Ponto de Vista

Foi há cerca de dois meses que divulgaram as primeiras notícias sobre o surgimento de um novo CORONAVÍRUS, que se veio a apelidar-se de COVID-19.

No início pensava-se, que era um vírus menos perigoso do que o da gripe. Tendo em conta que esse vírus teve epicentro numa cidade de um país muito distante, o mundo ocidental não se preocupou. Até porque os governantes estavam muito ocupados com questões políticas internas (debates parlamentares, visitas aos círculos eleitorais, festas, viagens…), por isso não havia motivo, nem tempo na agenda para se preocuparem com o assunto.

Entretanto, pessoas começaram a morrer e rapidamente esse vírus começou a espalhar-se para outros países.

O mundo começou a acordar!

O mundo começou a acordar, quando se soube que esse vírus era realmente diferente e muito perigoso; que a sua facilidade de propagação é muito maior; que se pode contagiar por um simples aperto de mãos; que milhares de pessoas estavam a ser infetadas.

O mundo acordou, quando se viu o número diário de mortes na China e quando se viu o governo chinês a adotar medidas radicais de contenção desse vírus (encerramento de escolas/universidades, quarentena obrigatória a milhões de pessoas, construção de hospitais em dez dias…).

O mundo ficou mesmo acordado quando viu que, estranhamente, o vírus não era racista e que estava a espalhar-se para vários países do mundo.

O mundo está agora acordado porque o vírus já está em França, Itália, EUA, Alemanha, Canadá, Espanha, Reino Unido, Luxemburgo, Suíça, Portugal...

E agora o mundo não consegue dormir por causa do número diário de mortes na Itália e o país inteiro em quarentena.

Agora o mundo está parado!

O mundo, hoje, para além de acordado, está paralisado, porque tudo está fechado.

Não há futebol, nem espetáculos, nem cultos religiosos e as escolas já anteciparam as férias.

Perante esses factos a OMS foi obrigada a declarar COVID-19 como PANDEMIA e talvez a epidemia do século.

 E Cabo Verde? Estamos a prevenir ou vamos remediar?

 Enquanto que lá fora as medidas vão-se radicalizando (quarentenas obrigatórias e até há países a fecharem as suas fronteiras), aqui, continuamos na discontra e muitos crioulos continuam com a crença de que esta pandemia pode não atingir o país, porque acreditam na teoria de que a pele da raça negra é resistente a esse vírus ou que em temperaturas superiores a 27º, o vírus não consegue resistir.

Medidas avulsas surgem aqui e ali.

O governo e alguns municípios já se acautelaram em cancelar eventos culturais internacionais e festivais para evitar a presença de pessoas eventualmente infetadas que viriam do estrangeiro. Muitos críticos aplaudem essa medida e até sugerem o uso do dinheiro dos festivais para apoiar os hospitais.

Paradoxalmente, todos os dias entram em Cabo Verde dezenas de turistas, migrantes e passageiros vindos de países afetados.

Todos os fins de semana continuamos a assistir espetáculos de kotxi po em bares, polivalentes e discotecas, nesses mesmos municípios que anunciaram o cancelamento desse tipo de eventos.

Face a todo esse cenário devastador, estamos a prevenir ou vamos remediar?

P.S.

No Liceu Amílcar Cabral há cerca de 3000 alunos e mais de 200 professores.

Há familiares emigrantes de S. Catarina em todos os países europeus afetados pelo Coronavírus.

Muitos deles já estão a antecipar as férias por causa dessa pandemia. Não seria uma boa medida se o Ministério de Educação antecipasse as férias do segundo trimestre?