Entrevista

Santiago Magazine: As relações comerciais entre Cabo Verde e República Checa são pouco conhecidas aqui. Quando e como surgiu a Câmara de Comércio que a senhora preside?

Mónica Sofia Duarte: Sinto a necessidade de dar o meu contributo, a minha participação no desenvolvimento do meu país. Deste modo, surgiu a Camara de Comercio Checo Cabo-verdiana cuja missão é impulsionar as relações bilaterais entre os Estados de Cabo Verde e da República Checa e Eslovaco, pela via da diplomacia económica, da força da juventude e da dinâmica energética voltada para a eficiência, no âmbito da cooperação comercial, cultural, educacional e do turismo.

Que resultados esta relação comercial tem amealhado ao longo desse período da sua criação?

Em 2021 com esforço e muita luta conseguimos ter o primeiro voo a Cabo Verde em plena pandemia que foi o voo do dia 5 de fevereiro, que era para ser antes, mas não conseguimos, mas quando foi possível, foi um sucesso e agora estamos a lutar para que a Câmara do Comércio Checo-Caboverdiana  consiga ter o primeiro voo de Praga para a cidade da Praia, será um sucesso-  Cabo Verde sem turismo é um Cabo Verde sem rosto. Em Maio de 2021 realizou-se o primeiro fórum de Investimento de Impacto e de Negócios Sustentáveis entre Cabo Verde República Checa, com o intuito de promover relações económicas entre os dois países. Temas como Agricultura, Água, Nanotecnologia, Construção do novo hospital, Turismo, últimos investimentos externos em Cabo Verde, produção de vitaminas e suplementos, Micro finanças, Educação, entre outras áreas importantes, foram discutidas durante o online meeting e o fórum contou com a presença de diversas personalidades, membros do Governo checo e cabo-verdiano.

Conseguiu-se a mobilização de recursos para um investimento de mais de 7 milhões de euros para Cabo Verde. Resultado de uma parceira entre a Camara de Comercio Checo - Cabo-verdiana na promoção do turismo local, turismo imobiliário nas ilhas de Santiago, Maio, Sal, Boavista, Fogo, São Vicente e São Nicolau. Favorecendo a geração de empregos aos jovens cabo-verdianos. A visita dos Cluster da União Europeia a Cabo Verde para financiar projetos ligados ao sector das energias renováveis.

Durante a pandemia da Covid 19, a juntamente com a fundação Nadeje Cabo Verde oferecemos ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, ao Ministério da Saúde, Ministério das finanças e à Embaixada de Cabo Verde em Portugal, a protecao civil de Cabo Verde materiais e equipamentos de combate à Covid 19 de valores superiores a 120 mil euros. Foram alguns materiais e equipamentos doados, os seguintes: 1 ventilador, 1 ozonizer a proteção Civil de Cabo Verde, milhares de respiradores, máscaras, álcool gel, luvas, toalhitas desinfetantes, viseiras e uma ambulância nova e equipa a ilha de São Nicolau;

A Câmara do Comércio tornou-se o principal canal de comunicação entre o governo de Cabo Verde, agencias de viagens e turistas durante a crise do coronavírus. Diariamente dezenas de pessoas entraram em contacto a Camara com pedidos de informações e foram ajudados na tradução dos testes. A ČKOK esteve também envolvida na renovação dos voos para Cabo Verde e na promoção de Cabo Verde como destino ideal para os residentes da Europa Oriental. Investiram não só́ dinheiro, más também muito tempo na promoção, e já estamos a ver os resultados. Enquanto há alguns anos atras Cabo Verde não era muito popular na Europa Central, hoje Checos, Eslovacos, Polacos e Húngaros estão entre os visitantes mais frequentes de Cabo Verde e este ano estima-se que mais de 90.000 visitarão o país .

Para que se conheça as belezas de Cabo Verde, a Camara do Comercio enviou uma conhecida viajante checa Cestuji za KAČKU, senhora Katerina Ostra  para Cabo Verde, visitou as ilhas do Sal, Boa Vista, Santiago, São Vicente e Santo Antão Sao Nicolau e Brava, promovendo o arquipélago no seu todo aqui na Republica Checa

Câmara do Comércio Checo-Cabo-verdiana ofereceu se o primeiro condensador de agua , através da energia solar a Camara Municipal de Santa cruz e mais  estarão na FEIRA CHECA EM CABO VERDE de 22 a 24 de setembro, um solução ideal para o combate a escasseeis de agua em Cabo Verde.

Promoveu a visita e parceira de colaboração comercial e turística entre o Município de Ribeira Brava de São Nicolau e a Cidade de Vsetin, na República Checa etc.

O que é que espera da feira que agora vai acontecer na cidade da Praia?

A realização da FEIRA CHECA é importante para a criação de novas oportunidades, favorecer sinergias e para os empresários cabo-verdianos em particular, apresentarem os seus projetos e estabelecerem contactos e parcerias. Espera-se mobilizar e acelerar os investimentos do sector privado e dos investidores privados na implementação de projetos catalíticos que conduzam ao crescimento económico, ao desenvolvimento sustentável e à de geração de empregos aos jovens cabo-verdianos. A FEIRA CHECA EM CABO VERDE 2022 sob o lema Cabo Verde como a “Porta dos Empresários checo a Africa” irá certamente contribuir para a  mobilização dos recursos financeiros e criar uma nova perspetiva para o setor privado e os Investimento Direto Estrangeiro da República Checa em Cabo Verde.

Como tem sido a abertura de Cabo Verde na realização desta feira?

Tem sido uma tarefa complicada convencer as empresas cabo-verdianas a aderirem a feira, sinto uma falta de confiança, motivação, ousadia e esperança enorme por parte dos empresários cabo-verdianos.  Espero poder contar com a presença dos jovens cabo-verdianos na feira, a entrada é livre desde que apresentam se formalmente vestidos ou com um look business, ou seja, vestidos para fazer negócios.

Se for desafiada a convencer investidores, o homem de negócios a participarem na feira quais seriam os seus argumentos?

Convenci os investidores checos a participarem na Feira porque fiz lhes verem Cabo Verde como porta de entrada ao mercado africano (continente do futuro) e FCCV22 irá seguramente adensar a relação   comercial que existe entre República Checa e Cabo Verde. O maior evento de promoção, comercial, turístico, comercial e cultural organizado até agora entre a Cabo Verde e Republica Checa. Quer deixar os checos conhecerem os seus produtos, projeto, trabalhos ? A FCCC22 é uma oportunidade inédita que não pode perder. O potencial não existe, não gosto da frase ‘’temos potencial’’ não temos potencial,  o potencial se cria, se desenvolve com fatos.

E os visitantes, jovens, o que é que lhes diria?

Ter sucesso significa, muitas vezes, tirar aprendizado daqueles que já atingiram os seus objetivos. As empresas, empresários ou expositores da feira, a maioria deles não estão aí para ganhar dinheiro em Cabo Verde, são empresas ricas, participam porque querem contribuir para o futuro sustentável dos jovens cabo-verdianos e africanos. Jovens cabo-verdianos, chegou o momento de tomar atitudes, o mundo está cheio de boas ideias, mas o sucesso vem apenas por meio da ação.  A maneira mais fácil de iniciar algo é deixar de apenas falar e começar a agir. Isso vale também para o seu sucesso.

Quais são os programas e projetos da instituição que dirige para o desenvolvimento de parcerias futuras entre os dois países?

Trabalhamos no sentido de estabelecer um G2G oficial entre Cabo Verde e República Checa de forma a atrair mais investimentos entres ambos os países. Faz falta um acordo de dupla tributação e proteção de investimento que venho solicitando, já vários anos, o Ministério dos Negócios Estrangeiros apoios e aguardamos pela resposta. Temos planeado várias feiras e fóruns de investimentos que iremos realizar durante pelo menos 5 anos em diferentes países como a República Checa, Eslováquia, Polonia e Hungria.  Projetos e soluções inovadores serão apresentados na FCCV22 pelas nossas empresas membros e associados, projetos como soluções para tratamento de resíduos, principalmente hospitalares, escasseeis de água, produções de aviões, energias eólicas, aumento da capacidade das empresas cabo-verdianas produzirem mais e exportar mais para fora do pais, turismo rural, turismo imobiliário, produção de vitaminas, cosméticos etc.

Ao longo deste percurso, quais os constrangimentos mais comuns que enfrentou?

Até 2013 mais de 90 % dos checos não conheciam Cabo Verde. Não foi uma tarefa fácil introduzir Cabo Verde. Gostaríamos de poder contar mais com os nossos governantes principalmente com Ministério dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde que ignoram os nossos contactos, email, trabalhos e tudo que fazemos no sentido de estabelecer e desenvolver as relações entre os dois países que é uma necessidade. Sem falar que os cabo-verdianos residentes na República Checa nem sequer fazem parte das diásporas, não podem votar e quando se trata de renovar documentos ou procurações temos que deslocar a Alemanha ou Bélgica para obter tais serviços.

Se o Governo lhe pedir pareceres nos domínios da cooperação económica e comercial, qual seria o seu primeiro conselho? 

Diante dos desafios impostos pela crise global, reitero-me a importância do relacionamento mutuamente relevante e construtivo com a República Checa. Com o sentido de prioridade, entendo que no momento em que Cabo Verde tem afetado de forma contundente pela crise, torna se necessário, mais do que nunca, o aprimoramento da parceria comercial de grande qualidade entre Cabo Verde e a República Checa. República Checa, um dos países mais desenvolvidos da Europa central, tem potencial de ajudar Cabo Verde, temos   cooperação na área do turismo e temos empresários e investidores checos a investirem em Cabo Verde.  Esses pontos deveriam motivar os cabo-verdianos a adotarem uma conduta externa responsável e construtiva com a República Checa. Diante da crescente consciencialização das nossas vulnerabilidades individuais frentes a urgentes desafios como o combate a extrema pobreza, o desemprego da classe jovem, precisamos de maior convergência entre nações e de uma configuração internacional voltada para maior cooperação e com resultados positivos visíveis. Disso decorre o meu firme propósito de ampliar a cooperação República Checa e Cabo Verde em todos os terrenos; educação, saúde, ciência, tecnologia, comercio, investimento, turismo etc. Esforço esse que requer diálogo, feiras, fóruns ainda mais intensos e aprimoramento constante da cooperação política e da diplomacia económica.