Ponto de Vista

Carta Aberta.

Prezadas companheiras e prezados companheiros

OS MESMOS DE SEMPRE, que nos últimos anos têm vindo a enganar a militância e a virar as costas aos simpatizantes e amigos do MpD, VÊM MAIS UMA VEZ DIZER - COM O MAIOR DESPLANTE! - QUE AGORA É QUE VAI SER, que a liderança vai ouvir as bases e abrir o Partido à livre expressão das ideias.

Os culpados pela maior derrota eleitoral do MpD e o primeiro presidente do Partido a perder umas eleições autárquicas, não só não assumem as suas responsabilidades como procuram atirar o ónus da derrota para os municípios e os candidatos por si impostos nas eleições de 01 de dezembro. É de uma grande desfaçatez!

Toda a gente já percebeu que o resultado das eleições autárquicas foi um enorme cartão vermelho a Ulisses Correia e Silva e ao governo, só não perceberam (ou fazem-se distraídos) os que têm vindo a liderar o Partido nos últimos 12 anos.

UMA OPORTUNIDADE ÚNICA

Os militantes e simpatizantes têm, agora, uma oportunidade única de trazer de volta o MpD, nomeadamente, exigindo, desde logo, que os responsáveis pela derrota tenham a dignidade de colocar os respetivos cargos partidários à disposição, a realização de uma Convenção Nacional Extraordinária e a realização de eleições internas para escolher o próximo presidente do Partido. Umas eleições que sejam organizadas com seriedade e não como a farsa de abril de 2023.

É isso que, também, devem ter presente os membros da Direção Nacional que irão reunir a 11 de janeiro, uma data escolhida para tentar esconder as responsabilidades da atual liderança, adiando decisões que deveriam ser tomadas logo no rescaldo das eleições.

Quero relembrar, mais uma vez, que nos últimos dois anos, enquanto deputado e no decurso das eleições internas de abril de 2023, venho alertando a liderança do MpD para a necessidade de fazer uma remodelação governamental, reduzindo o número absurdo de membros do executivo e promovendo reformas estruturais para o País, mas também reduzindo substancialmente a máquina do Estado. O líder do Partido e primeiro-ministro nunca ligou às minhas preocupações e, mais grave que isso, nunca entendeu os evidentes sinais que vinham da sociedade. Se me tivessem ouvido, se tivessem escutado a sociedade e os lamentos do povo, seguramente, não estaríamos hoje confrontados com a maior derrota eleitoral do MpD.

Esta é uma verdade que nem com mentiras pode ser ocultada! As pessoas sabem que sou do MpD desde a primeira hora e nunca saí das suas fileiras, ao contrário de muitos oportunistas que, agora, se fazem passar por guardiões do Partido!

Ulisses Correia e Silva e o seu círculo mais íntimo são um corpo avesso aos questionamentos da militância e da cidadania, embora agora tentem disfarçar com novas promessas que nunca irão ser cumpridas!

Durante quase 12 anos, esta liderança autocrática do MpD descaracterizou o Partido, impediu o debate interno e substituiu a democracia por uma legião de batedores de palmas e cabos eleitorais. E, mais ainda, contra todos os princípios republicanos e democráticos, fraudou as eleições internas e promoveu a delinquência, com o descarregamento generalizado de votos.

TRAZER DE VOLTA O MPD

O MpD tem que voltar a ser um partido verdadeiramente democrático, em conformidade com a sua origem, essência e objetivos que se baseiam na democracia, liberdade, desenvolvimento, justiça social e defesa intransigente da dignidade da pessoa humana.

Os militantes, amigos e simpatizantes do MpD, devem lutar contra o exercício do poder baseado na tomada de decisões por alguns dos principais dirigentes, à porta fechada e nas costas da maioria dos membros do Partido.

É necessário que o MpD retome o compromisso político responsável, devendo prevalecer nas relações do Partido e dos seus militantes com a sociedade, o Estado e a comunicação social.

Não se deve permitir que o MpD seja um partido de classe nem de aparelho e, por isso mesmo, é urgente que seja resgatada a ligação estreita entre os órgãos nacionais, as estruturas intermédias e as bases.

DEVOLVER O PARTIDO AOS MILITANTES

As bases do MpD devem ser reorganizadas para poderem funcionar de forma eficaz e serem o centro das decisões políticas.

É preciso pôr fim ao abandono a que as bases do MpD estão sendo submetidas pela atual liderança do Partido, excetuando nos períodos eleitorais.

É em defesa destes princípios que nos devemos unir!

EM DEFESA DA CULTURA REPUBLICANA

A atual liderança promoveu, reiteradamente, uma entorse da democracia interna, que se iniciou 2013, e foi-se desenvolvendo ao longo dos últimos anos, procurando afirmar a figura de um líder incontestado, uma figura providencial sem a qual o MpD, inevitavelmente, estaria historicamente condenado a contabilizar derrotas consecutivas e o resultado está à vista. Instalou-se o culto da personalidade, da fulanização da política em oposição à cultura republicana e aos princípios da democracia. E isso é inaceitável.

Pelo contrário, defendo uma liderança do MpD colegial, partilhada, plural e intergeracional, onde todos e cada um tenham o seu lugar, contando com o contributo da experiência de todos os militantes, de autarcas e ex-autarcas, dos responsáveis partidários de hoje e de ontem, em simbiose com a irreverência e a ambição dos jovens.

Acreditamos que o MpD é um Partido com futuro, mas que precisa de regressar aos seus princípios identitários e à sua origem histórica. Princípios e uma cultura republicana que estiveram na origem da sua fundação.

Só trazendo de volta o MpD, poderemos ultrapassar este momento difícil e enfrentar novos combates políticos!

Orlando Dias

Deputado Nacional

* Artigo publicado originalmente na página do autor no facebook