20 de Janeiro. Que é isto de heróis nacionais?
Editorial

20 de Janeiro. Que é isto de heróis nacionais?

Cabo Verde existe desde que o mundo existe. A história regista que Diogo Gomes terá chegado cá em 1456, e desde então se intitulou – ou alguém o terá feito por ele - descobridor destas ilhas.

A história atribui ainda o comando da primeira expedição a Cabo Verde ao veneziano Alvise Cadamosto, em 1460, ou ainda ao genovês António da Noli, em 1462. E todos eles se intitularam – ou alguém o terá feito por eles – descobridores destas ilhas.

Se sim, se não, um dia há de se saber. A única certeza aqui até hoje, é que a história tem tentado passar para a memória colectiva - e em certa medida tem estado a conseguir - a ideia de que nestas ilhas tudo terá partido de um descobridor, que um dia cá aportou, e como num golpe de mágica terá começado o destino de todos nós, sem nunca explicar como é que tal façanha seja possível, se, num primeiro momento, é de se supor que estas não se encontravam perdidas, e num segundo momento, que a sua existência se deve única e exclusivamente à vontade da natureza. Que assim quis, e pronto!

Sim. Umas ilhas semeadas neste vasto oceano atlântico, aqui na costa ocidental africana, por obra e ciência da natureza, e que a história insiste em impor terem sido descobertas por este ou aquele… Enfim, mistérios…

Mistérios que teimam em submeter estas ilhas e este povo mestiço, fruto do cruzamento de outros povos que por aqui passaram e passam, a um conjunto de “crenças e credos”, adulterando o curso natural dos factos e da vida.

Um povo que é cabo-verdiano, ilhéu, na sua cultura, na sua identidade e modo de viver e estar no mundo. Nada mais que cabo-verdiano de naturalidade e de papel passado!

Um povo que não é, e jamais será, invenção de ninguém, seja pessoa física ou jurídica, organização, conjuntura política, económica ou cultural.

Um povo cabo-verdiano, porque sim. Porque forjado na dureza destas ilhas de origem vulcânica, que se dão pelo nome de arquipélago de Cabo Verde.

Um povo que se afirma como tal há mais de 5 séculos, não necessitando de qualquer decreto régio, colonial ou republicano para o efeito.

Um povo que construiu e constrói a sua história, todos os dias, porque portador de uma identidade e de um nome, que o define e credibiliza enquanto tal. Com seus os desafios, fracassos e vitórias. Com os seus heróis, uns conhecidos outros não, mas todos legitimados pelo seu trabalho, dedicação e entrega às causas públicas.

Homens e mulheres que nunca pediram licença a seja quem for para pensarem e agirem em consequência, nas artes, na administração, na justiça, na vida comunitária, na emigração. Com armas, com palavras. No campo, na cidade. No escritório, na lavoura, no mar. Com dignidade. Com coragem. Com determinação. Porque ciente dos seus deveres e dos seus direitos.

Então, o que é isto de heróis nacionais? Porquê tanto mistério à volta dos heróis nacionais?

Este país foi construído por um conjunto de pessoas, em diferentes épocas e contextos, até os dias de hoje.

Estas pessoas, homens e mulheres, não são fantasmas, elas existem, e o país tem o dever de as reconhecer, as estudar para passar o seu legado de geração em geração.

Os heróis são os principais construtores do seu país. Aqui não há mistério. Cabo Verde precisa reconciliar-se com a sua história, sendo o único caminho para a formação de uma nação forte, nos seus fundamentos e identidade!  

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