De seu nome próprio, Ângela da Veiga Ribeiro, Niche é solidariedade em pessoa. Pois, tudo o que ela faz é a pensar no outro. Na felicidade do outro.
Vive em França, na região de Nice, desde 1990. Em 1989, quando contava apenas 18 anos de idade, saiu de Cabo Verde com destino a Holanda. Neste meio tempo passou por Luxemburgo, para depois fixar definitivamente na região de Nice, França, onde foi juntar-se aos seus familiares.
É a sina da emigração a fazer de uma jovem nascida em Achada Lém, concelho de Santa Catarina de Santiago, uma cidadã do mundo. E neste percurso pela emigração ela fez-se mulher, empresária, activista social, mãe e avó. Sim, Niche tem três filhos - dois saídos do seu ventre (uma menina e um rapaz) e um adoptado (um rapaz). Hoje é avó também. E que avó!... “No meu netinho nem um dedo sequer”, avisa com um largo sorriso.
No mundo de negócios, ela é proprietária de um cabeleireiro em Nice, a Miss Beleza. É aqui que Niche ganha a sua vida. Ela e mais dois rapazes que trabalham com ela.
Como activista social, desde 2008 que Niche trabalha para os mais necessitados da sua terra natal – Achada Lém. Velhos e crianças.
Com esta nova actividade na estrada, Niche materializava um sonho antigo – um sonho que lhe germinara no coração quando tinha apenas 14 anos.
Na sua infância e adolescência, Niche sempre teve o pouco de que necessitava. E este facto fez com que ela sempre pensasse que a sua família era rica. Aos 14 anos, foi morar na Praia. Na capital do país, descobriu que afinal não era rica coisa nenhuma. No entanto, estava contente e feliz com o que tinha em casa dos pais.
Porque, com alguma frequência ela visitava uns familiares que eram mais pobres do que ela ainda. Porém, pobres mas felizes. Niche recorda que esses seus familiares eram felizes com o pouco que tinham. Podiam comer sem carne nem peixe, mas como uma felicidade que só eles sabiam de onde vinha.
Este facto, fez nascer no coração da então jovenzinha de 14 anos, o desejo de um dia ajudar as pessoas mais carenciadas. Velhos e crianças. Com alimentação, material escolar, vestuário, medicamentos. Enfim, o bastante para satisfazer as suas necessidades básicas. Para ver as pessoas felizes. Para se sentir feliz com elas também!
Assim, na primeira oportunidade, Niche começou a recolher ajudas em Nice para mandar para a sua zona natal. Nesta luta ela contou sempre com o apoio das autoridades locais e dos emigrantes cabo-verdianos em Nice.
Das autoridades locais, ela recebeu sempre a abertura para a cedência de espaços para os eventos, e dos seus patrícios residentes na região, apoios materiais, financeiros e engajamento nos eventos.
Porque é a partir de eventos beneficiantes – concursos de dança, música, promoção de jantares e demais actividades socioculturais - que Niche consegue grande parte dos apoios que traz para a sua zona.
Tudo isso, ela fazia de forma espontânea, contando apenas com a solidariedade de amigos, como Paulo, que ele considera um grande parceiro. Até que em 2012, resolve criar a associação “Estrela de Cabo Verde – Esperança”.
Com a formalização desta associação e a criação do grupo de batuco, “Beleza de Nós Terra”, Niche fez-se ao largo no trabalho social. Foi a partir daqui é que, numa das suas viagens, notou que os meninos do lugarejo onde reside em Achada Lém frequentavam o jardim infantil numa escola muito distante de casa, e resolveu promover a criação de um jardim perto da residência dessas crianças.
Para o efeito, teve que introduzir obras numa casa das redondezas para criar as condições básicas para o funcionamento de uma escola pré-escolar. No ano lectivo que vai começar em Setembro este espaço já não estará disponível, porque os donos precisam da casa.
Mas Niche já arranjou solução. Acaba de negociar um terreno na zona e tem já pronto o projecto de construção de um jardim infantil de raiz. Para a materialização deste projecto, ela está a contar com o engajamento da Câmara Municipal de Santa Catarina.
O projecto tem que ficar totalmente concluído em Setembro, caso contrário, Niche vai disponibilizar um quarto na sua casa para que os meninos da zona não fiquem sem estudar nesta fase importante da sua formação pessoal e social.
Porque Niche é assim – tem sempre uma solução na outra mão. E uma alma do tamanho do mundo. Uma alma que a fez expandir as suas actividades para outras zonas. Sim, um belo dia ela disse para consigo: “as pessoas estão satisfeitas aqui, mas outras localidades também precisam”. E foi assim que ela arrumou 12 bidões com roupa, material escolar, calçados, medicamentos e mandou para Ribeira da Barca, uma localidade ribeirinha próxima de Achada Lém.
É ela. A mulher solidariedade!
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