África disruptiva. Inovar para resolver os problemas da juventude
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África disruptiva. Inovar para resolver os problemas da juventude

África é o futuro! 3 em cada 5 africanos têm menos de 35 anos. Estima-se que esta mesma população jovem cresça para uns espantosos 830 milhões até 2050. Um crescimento populacional a esta velocidade coloca o continente sob enorme pressão.

Entre a África e os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ergue-se assim “o grande Leão”: o desemprego jovem, que atinge os 60%, o norte do continente com 2ª maior taxa de desemprego jovem no mundo, enquanto o sul apresenta a mais elevada taxa de pobreza.

A crise de 2008 levou a que as matérias-primas, base da exportação africana, desvalorizassem em mais de 60%, o que afetou terrivelmente os países em desenvolvimento ao sul do Sahara. Actualmente, cerca de 240 milhões de africanos vão dormir quase todas as noites com fome. É esta frustração que nos leva a assistir à fuga de centenas, senão milhares, de jovens, que arriscam as suas vidas para atravessar o mar em direção à Europa.

Urgem soluções acessíveis, práticas e inovadoras para envolver esta juventude, que conta não apenas com o crescimento em si, mas com propostas que levem à equidade e à justiça social. Um provérbio africano ensina que "where the Young know Is where they believe it's raining", que é o mesmo que dizer, os nossos jovens irão encaminhar-se e engajar-se onde forem conduzidos. Se capacitados para criar o seu próprio emprego, irão criá-lo.

Exemplo disso é o programa da gigante Google - Digital skills for Africa- que em 11 meses capacitou gratuitamente 1 milhão de jovens em 27 países do continente, com ferramentas digitais. A maioria usava a web apenas como ferramenta de comunicação, mas este tipo de formações cria oportunidades económicas reais, os currículos dos formandos tornam-se mais relevantes para o mercado, onde serão uma alavanca para o real desenvolvimento da economia do conhecimento no continente.

Ainda para suplantar o "senhor Leão”, a África precisa apostar no desenvolvimento regional, na promoção dos setores com potencial de aceleração do desenvolvimento económico-social, na produção em larga escala, na indústria transformadora e na melhoria das Infraestruturas.

A agricultura é setor chave, que se tornada atrativa para os jovens, conduzirá ao crescimento inclusivo, empregando cerca de 64% da força laboral africana, incluindo mulheres e jovens em situação de vulnerabilidade. Complementada com o subsetor das energias renováveis ou limpas, há eficiência energética, maximiza-se a produtividade, garante-se a segurança alimentar e a criação de uma cadeia de oportunidades económicas de agrovalor. Ao mesmo tempo que se provoca a redução da emissão de gases, conservando-se assim ecossistemas fundamentais. Aqui a política é o principal factor de mudança.

É urgente então atacar a falta de técnicos especializados, com o aumento do número de instituições de ensino que ofereçam programas de especialização, em disciplinas como Agricultura, Ciência ambiental, Engenharia da Energia, Economia e Planeamento. Quiçá promover a harmonização das políticas entre Ministérios de Educação e Ministérios do Ambiente, políticas integradas essas que irão por sua vez catalisar a resolução dos ODS 2, 13, 15 e o artigo 7 do Acordo de Paris.

A inovação tem que atingir ainda a questão do financiamento destas propostas. Para isso criam-se fintech's, ou tecnologias financeiras, com os seus produtos acessíveis, numa combinação de serviços financeiros e tecnologias de informação. O acesso a estas aplicações impulsiona o uso das energias limpas na agro-indústria. Temos tudo o que é necessário em África.

Contamos com 65% das terras aráveis não cultivadas do mundo, um enormíssimo potencial de produção de energias renováveis, e uma mão de obra jovem, ousada, engenhosa e sedenta de conhecimento. Continuar neste limbo do "waithood" em que se encontram atualmente os nossos jovens, na perspetiva da investigadora moçambicana Alcinda Honwana, é perder uma grande oportunidade económica e deixar de envolver a maior força do continente na definição do seu próprio futuro. O jovem africano pede-nos mais ação e menos fóruns e conferências com os seus discursos caros. Africa é o futuro!

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