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Ulisses já não governa nem lidera o partido
Editorial

Ulisses já não governa nem lidera o partido

A liderança da Bancada Parlamentar do MpD demitiu-se em bloco, e Ulisses Correia e Silva, que supostamente ainda é líder do movimento e chefe do governo, não responde aos jornalistas e não presta contas aos cabo-verdianos sobre este assunto que está no centro de todas as atenções. Estará Ulisses Correia e Silva demissionário também?

Os sinais estão todos aí. Ulisses Correia e Silva já nem responde a perguntas dos jornalistas quando o tema é a demissão da direção do Grupo Parlamentar do MpD, manda fazer as perguntas aos demissionários.

Como assim?! Mas não é Ulisses o líder? Não seria suposto dar respostas sobre a crise que as demissões abriram no partido do governo?

Partido navega à vista

O problema é que o também primeiro-ministro ainda é presidente do MpD, mas já não lidera nada. O partido navega à vista, sem bússola, sem tática política e sem sentido estratégico, navega a reboque dos acontecimentos e perdeu completamente a capacidade de iniciativa. É cada um por si, uma circunstância que releva o naufrágio iminente.

O ainda líder do MpD e ainda primeiro-ministro, saiu muito fragilizado das eleições internas do ano passado, onde se confrontou com um adversário (Orlando Dias) fora do sistema e à margem do aparelho.

Mesmo assim, confrontando-se com as máquinas do partido e do governo, numa disparidade de recursos e meios colossal e com um generalizado descarregamento de votos, o deputado-rebelde alcançou quase 10% nas eleições internas. Imagine-se o que seria sem métodos fraudulentos.

Em contramão à vontade da militância

Já este ano, começaram as movimentações para as autárquicas, com Ulisses a impor as suas escolhas contra tudo e todos, indicando vários candidatos que estão em contramão à vontade da militância. Resultado: nunca a desmotivação dos militantes foi tão grande em umas eleições autárquicas.

Neste momento, Ulisses e a direção do MpD procuram reduzir os danos colaterais de umas eleições em que quase todos os analistas coincidem na análise: o partido ventoinha corre um sério risco de perder a liderança nas autarquias.

As coisas não estão fáceis para o MpD e pior estão para Ulisses Correia e Silva. E o espectro de uma derrota nas eleições autárquicas tira o sono a Ulisses e à direção do MpD.

Candidatos à sucessão de Ulisses conspiram na sombra

É que, na sombra (e tantas vezes às claras) já há peões a posicionarem-se para a sucessão, caso as coisas corram mesmo muito mal nas eleições autárquicas. É o caso de Olavo Correia, que aposta tudo, incluindo recursos do Ministério das Finanças para se promover; e de Paulo Veiga, cuja demissão parece integrar a sua estratégia de afirmação como alternativa a Ulisses, embora tenha saído da situação um bocado chamuscado, por inabilidade política e por companhias que não acrescentam valor.

De um lado, Olavo, intérprete dos interesses privados neoliberais e dos negócios de quem sempre foi agente, mesmo contra o interesse nacional; do outro, Veiga (que é, politicamente, muito ingénuo), circunstancialmente alinhado com os setores mais extremistas do MpD, de uma extrema-direita que tem vindo a ocupar importantes posições no seio do partido.

Olavo Correia e Paulo Veiga já se preparam, aos poucos, para, no momento certo, abjurar Ulisses e fazerem de conta que não foram seus cúmplices no desastre da governação.

Ulisses é mestre de cerimónias

Enquanto primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva também já não lidera nada, limitando-se a ser uma espécie de mestre de cerimónias das consecutivas inaugurações que tem vindo a promover pelo país inteiro, dando uma ajudinha aos candidatos locais do MpD, à conta do erário público.

O ainda primeiro-ministro já nem vergonha tem de se pôr a ridículo perante a opinião pública, como foi o caso da sua deslocação de ontem a São Nicolau, uma ilha abandonada pelo seu governo, para prometer agora o que não fez em oito anos, garantindo cinicamente, pela enésima vez: “o governo está empenhado em apoiar São Nicolau”…

A verdade é que o governo de Ulisses Correia e Silva está mais desgastado do que nunca – precisamente, porque não deu resposta às principais necessidades do país -, como comprovam dados de um estudo de opinião da Afrosondagem, colocando em alto risco a governação do MpD em 2026, mesmo com oposições acomodadas e lideranças frágeis.

O sinal parece ser claro, independentemente de quem venha, mesmo sem se conhecer uma alternativa de governo, as cabo-verdianas e os cabo-verdianos parecem estar cansados de Ulisses e do MpD.

A direção,

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