Num contexto de hegemonia política Carlos Veiga será um perigo para a Constituição e para as instituições
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Num contexto de hegemonia política Carlos Veiga será um perigo para a Constituição e para as instituições

Como é que alguém, que ameaçou de dedo em riste os Tribunais e a Comunicação Social de os meter na linha, como fez Carlos Veiga na noite das eleições legislativas de 17 de Dezembro de 1995, quando conquistou a segunda maioria qualificada, pode nos dar a garantia de moderação e de protecção dos mais sagrados valores constitucionais na Presidência da República? Será que a Nação quer ver reeditada essa noite tenebrosa, com celebrações estranhas à idiossincrasia do Povo Cabo-verdiano no Taiti?

 

Diz o Povo, do alto da sua sabedoria, que elogio em boca própria é vitupério.

Isso é o que recomenda o bem senso.

Já em contramão, Carlos Veiga não se cansa cobrir a si mesmo de virtudes, glórias e títulos pomposos.

Desta vez deu-lhe para se considerar “um jurista respeitado”, que vai promover “Justiça para todos”. Pelo menos é o que estampou nos seus cartazes.

Convenhamos que isso já não é apenas vitupério. É também impostura.

Na verdade, os antecedentes de Carlos Veiga apontam precisamente para o contrário.

Dos seus dotes de “jurista respeitado”, fala a sua famigerada Lei da Reforma Agrária, cuja turbulência até hoje se faz sentir em todos os recantos da República, em especial em inúmeras famílias.

Dos seus expedientes de “jurista respeitado”, fala igualmente a sua tentativa de passar a perna em várias ocasiões ao Presidente Mascarenhas Monteiro, nomeadamente com a estapafúrdia ideia de dois Primeiros Ministros.

Quanto à promoção de “Justiça para todos”, Carlos Veiga só pode estar a brincar.

Com efeito, como é que um homem que na Chefia do Governo se destacou pelo incontido zelo na protecção dos interesses da sua família (importação do cimento e do açucar) e na promoção de uma “classe empresarial próxima do Poder”, pode ser tido como um Defensor de equidade e “Justiça para todos”?

Como é que um líder político, que não teve pejo em ludibriar os eleitores (e, segundo se diz, até a hierarquia da Igreja), prometendo revelar-lhes quem vinha profanando os templos católicos, caso votassem nele, pode ser tido como um homem de recta consciência?

Como é que alguém, que ameaçou de dedo em riste os Tribunais e a Comunicação Social de os meter na linha, como fez Carlos Veiga na noite das eleições legislativas de 17 de Dezembro de 1995, quando conquistou a segunda maioria qualificada, pode nos dar a garantia de moderação e de protecção dos mais sagrados valores constitucionais na Presidência da República?

Será que a Nação quer ver reeditada essa noite tenebrosa, com celebrações estranhas à idiossincrasia do Povo Cabo-verdiano no Taiti?

Não tenhamos, pois, a menor dúvida: por mais que esteja a disfarçar-se de cordeirinho, sob a ridícula máscara de Kalu, o verdadeiro Carlos Veiga, aquele que no Poder adverte os adversários de que pedra ka ta djuga ku garrafa, em se elegendo Presidente da República, num contexto de hegemonia política, jamais será um homem de Justiça. Nem um homem de moderação. Muito menos um homem da Constituição.

Será, sim, como aliás sempre foi, o Protector de interesses inconfessos e a maior ameaça à Constituição, à Imprensa Livre e às Instituições da República que devem funcionar com efectiva independência.

 

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