A geopolítica do mar e da água (Parte II)
Ponto de Vista

A geopolítica do mar e da água (Parte II)

...embora haja uma constante discussão sobre a produção, a distribuição e a qualidade da água que tem sido um dos grandes desafios das políticas governamentais; falta-nos ver para além do óbvio. O para lá do percetível é compreender dois fatores fundamentais: o primeiro, transformar a solução de uma ameaça (a solução nacional de produção e distribuição da água) num fator de especialização, comercialização e competitividade. E o segundo, atender todo o mercado da sub-região africana onde nós fazemos parte. Esta segunda parte só é compreendida e vista como algo concretizável se Cabo Verde der dois passos em frente - assumir a CEDEAO como uma região vital e ter a Guiné-Bissau como um parceiro natural de desenvolvimento (o salto qualitativo) do país. Devemos ter a capacidade de enxergar o potencial da sub-região e adaptarmos ao mercado onde somos partes integrantes da família.

A água potável devia ser o nosso mais estratégico recurso de sobrevivência e de desenvolvimento do arquipélago. Mas, ao contrário do que é expectável, a água, que é a razão da nossa independência, nunca foi o mais estratégico recurso da nossa política externa. Para Cabo Verde, para além das razões económicas e de produção nacional para os setores como o da agricultura, da indústria, da geração de energia, a água além de ser essencial para a sobrevivência humana é a maior ameaça à existência do Estado cabo-verdiano ­ e quando assim é, todo Estado pragmático traça sobre a ameaça a demarcação do seu Interesse Nacional. 

Reconheço, que embora haja uma constante discussão sobre a produção, a distribuição e a qualidade da água que tem sido um dos grandes desafios das políticas governamentais; falta-nos ver para além do óbvio. O para lá do percetível é compreender dois fatores fundamentais: o primeiro, transformar a solução de uma ameaça (a solução nacional de produção e distribuição da água) num fator de especialização, comercialização e competitividade. E o segundo, atender todo o mercado da sub-região africana onde nós fazemos parte. Esta segunda parte só é compreendida e vista como algo concretizável se Cabo Verde der dois passos em frente - assumir a CEDEAO como uma região vital e ter a Guiné-Bissau como um parceiro natural de desenvolvimento (o salto qualitativo) do país. Devemos ter a capacidade de enxergar o potencial da sub-região e adaptarmos ao mercado onde somos partes integrantes da família. 

Dados que não podemos desprezar, especializando na produção industrial da água, Cabo Verde estará em condições de resolver a questão nacional da sobrevivência do Estado; e ao mesmo tempo desenvolve-se uma indústria que pode ser exportada numa das áreas com maiores níveis de stress hídrica do mundo atualmente. A região semiárida do Sahel e da CEDEAO sentirá a pressão do crescimento populacional, de acordo com o estudo Universidade de Washington, a população mundial irá começar a diminuir a partir de 2067, mas, na África Subsaariana a população triplicará, passando de 1 bilhão em 2017 para 3 bilhões em 2100, com a Nigéria sendo único entre os 10 países mais populosos do mundo a ver sua população em idade ativa crescer ao longo do século (de 86 milhões em 2017 para 458 milhões em 2100).

Se estes dados não forem relevantes o suficiente para ao menos nos levar a refletir, podemos terminar aqui o nosso projeto de construção do Estado de Cabo Verde, por que passados 45 anos de independência, as autoridades públicas ainda não perceberam a importância da água como o mais importante recurso de sobrevivência do arquipélago e a maior ameaça à sobrevivência do Estado. Se não estamos em condições de transformar a nossa fraqueza, em nossa pujança econômica devemos também deixar aquela bazófia de que somos o mais inteligente dos africanos. 

Estas são as razões fundamentais para a inclusão da água como um dos fundamentos da estratégia da geopolítica nacional. Na medida em que, a água tem implicação direta no processo de manutenção do Estado, da sobrevivência e do desenvolvimento de Cabo Verde, como também para ajudar assegurar nações com sérias discrepâncias entre a constante hidrológica e a curva populacional ascendente de alguns países do nosso espaço da integração africana. E por fim, na perspetiva de alguns analistas, este aumento de consumo de água e as causas do stress hídrico serão os focos das próximas disputas internacionais,  inseridas na luta pelo controle das grandes reservas de águas existentes, havendo quem considere que o século XXI será dominado pelos conflitos pela água. Por assim dizer, abre-se as portas para o futuro.

 

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SOBRE O AUTOR

Rony Moreira

Poeta, escritor, sociólogo, cronista

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