
Iniciado na última quarta-feira, o julgamento prosseguiu até ontem e a terceira sessão acontece na próxima semana. Um ano após a morte injustificada de Odair Moniz, ocorrida a 21 de outubro, o coletivo que julga Bruno Pinto (o agente da PSP que matou o cozinheiro cabo-verdiano) ouviu testemunhas. A defesa apostou na tese da “faca”, que supostamente Odair teria em sua posse, para legitimar a narrativa de “legítima defesa”. Uma tese, contudo, que a investigação da PJ deitou por terra.
Não foi apenas um, foram os dois agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) que, de armas na mão se dirigiram a Odair Moniz naquela noite de outubro do ano passado, mas apenas foi constituído arguido, aquele que confessamente matou Odair Moniz, Bruno Pinto, que agora está a contas com a Justiça no banco dos arguidos do Tribunal Central Criminal de Sintra, arriscando ser condenado a uma pena entre oito a 16 anos de prisão.
Logo no primeiro dia, não deixou de fixar a atenção do público o facto estranho de Bruno Pinto se ter apresentado em tribunal com a farda formal da PSP, já que, resultante deste processo, se encontra suspenso de funções.
O regresso da tese da faca de Odair, desmontada pela PJ e Ministério Público
Pela sala de audiências passaram testemunhas e visionaram-se vídeos. Bruno Pinto – o arguido – falou durante mais de duas horas, tendo garantido que viu a faca e temeu pela vida. Uma tese, relembre-se, que havia sido desmontada no decurso da investigação da Polícia Judiciária, e que o próprio arguido, em primeiro interrogatório, alegou ser falsa.
Sentado no banco dos arguidos, sem ter argumentos sólidos para a sua defesa, Bruno Pinto terá sido orientado nesse sentido pelo seu advogado, tentando, de algum modo, atenuar as provas apresentadas pelo Ministério Público em sentido contrário.
Desfazendo uma falácia
Esta falácia da faca (ou punhal) começou por ser a narrativa oficial da direção nacional da PSP, tentando desculpabilizar o seu agente e safá-lo de apertos.
As versões sobre esta questão são contraditórias desde o início. Ouvidos pela PJ, dois agentes da PSP, acusados de mentir e constituídos arguidos, afirmaram que viram a faca quando o INEM chegou ao local; mas outros dois, pelo contrário, garantem que só a viram depois do corpo ter sido removido.
No entanto, vídeos divulgados por um jornal português, que haviam sido gravados por um morador do bairro do Zambujal, mostram que, momentos após Odair Moniz ter sido atingido por dois disparos do agente Bruno Pinto, revelam que os agentes remexeram duas bolsas que a vítima tinha em sua posse e que, de um momento para o outro, aparece um punhal, colocado no chão 27 minutos depois dos disparos.
Na próxima quarta-feira, 29, prossegue o julgamento no Tribunal Central Criminal de Sintra com a sua terceira sessão.
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