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Acupuntura urbana. Apropriação e transformação por via do espaço verde
Ponto de Vista

Acupuntura urbana. Apropriação e transformação por via do espaço verde

Este artigo de opinião é realizado no âmbito do Doutoramento em Urbanismo, que está a decorrer no Departamento de Arquitectura e Urbanismo da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa.

O título do trabalho, Acupuntura urbana, trata-se de uma abordagem pontual, muitas das vezes temporários, num curto período de tempo, de baixo custo e que produzirem um impacto transformador no território e nas pessoas, uma das mais elementares forma de dar uma reposta aplaudível durante a fase de elaboração de qualquer plano de uma cidade. O subtítulo escolhido, A apropriação e a transformação por via do espaço verde, indica a preocupação da identificação do espaço degradado, analisá-la, adaptar a necessidade local e dar uma nova utilização condigna dos espaços, pela integração urbana e social, sempre devemos levar em consideração pela protecção da memória de uma forma inovadora. Mostra também o desejo de contribuir para uma nova forma de abordagem territorial, principalmente quando há falta de recurso financeiro, criando assim sempre uma sintonia entre público e privado.

Pequenas intervenções são capazes de desencadear uma reacção em cadeia e em simultâneo de melhoria na qualidade do ambiente urbano adjacente, além de aumento na coesão social e na segurança pública.

Jaime Lerner um político, arquitecto e urbanista brasileiro, um defensor nato desse conceito e segundo o mesmo. “Muitas vezes o planeamento de uma cidade toma tempo e precisa tomar tempo, mas isso não impede que sejam feitas algumas intervenções no sentido de criar uma nova energia”.

A acupuntura urbana é um conjunto de acções pontuais e de revitalização que podem mudar progressivamente qualquer ambiente na cidade e melhoria de condições de vida das populações. Esses tipos de intervenções na malha urbana ajudam no acompanhamento, crescimento e desenvolvimento sustentável de uma forma instantânea, eficaz e funcional das cidades.

A importância cultural e urbana atribuída ao verde urbano, ao espaço semipúblicos e aos espaços públicos, através de experiencia e um olhar atento permite constatar a relação do ambiente urbano e da qualidade de vida por exemplo da cidade do Tarrafal de Santiago, onde nasci e permaneço até os dias de hoje.

Relativamente à importância representada pelos jardins, praças e corredores verdes para o seu frequentador, revela-se só e exclusivamente quando ela própria se confunde e se identifica com a própria cultura de vida do utente, ou seja, quando este consegue, retrospectivamente, compreender a sua ligação com o lugar.

Jardins, praças e corredores verdes, muita delas ainda numa fase muito embrionárias, com os apontamentos no documento dito plano, sem nenhum critério estabelecido, seriam, também, os que teriam sido ou pretenderiam ser concebidos à imagem de um determinado bairro e dos seus habitantes, existindo outros que poderiam ser edificados em qualquer espaço da cidade, onde a ligação indivíduo/jardim se torna mais fácil e integrada, ainda existem essas possibilidades.

As urbanizações no Tarrafal de Santiago foi e esta a ser promovida de uma forma muito fragmentada, que permitem grandes vazios urbanos sem sentido racional e esses vazios servi de depósito de todo o tipo de lixos, por sua vez contamina o ambiente e proporciona uma má qualidade de vida aos moradores e não só.

Dessa forma encontramos extensivas ocupações do território sem ser consolidada, isso acarreta grande desperdício do território, financeiro e tempo ou grandes problemas para o território em que tem a ver com a descontinuidade territorial, infra-estruturas fragmentadas, sistema edificados descontínuo e isolada entre si, provoca gueto, desequilíbrio ambiental e carência da urbanidade.

A praça na zona de Perdigoto/Chão Bom/Tarrafal de Santiago “Praça de Tchabeta”

Uma praça de autoria do malogrado Arquitecto Roberto Fernandes, cujo principal objectivo era combater contra o despejo do lixo em um local adjacente as moradias e de muito acesso por parte dos moradores e dos visitantes.

Este nome por ser um dos activistas principal na mediação para a realização deste projecto já tinha um espaço público com o nome “Disco Tchabeta”, com isso demonstra a ideia de pertence, de integração e desejo de constituir a identidade do bairro, através do nome.

A Praça é um exemplo perfeito e ousado, implantado em um terreno urbano em que já tinha sido contaminado, por ser utilizado como depósito de todo o tipo de lixo, durante muitos anos.

Era insuportável conviver com essa situação, por ser um espaço muito próximo das moradias e de ligação das mesmas. Os moradores organizaram-se entre si, em parceria com a Câmara o projecto foi executado na íntegra, para poder ter maior integração foi construída vias de acessos e reabilitação das fachadas dos edifícios envolventes e entregue oficialmente aos cuidados dos moradores.

A equipa técnica que projectou e executou o projecto, tirou partido das condições favoráveis que permitira construir este equipamento por um preço abaixo da média do mercado e constitui um projecto altamente experimental.

A praça na zona de Cabeça Carreira/Chão Bom/Tarrafal de Santiago “Praça de Pedra Bica”

Uma praça pensado, projectado e executado por mim, durante o meu percurso enquanto responsável da obra na Câmara Municipal Tarrafal de Santiago, entre a ano 2003 a 2013. Os propósitos eram de: garantir a ligação pedonal entre a estrada nacional e um aglomerado de população; ligar a com via viária a uma moradia em que há muitos anos tinha garagem, mas faltava o acesso; eliminar a prática de depósito de lixo num espaço contíguo a habitações e lugar de passagem e de ter a única praça e espaço com árvores na comunidade de Cabeça Carreira.

É patente que o projecto resolveu a 100% do propósito inicial: Conseguimos a ligação pedonal; a ligação viária a moradia foi resolvida; eliminarmos a prática de depósito de lixo no local da implantação da mesma e a comunidade local ganhou a sua primeira praça e espaço com árvores.

Hoje a comunidade apropria da praça, cuida e tira o proveito da mesma como uma peça integrante e primordial na vida do quotidiano, dando lhe o nome de “Pedra Bica” nome esse de um antigo espaço de encontro dos jovens e não só que não tinha recursos financeiros e acontecia sempre de uma forma informal e espontânea.

Orla Marítima/Chão Bom/Tarrafal de Santiago

Este projecto foi elaborado no âmbito do Plano Detalhado de Chão Bom Litoral, desde ano de 2007, sem uma única intervenção no sentido de colocar a parte pública na prática, tais como: Corredor verde; pedonal; via para ciclóvia; passeio; via viária; espaço desportivo; reposição de areia; infra-estruturas e equipamentos de apoio a actividade de lazer, exceptuando a parte de construção individual.

O referido plano é uma prova cabal de que a acupuntura nas cidades constitui uma acção necessários e de extrema importância, principalmente nas cidades com pouco recursos financeiros.

As áreas verdes nos proporcionam diversas contribuições para o meio ambiente e para o bem-estar social no que se refere a questão urbana. As funções que esses espaços exercem e os benefícios providos são extensivos e múltiplos.

A variedade e multifuncionalidade de uma área verde significam que ela pode proporcionar os mais variados benefícios aos usuários diferentes e com resultados diversos. As áreas verdes urbanas e rurais têm um papel importante em relação à qualidade de vida de seus habitantes e são essenciais na formação da identidade da comunidade, porque dão forma, forma uma característica único e nos remete para uma boa imagem de um bairro ou de uma cidade.

Existem uma grande variedade de tipos, estruturas e formas dentro do tecido urbano. O reconhecimento de suas funções, benefícios e valores não significa, entretanto, que o desenvolvimento de áreas verdes goze de uma posição privilegiada na agenda política. As razões para essa pouca influência política podem ser várias - à luz das experiências nos projectos em cima mencionados.

No entanto, observa-se que os factores sócio-ambientais e políticos interferem directamente na percepção dos cidadãos. Há, entre a cidade do Tarrafal de Santiago e a Vila de Chão Bom, uma absoluta diferença na frequência de visitas a jardins, na satisfação com os espaços verdes e na escolha dos benefícios, quando considerado o conjunto de atributos.

O uso e a satisfação com os espaços verdes da cidade e a valorização de benefícios ambientais, no seu conjunto, por parte dos cidadãos, revelam o reconhecimento da importância desses locais para a qualidade do meio urbano e das acções públicas municipais desenvolvidas, apresentando um consenso entre as esferas pública e popular. As particularidades locais, como a inserção de uma parte significativa do município na Área de Preservação Ambiental, parecem interferir de forma positiva no reconhecimento dos benefícios e da importância desses espaços.

Já a baixa frequência de visitas a jardins e parques públicos, a insatisfação com os espaços verdes urbanos da cidade e próximos da residência, e a valorização dos benefícios sociais e culturais por parte dos cidadãos, constituem um reflexo negativo das políticas e acções adoptadas pela gestão municipal.

Constata-se, portanto, que há, entre cidade do Tarrafal de Santiago e a Vila de Chão Bom, uma absoluta diferença: enquanto na cidade do Tarrafal de Santiago há um consenso entre as esferas pública e popular, na vila de Chão Bom, há um contraste.

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Redação