, a embarcação fugiu.

Fazendo Tarrafal parte do concelho de Santa Catarina criado em fevereiro de 1934, pelo prefeito de Cabo Verde Manoel António Martins, ele mesmo, nessa altura reconheceu as baías de Ribeira da Prata, Fazenda e Mangue, como sendo para praias de banho, era o evocar da vocação turística de Tarrafal, e a espaçosa e abrigada baía de Chambom para nela ser construído o principal porto de Santiago, quiçá da colónia, isto foi o despontar da importância do Tarrafal.

Em 1869 a povoação de Mangue passa a ser sede do Concelho de Santa Catarina, contando à época, aproximadamente uma dezena e meia de pequenas casas cobertas de telha, sendo as demais construídas de pedras soltas e cobertas de colmo. A partir desse período teve grande crescimento.

A 2 de Junho de 1869, acontecia a implantação da povoação que viria ser em 1893 a 4ª vila da ilha de Santiago, a 3ª em ordem de criação – Vila D. Maria II.

No princípio da década de 90 do século XIX, o governo francês, através dum súbdito seu, começou a instalação de depósitos de carvão no porto de Mangue – Ponta d’Atim, para isso produziu um mapa da vila e baía deTarrafal.

Segundo Senna Barcellos «A água que existe n’esta última localidade, não é muito boa, mas é de suppôr que com o estabelecimento do já projectado depósito de carvão, se canalise a água de Ribeira da Prata, que é de excelente qualidade, para esse ponto».

O final do séc: XIX e princípio do séc: XX foram de muito crescimento para Tarrafal: cercas para pastagem; edifício da câmara municipal; miradouro Alcatraz; cadeia civil; edifício de alfândega; mercado e matadouro municipais, farol de Ponta Preta; igreja matriz; ponte cais; exploração de jazida de cal; criação do Instituto D. Manuel II…

O Concelho do Tarrafal foi criado em 25 de Abril de 1917, constituído pelas freguesias de Santo Amaro e S. Miguel Arcanjo, com sede em Tarrafal – Vila do Tarrafal. Dessa data até à independência Tarrafal teve crescimento notável: ligação da estrada Tarrafal/Calheta à Praia; instalação da Repartição de Fazenda; implantação da Colónia Penal de Chão Bom; construção da pista de terra batida para avionetas; construção da fábrica de conserva de peixe; construção da praça pública; instalação da central eléctrica; adução de água canalizada à vila; criação do primeiro colonato agrícola de Cabo Verde; implantação da igreja do nazareno; construção da primeira infraestrutura turística do estado no arquipélago; residência do administrador do concelho; edifício da escola preparatória…

3 – Ribeira da Prata

Situado na parte noroeste de Santiago, com o seu extenso vale outrora banhado por um riacho de água prateada, donde lhe vem o nome, vale também bordado de coqueiro, mangueira, bananeira, canavial, laranjeira, papaieira, hortaliças, enfim, muito rico, propiciou desde muito cedo a fixação de moradores transformando-se numa florescente aldeia. O seu acelerado crescimento deveu-se também à sua belíssima, importante e farta baía com praia de areia preta. Seu mar, à mistura com água doce, era rico em peixe e camarão, o que ultrapassava a capacidade de consumo dos aldeãos. A sua riqueza e estratégica localização não escaparam aos atrozes apetites dos contrabandistas que ali não só contrabandeavam como por vezes saqueavam, consoante as circunstâncias, e com alguns casos de rapto, como o que aconteceu com duas moças formosas raptadas em 1737, por piratas ingleses.

A sua importância nesta parte norte de Santiago vinha ganhando cada vez mais expressão, fazendo com que em 1783, o bispo e governador interino de Cabo Verde e distrito da Guiné, D. Frei Francisco d’Ebreu de São Simão, passasse a residir ali, sendo até hoje o mais ilustre inquilino a passar por Tarrafal. Este bispo iniciou ali a construção de um seminário diocesano, seria o primeiro da colónia, e casas de sua residência. Devido a sua morte em Agosto do mesmo ano, o projecto ficou pelo começo. Fosse concluído o projecto Tarrafal seria tão cedo o centro de intelectualidade do arquipélago. Foi enterrado na capela da povoação, sendo seus restos mortais transladados para a Sé Catedral de Ribeira Grande, em 1790, por ordem do bispo que o veio suceder, D. Frei Cristóvão de São Boaventura.

Sendo Ribeira da Prata uma referência histórica para o país e particularmente para Tarrafal, muito procurado pelas suas peculiaridades turísticas (boa praia e magnífico vale), agora elevado à categoria de vila, carece de espaços de referência enquanto tal, por isso, sugere-se a construção de um miradouro no local onde supostamente o bispo havia “tombado” – Ponta Bispo, com colocação de quiosques pré-fabricados para instalações de serviços voltados para o turismo. No mesmo espaço, a marcar a passagem desse ilustre morador do concelho do Tarrafal, erigir-se-ia seu busto, atribuindo ao imaginário miradouro interesse histórico/turístico, aumentando assim o potencial turístico da novel Vila de Ribeira da Prata, que alberga duas das sete maravilhas do concelho – Maria Sevilha e sua praia de areia preta.

Rica em matéria de cultura, tem parido talentosas batucadeiras, e, é torão natal duma figura sonante da música caboverdeana – Beto Dias, sem referir a tradição de tabanca existente outrora nesta comunidade.

Desde muito cedo marcou presença na economia do concelho ganhando maior relevância com a adução de água canalizada de sua nascente para a Vila, e para a irrigação do Colonato de Chão Bom. A boa qualidade da sua água despertou interesse duma empresa francesa que brevemente apresentará à Câmara Municipal um projeto para exploração, engarrafamento e comercialização da mesma.

Tem já em fase de conclusão o primeiro Resort do concelho que segundo promessa do proprietário empregará maioritariamente jovens da localidade.

4 – Porto Formoso

Como o próprio nome diz tem um porto de formosura singular, autêntico abrigo a embarcações de pequeno porte, sobretudo em momento de muito vento. Não obstante a sua natureza recôndita, foi sempre frequentado por navios em busca de abrigo ou para pequenos negócios.

O capitão inglês George Roberts tocou terra e fez negócio com o feitor João Varela, na fazenda deste. Trocaram presentes e o capitão agradeceu a amabilidade do feitor.

Nessa época o feitor estava convencido de que havia mina de prata na região, confidenciou ao capitão inglês que tinha receio que a existência dessa mina chegasse ao conhecimento do rei, que, acontecendo, seria imediatamente expulso daquela região que herdou de seu pai.

Na sua fazenda tinha coqueiro, tamareira, mangueira, citrinos, hortaliças e outros. Possuía escravos e muitos animais.

 

                                                            

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