O Presidente da República, José Maria Neves afirmou hoje, em Lisboa, que existe no país “alguma crispação” entre o Governo e a oposição e defendeu consensos sobre o que é essencial para acelerar o desenvolvimento do arquipélago.
“Está mais difícil a construção de consensos. O que eu acho que precisamos no país é de uma maior disponibilidade para o diálogo, para a busca de consensos sobre o que é essencial para acelerar o passo no processo de desenvolvimento do país”, disse José Maria Neves à agência Lusa em Portugal, onde se encontra para participar nas cerimónias dos 50 anos do 25 de Abril.
O chefe de Estado e ex-primeiro-ministro disse que gostaria de ver “uma maior abertura ao diálogo, à negociação, à busca de entendimentos, de compromissos”.
“A democracia é divergência, mas é também a possibilidade de entendimentos, de consensos, para responder com mais efetividade às exigências e às demandas dos cabo-verdianos”, referiu.
Para José Maria Neves, “as pessoas em Cabo Verde, sobretudo as lideranças políticas, precisam de reaprender a discordar e a criar as condições para haver mais acordos”, referindo-se nomeadamente “ao relacionamento entre o Governo e os partidos da oposição, mas também na formação de políticas públicas para responder aos desafios e às exigências das pessoas”.
“Há muitas políticas em Cabo Verde, reformas no domínio da educação, da saúde, da segurança social que demandariam com certeza consensos; aspetos relacionados com o ordenamento do território, a toda a política externa cabo-verdiana, que demandariam claramente consensos mais alargados”, disse.
Sobre a “crispação” atual, o chefe de Estado disse que a mesma resulta do “sistema quase bipartidário” que existe em Cabo Verde, cujo funcionamento “tem ingredientes que levam a alguma polarização”.
Sobre o percurso traçado pelo país nos últimos 50 anos, o Presidente da República indicou que Cabo Verde fez “razoavelmente bem” o que devia ter feito.
“Temos de introduzir mudanças radicais e construir novos paradigmas de governança, de formação das políticas públicas e de construção do desenvolvimento”, acrescentou.
“Cabo Verde tem neste momento o desafio de alcançar o nível de um país desenvolvido”, disse, apontando a educação, a saúde e a segurança social como setores em que se registou investimento, mas que é preciso melhorar “do ponto de vista qualitativo”.
Questionado sobre a imagem que guarda de Cabo Verde antes do 25 de Abril, José Maria Neves descreve a “dramática escassez de água, uma grande secura de tudo. O ambiente era desolador, mas também a falta de liberdade de expressão, que levava a uma grande secura espiritual”.
“O 25 de Abril abriu caminho à democracia em Portugal e ao desenvolvimento e às independências das ex-colónias portuguesas que conquistaram o direito a escrever a sua própria história”, disse.
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