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COVID-19. Solidariedade, Procura-se!
Ponto de Vista

COVID-19. Solidariedade, Procura-se!

A quarentena obrigatória obrigou muita gente a ir para o desemprego, sobretudo aquelas pessoas que tiravam diariamente, “um dia de trabalho”.

Por exemplo, as vendedeiras, batedeiras, os rabidantes, barbeiros, cabelereiras, lavadores de carros, operários da construção civil, pescadores, as peixeiras, “txapu na mo”, etc., estão agora sem qualquer fonte de rendimento, sendo as respetivas famílias obrigadas, agora, a enfrentarem muitas dificuldades para a sobrevivência.

Há dias, o lavador do meu carro, cuja companheira é empregada doméstica (que agora também está no desemprego) confidenciou-me que a sua família está a sofrer muito, porque até aquele momento, ainda não tinha conseguido nenhum tipo de apoio, que os carros já não circulam e que um vizinho dele tinha recebido a tal ‘cesta básica’ que mal chegou para uma semana.

Um dia ele veio até à minha casa ter comigo. Pediu-me se podia deixá-lo lavar o carro, mesmo que esteja parqueado, uma vez que ele precisava de moeda para comprar papa e leite para o seu bebé. É claro que, na qualidade de pai, eu não podia negar tal pedido.

Ele fez (e bem feito) o seu trabalho e paguei-lhe os 300$00, que era o preço por uma boa doza. Depois de ele se ter ido embora, fiquei a pensar como é que ele se ia desenrascar amanhã, depois e depois… sem me esquecer, também, das muitas outras pessoas que devem estar a viver nas mesmas circunstâncias.

Bem, sabe-se que o Governo e as Câmaras Municipais já anunciaram vários tipos de apoios sociais e até já se iniciou a entrega de cestas básicas. Porém, há várias queixas e reclamações de que em muitos municípios, os apoios, nem sequer chegaram. Dizem também que há muitas situações de injustiça, injúrias, skodjensa e até falta de transparência.

Por outro lado, muitos emigrantes e empresários (com destaque para os chineses que deram kapoti aos nossos empresários) que já se prontificaram em ajudar a socorrer as famílias.

Numa altura em que o Presidente da República se prepara prolongar o Estado de Emergência, à semelhança dos EUA e da maioria dos países da Europa, todas essas famílias supracitadas, e não só, vão ter que, obrigatoriamente, se apertarem ainda mais o cinto.

E devem estar a perguntar-se, nomeadamente:

- Será que as restrições impostas vão continuar ou serão aliviadas?

- Serão permitidas aos profissionais informais a saírem às ruas para procurarem o seu pão de cada dia, desde que sejam respeitadas as regras de distanciamento social, de higiene pessoal e das demais recomendações do Ministério da Saúde?

- Em caso negativo, o Estado teria a capacidade financeira suficiente para garantir a sobrevivência de todas e das demais famílias sem nenhuma fonte de rendimento?

Exemplos de Solidariedade, precisa-se!

Tendo em consideração que ninguém tem culpa pela situação que o mundo atravessa, há necessidade urgente de sermos mais solidários para com os mais necessitados, não esperando que o Estado resolva tudo. Até porque não há recursos suficientes para tal. E os bons exemplos devem ser dados por quem tem mais possibilidades.

Há dias, “os deputados e membros do Governo da Bulgária anunciaram que vão doar os seus salários (cerca de um milhão de euros) ao Ministério da Saúde enquanto durarem as medidas de emergência de combate à covid-19” (in: noticiasaominuto.com).

Na Grécia, “o Primeiro-Ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, apelou há dias aos membros do seu Governo e deputados da maioria a doarem parte do salário aos fundos de ‘combate’ ao coronavírus, seguindo o exemplo da chefe de Estado da Grécia” (in: sapo.cv)

“Na Croácia, ministros doam os salários para ajudar o país” (in: pleno.news).

Aqui em Cabo Verde, nenhum Presidente de Conselho de Administração, Político, Presidente de Câmara Municipal, Vereador ou Deputado se manifestou nesse sentido, mas penso que ainda vai a tempo.

Entretanto os nossos Deputados Nacionais, eleitos para representar o povo, resolveram renunciar as suas responsabilidades (fiscalização do Governo, ainda mais em plena crise social) e suspenderam tudo para também ficarem em quarentena. Porquê que não se optaram pelo regime de teletrabalho já que todos receberam, de borla, portátil, tablet e megas recarregáveis automaticamente?

Portanto, eles abriram mão de todas as suas responsabilidades, mas o salário mensal bruto e variável de cerca de 250 contos não foi renunciado.

Sendo assim, espero que o Governo não esteja a pensar em pedir a solidariedade dos funcionários públicos para doarem parte do seu magro salário a fim de ajudar os mais afetados. Embora se saiba que ninguém se recusaria a essa eventual possibilidade, porém, os bons exemplos devem começar lá de cima.

Enquanto isso, #Nu Fika na Kaza#!

Assomada, 13 de abril de 2020.

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Redação