O Presidente da República, José Maria Neves, apontou hoje um “mar de razões” para o país estar a assinalar 48 anos da independência, como um “crescimento material visível”, mas entendeu que precisa de um “forte crescimento espiritual”.
“As conquistas são inegáveis e o crescimento material é visível. Porém, para que também seja mais inclusivo e durável, terá que ter, como simetria, um forte crescimento espiritual”, afirmou o chefe de Estado, ao discursar na sessão solene da Assembleia Nacional comemorativa do 48.º aniversário da independência de Cabo Verde.
O mais alto magistrado da Nação cabo-verdiana manifestou a sua preocupação pelo aumento da taxa de pobreza extrema, insegurança alimentar, desigualdade social e que 29,2% de jovens entre 15 e 35 anos estejam sem emprego, fora do sistema de ensino ou formação.
“Isso constitui motivo de elevada preocupação, devendo merecer toda a atenção possível de todos os órgãos de soberania, a começar por esta câmara dos representantes do povo, das autoridades competentes e da sociedade civil, sob pena de consequências futuras eventualmente nefastas”, alertou.
Para Maria Neves, os 48 anos de independência e os 32 anos de democracia exigem “um outro patamar de desenvolvimento espiritual” em Cabo Verde, onde espera “outros hábitos mentais, outros costumes”.
O Presidente mostrou-se ainda preocupado com as incivilidades, sobretudo com a destruição do património público, dizendo que isso “envergonha a todos”.
“O desrespeito pelo que é comum a todos, verifica-se tanto a nível material como espiritual. As pessoas mais velhas, os professores, os vizinhos, os colegas de escola e de trabalho, os outros, afinal, nem sempre têm sido alvo do devido respeito”, constatou, mostrando-se igualmente preocupado com os níveis de violência e insegurança, sobretudo nos maiores centros urbanos.
“Há muita coisa a ser revista para se resgatar aquela sociedade de sã convivência que já tivemos no passado. As práticas que corroem os alicerces da boa convivência e da sanidade da nossa sociedade devem ser eliminadas”, entendeu.
Relativamente à Administração Pública, disse que carece de criação de uma “cultura de radical transformação”, imparcialidade e de universalidade, para que o país possa ser “realmente desenvolvido”.
José Maria Neves chamou a atenção para a necessidade de autonomização e independência de algumas “áreas sensíveis” da Administração Pública, como as inspeções, entendendo que devem ser para melhorar o desempenho do órgão inspecionado.
“Espera-se que este instrumento não seja usado como arma de arremesso político e que, aparentemente, não haja dois pesos e duas medidas”, pediu, sem ser específico, mas poucos dias após polémica sobre os relatórios dos fundos do Ambiente e do Turismo.
“Assim se defende a credibilidade e a legitimidade de relatórios produzidos, e a sua aceitação por todos, principalmente, se a sua publicação for tempestiva e não deferida no tempo. Com coerência, não se pode embasar práticas que, em circunstâncias anteriores, foram combatidas ou criticadas”, advogou.
O chefe de Estado mostrou-se ainda preocupado pelo facto de, nos últimos anos, o país ter vindo a perder muitos jovens, muitos deles altamente qualificados, que têm optado pela emigração.
“Insto às universidades e aos investigadores a estudarem esse fenómeno e a deslindarem as causas e os impactos na academia, no tecido empresarial, no mercado de trabalho, na produtividade e na competitividade do país e na formação das políticas públicas”, pediu, confiando, ainda assim, que nos próximos 50 anos será possível Cabo Verde “ganhar o futuro”.
Discursaram ainda os representantes dos partidos políticos com assento parlamentar e o presidente da Assembleia Nacional, numa cerimónia assistida por membros do Governos, altas individualidades do Estado, corpo diplomático, empresários, confissões religiosas e sociedade civil.
Foto: Presidência da República
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