A docente e investigadora da Universidade de Cabo Verde (Uni-Cv) Ariana Freire disse hoje, na cidade da Praia, que o diagnóstico precoce da anemia falciforme deve ser considerado "prioridade" em Cabo Verde.
Ariana Freire falava à Inforpress após a apresentação do estudo sobre a anemia falciforme em Cabo Verde que, segundo afirmou, veio trazer novos conhecimentos sobre a prevalência desta doença e a diversidade genética da população local.
A investigadora explicou que a principal motivação e foco para a realização deste estudo centra-se em contribuir para a implementação do diagnóstico precoce e preciso da anemia falciforme, bem como, melhorar o tratamento destes pacientes.
“O diagnóstico precoce da anemia falciforme é fundamental para o tratamento e acompanhamento dos pacientes e ainda as intervenções médicas personalizadas em países em desenvolvimento que enfrentam esta doença”, sublinhou.
A mesma fonte apontou que a utilização de antibióticos profiláticos e vacinas específicas nos primeiros meses de vida, são essenciais para reduzir a taxa de mortalidade e morbidade em crianças menores de 5 anos de idade com este tipo de anemia.
Entretanto, realçou que apesar de ser uma doença genética, as características clínicas podem ser influenciadas pelo nível da hemoglobina fetal (HbF).
Acrescentou ainda que os níveis mais elevados de HbF foram associados a melhores valores hematológicos, sugerindo um impacto positivo dos níveis elevados de HbF na redução da gravidade da SCA.
Foram também avaliadas as características clínicas e hematológicas de um segundo grupo populacional, constituído por pacientes diagnosticados com SCA.
Explicou que este estudo consiste no rastreio neonatal (NBS) para SCA utilizando amostras de sangue recolhidas no cordão umbilical em dois hospitais da ilha de Santiago, Hospital Universitário Agostinho Neto (HAN) e Hospital Regional Santiago Norte (HRSN).
Nestas amostras de sangue de cordão umbilical nesses hospitais foram recolhidas e foram utilizadas as técnicas, como a cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) e análises moleculares PCR e RFLP.
“Dos 346 recém-nascidos examinados, 21 (6%) eram portadores do traço falciforme (HbAS) e nenhum foi identificado como homozigoto para doença falciforme (HbSS), informou.
A investigadora sublinhou que analisaram quatro haplótipos em alguns países, como o Senegal, árabe-indiano, bantu e Benin, sendo que o Senegal foi identificado como o país que tem mais prevalência, a nível de haplótipos.
Este estudo foi realizado em parceria com a Universidade de La Laguna, Universidade de Cabo Verde e Hospital Agostinho Neto.
Estiveram envolvidos neste estudo, segundo Ariana Freire, Enrique Martinez e José María Raya, da Universidade de La Laguna e do Hospital Universitário de Canárias, respectivamente.
As principais recomendações deixadas por esta investigadora é que a prevalência de 6% de traço falciforme e o diagnóstico tardio verificado entre os pacientes com anemia falciforme (média de 10 anos de idade), mostra que o rastreio neonatal para anemia falciforme deve ser considerado como "prioridade" em Cabo Verde.
A investigadora explicou que devido à situação económica precária da maioria dos pacientes com SCA e dos seus familiares, entidades governamentais do país precisam de uma "atenção especial" para acompanhar esta doença.
A anemia falciforme é uma doença genética em que as manifestações clínicas podem ser crises de dor, úlceras nos membros inferiores, infecções frequentes e danos de órgãos.
Comentários