Crime organizado. Quem tem ouvidos ouça!
Editorial

Crime organizado. Quem tem ouvidos ouça!

Quando é que o Estado de Cabo Verde irá assumir que o tráfico de droga é uma ameaça para o país? Quem manda em Cabo Verde – o povo & as instituições ou os traficantes? Há que salvar o Estado e as suas instituições!

Nota prévia: os factos que entre nós ocorrem demonstram que Cabo Verde está um pouco sonolento no que tange ao crime e às suas complexas ramificações. Parafraseando o imortal Norberto Tavares, é melhor cobrirmos a nossa casa com palha, mas na paz, do que morar em prédios com canseira de espírito.

Cabo Verde já esteve melhor – sem luxo, sem viatura top de gama, mas com paz, com tranquilidade. Atentemos, pois, sobre este país, a ver se ainda estaremos a tempo de corrigir os passos e cortar veredas, para salvar esta paz de Deus que, como cantou o nosso colossal Bana, não existe por este mundo fora.

Em 2006 (https://www.rtp.pt/noticias/mundo/em-cabo-verde-lider-paicv-acusa-mpd-de-comprar-votos-com-dinheiro-droga_n121247) o então Primeiro-ministro José Maria Neves tinha publicamente acusado o “ MpD de comprar votos com dinheiro da droga”.

O atual embaixador de Cabo Verde em Portugal, Eurico Monteiro, foi advogado de defesa (em nenhum país decente seria embaixador) de suspeitos de tráfico de droga na “Operação Voo de Águia” e “Lancha Voadora”.

Tivemos um presidente da Bolsa de Valores condenado por associação criminosa com traficantes de droga (https://asemana.publ.cv/IMG/pdf/Sentenca_LV_2.pdf) que, no entanto, continua a sua atividade em negócios com o Estado. A compra de automóveis - Táxis (Estado como garantia através do Pró-Capital,) - por 37 mil contos pelo atual Governo à empresa do Ex-presidente da Bolsa de Valores de Cabo Verde pode ser o sinal de que se pretende normalizar e socializar que o “crime compensa”, e tem o agravante de o ministro Olavo Correia ter sido testemunha (http://www.rtc.cv/index.php?paginas=13&id_cod=24809) a favor desse indivíduo, enquanto ex-Governador do Banco de Cabo Verde e “perito”. Será que o atual ministro das Finanças quis defender que as decisões financeiras eram legais? Qualquer pessoa de bom senso que lesse a acusação (https://asemana.publ.cv/IMG/pdf/Sentenca_LV_2.pdf ) ficaria a sete léguas deste processo.

Será que Governo e a Bávaro Motors estão tão empenhados nas suas parcerias que querem mobilizar financiamento exclusivo para trazer 500 (https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/cabo-verde-mobiliza-financiamento-para-comprar-500-carros-eletricos-409202) veículos elétricos (milhões de euros em compras)? Se sim, é natural e aceitável que alguém que tenha sido acusado e julgado por crimes de associação criminosa, com o agravante de tais acusações terem sido numa altura em que exercia as funções de presidente da Bolsa de Valores do país, esteja a ser ajudado pelo Governo para alavancar o seu negócio (https://www.inforpress.cv/responsavel-da-bavaro-motors-defende-parceria-efectiva-entre-governo-e-privado-para-que-haja-a-mobilidade-electrica-no-pais/)?

O governo criou mais uma lei de benefício fiscal à medida para uma empresa amiga, no caso a Tecnicil? Recomendam o bom senso e o interesse coletivo que alguém que tenha por algum motivo ou subterfúgio  “destruir” o Estado jamais deveria fazer negócios com o Estado.

Somos, de facto, um país onde a linha que separa um criminoso de um cidadão natural, ou um santo, é ténue.

Em 2012, o então governador do Banco de Cabo Verde tinha sido solicitado por Parlamentares (http://rtc.cv/index.php?paginas=21&id_cod=3805) para “dar esclarecimentos sobre supostas ligações de alguns bancos comerciais ao tráfico de drogas no caso Lancha Voadora.”

A diretora da Unidade de Informação Financeira (UIF) de Cabo Verde, Eldefrides Barbosa[i] (https://www.dn.pt/lusa/cabo-verde-com-risco-elevado-de-lavagem-de-capitais-associado-ao-trafico-de-droga-8941325.html), alertou recentemente que “de acordo com as variáveis do Banco Mundial, chegou-se à conclusão de que temos um risco elevado em matéria de lavagem de capitais, sendo que o crime antecedente com maior peso, neste momento, é o tráfico de droga.”

Em 2015, estávamos no 29º lugar do ranking dos países com elevado risco em matéria de lavagem de capitais, com foco no rendimento do tráfico de droga. Em 2019  Cabo Verde está na 11.ª posição. Em três anos de governação estamos à porta do Top 10. Qual o impacto para não atrair IDE de qualidade para o país?

A União Europeia (https://www.dinheirovivo.pt/economia/ue-cabo-verde-na-lista-cinzenta-de-paraisos-fiscais-e-macau-fica-de-fora/) acabou de colocar Cabo verde na lista “cinzenta” de paraísos fiscais. Há Bancos Comerciais com ligações ao tráfico de droga em Cabo Verde

mãe de uma inspetora da Polícia Judiciária (PJ) cabo-verdiana que investigava o "Caso Lancha Voadora" foi assassinada.

Três dias depois tentaram matar o Ex - PGR (http://www.rtp.pt/rdpafrica/noticias-africa/ex-pgr-de-cabo-verde-escapou-a-tentativa-de-assassinato_3251). O filho do Ex- primeiro-ministro foi baliado, e na ocasião José Maria Neves havia afirmado ser “uma tentativa do crime organizado para intimidar as nossas instituições.”

Recentemente Santiago Magazine escreveu um editorial a relatar o branqueamento de capital, através do Câmbio na Rua do Plateau, sem que as autoridades sequer tenham tomado qualquer medida. E, na Assomada, a segunda cidade de Santiago, a situação é ainda mais gritante.

A recente tentativa de assassinato do presidente da Câmara Municipal da Praia (http://www.rcv.cv/index.php?paginas=21&id_cod=21656), que, passados 4 meses, ainda não se sabe quem foi o autor ou autores do atentado, significa que há uma forte pressão do mundo do crime para silenciar qualquer pessoa que ousar questionar os negócios que estão sendo feitos entre o Estado e os privados, porque, pelo facto de ninguém saber quem são os donos (podem ser traficantes de drogas), qualquer pessoa está em alto risco de sofrer um atentado e tudo ficar em águas de bacalhau, ou seja, em vão. Estamos a matar o Estado de Direito Democrático.

Em 2019, no seu Facebook (https://www.facebook.com/ImaBrito/posts/10216035216848337) , Emanuel Almeida Brito, escrevia uma crónica, ''Cabo Verde: Candidato a Narco-Estado?, onde diz que “segundo um magistrado, citado por um conceituado jornal, o narcotráfico atingiu já a totalidade das estruturas do Estado”.

Um Policia foi morto e suspeita-se que os mafiosos estão envolvidos. Há polícias a proteger criminosos? O país precisa de respostas, a fim de acalmar a população.

Querem que sejamos um narco-estado?

No dia 3 Novembro de 2019, o Jornal The Telegraph , assinado pelo conceituado jornalista Colin Freeman[ii](https://www.telegraph.co.uk/news/drug-trafficking-in-cape-verde/) fez uma análise exaustiva, mas assustadora, de como o tráfico de droga está a desmoronar a sociedade cabo-verdiana, num artigo intitulado: Cabo Verde: o paraíso que é uma autoestrada de cocaína. Este artigo é um apelo e uma chamada de atenção. Quem tem ouvidos ouça!

A direção,

[i] https://www.dn.pt/lusa/cabo-verde-com-risco-elevado-de-lavagem-de-capitais-associado-ao-trafico-de-droga-8941325.html

[ii] https://www.telegraph.co.uk/news/drug-trafficking-in-cape-verde/

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