...foi precisamente quando exercia a função de deputado na então Assembleia Nacional Popular é que Carlos Verde viria a ser recrutado pelos verdadeiros fundadores do MpD, alguns dos quais era de facto contestatários do Partido Único, para assumir a liderança do movimento, um cargo que, inicialmente, estava destinado a Jorge Carlos Fonseca que, no entanto, segundo se diz, não pode deslocar-se a Cabo Verde em momento oportuno para assumir a direcção do partido em formação, devido a compromissos profissionais assumidos, anteriormente, em Macau.
Tem sido notório o esforço que Carlos Veiga vem fazendo, sobretudo desde que anunciou a sua candidatura à Presidência da Republica, para branquear ou pura e simplesmente negar a sua intensa e profícua colaboração com o regime de Partido Único. Trata-se, com efeito, de uma etapa da sua trajectória politica em relação à qual ele e os seus apoiantes mais fervorosos não vão conseguir, por maior esforços que vem fazendo neste sentido, contrariar e muito menos por em dúvida a veracidade de alguns factos protagonizados por Carlos Veiga enquanto fiel servidor do poder instalado a partir da instalação do Governo de Transição que dirigiu o país na fase que antecedeu a proclamação da independência de Cavo Verde, a 5 de Julho de 1975.
Como é sabido, Carlos Veiga, ao contrário de outros contemporâneos seus que passaram pelas universidades portuguesas, não foi um grande entusiasta e muito menos um apoiante activo da luta de libertação nacional.
No entanto, desde que a emancipação do povo de Cabo Verde se tornou evidente e irreversível, ele regressou ao país, vindo de Angola onde foi um fervoroso agente da Administração Colonial, para logo assumir as funções de Director da Comissão de Saneamento e não, como agora quer dar a entender, as de Director Geral da Administração Interna, cargo que só foi criado em 1977.
Foi no exercício das funções de Director da referida comissão que Carlos Veiga engendrou e quis pôr em execução um alegado plano, visando o saneamento de todos os altos funcionários coloniais que decidiram permanecer no país e dar o seu valioso contributo para pôr de pé a nascente Função Pública do Cabo Verde independente, um sector chave para a criação das bases de desenvolvimento que se preconizava na altura.
Na altura, o “revolucionário” só não levou adiante os seus intentos graças à intervenção oportuna e esclarecida de pessoas como aquele que viria a ser o primeiro chefe do Governo, comandante Pedro Pires, que, ao contrário de Carlos Veiga, defendeu, desde a primeira hora e com convicção, a permanência desses quadros detentores de muita experiência no sector da Administração Publica,
Trata-se de uma decisão que veio a revelar-se determinante e decisiva na criação das condições que permitiram a edificação de Estado cabo-verdiano bem estruturado e com grande reputação tanto a nível interno como também entre os parceiros internacionais que acompanhavam de perto e com muito interesse os primeiros passos de um país que recém-independente.
Neste ponto, vale a verdade dizer que se dependesse de pessoas como Carlos Veiga, esses quadros deviam, pura e simplesmente, ser saneados e corridos do país nascente, pelo simples facto de ter sido um alto funcionário da então província ultramarina. E toda a gente sabe o inestimável contributo dado por esses homens e mulheres ao Estado de Cabo Verde, ao longo de muitos anos.
Hoje em dia, Carlos Veiga e os seus acólitos tentam também branquear o seu papel não apenas como principal artífice da Lei da Reforma Agrária e sua divulgação junto das populações, através de sessões de esclarecimentos em todas as ilhas. Sobre este ponto em concreto, existe vasta documentação que prova à sociedade que a participação de Carlos Veiga no processo da Reforma Agraria não foi meramente “técnica “ na elaboração do referido diploma, como ele e os seus actuais seguidores vem defendendo com unhas e dentes. Tanto assim é que, mesmo depois dos lamentáveis incidentes do 31 de Agosto, protagonizados pelos opositores da Reforma Agraria, não se conhece nenhuma posição pública de Carlos Veiga a condenar a aplicação da lei que de que ele foi um dos principais mentores (senão o principal) e incentivador da sua aplicação no campo e que veio a ter o desfecho conhecido.
Claro que depois da abertura política, protagonizada pela direcção do PAICV e não por qualquer outra formação partidária, a posição de Carlos Veiga sobre este assunto e outros mudou radicalmente para, em primeiro lugar, não entrar em contradição com os seus novos companheiros do MpD que, desde a primeira hora, fizeram e continuam a fazer dos incidentes do 31 de Agosto, em Santo Antão, a sua principal arma de arremesso, sobretudo em tempos de campanha eleitoral como o que estamos a viver neste momento, para mostrar aquilo que apontam como o período mais negro da história de Cabo Verde pós-independência.
Numa altura em que já era visível e notório que o vento da mudança política soprava no mundo inteiro e, naturalmente, também em Cabo Verde, viu-se que Carlos Veiga continuou a ser, até 89/90, um fervoroso militante do PAIGC/PAICV, tendo militado na famosa 1ª Sessão do Partido.
Também que ele foi Deputado do Parlamento do regime de partido único até as eleições de Janeiro de 1991, tendo chegado a declarar publicamente que o partido único era a única alternativa na altura.
E foi precisamente quando exercia essa função de deputado na então Assembleia Nacional Popular é que Carlos Verde viria a ser recrutado pelos verdadeiros fundadores do MpD, alguns dos quais era de facto contestatários do Partido Único, para assumir a liderança do movimento, um cargo que, inicialmente, estava destinado a Jorge Carlos Fonseca que, no entanto, segundo se diz, não pode deslocar-se a Cabo Verde em momento oportuno para assumir a direcção do partido em formação, devido a compromissos profissionais assumidos, anteriormente, em Macau.
Por tudo o que ficou dito e que pode ser comprovado documentalmente e através de testemunhos de pessoas acima de qualquer suspeita, não resta a menor dúvida de que Carlos Veiga, como politico, é, sem sombra de dúvidas, um produto acabado do Partido Único, um regime político que ele abraçou e serviu com zelo e dedicação enquanto lhe foi conveniente e rentável.
Comentários