A Cabo Verde Airlines (CVA) retoma a partir de julho os voos internacionais de São Vicente, com uma ligação semanal a Paris, uma reivindicação de há vários anos.
Segundo informação da companhia, liderada desde 2019 por investidores islandeses, que concentraram os voos internacionais no ‘hub’ da ilha do Sal, a CVA retoma em 18 de junho os voos comerciais, 15 meses depois da suspensão da atividade devido às restrições da pandemia de covid-19, com um voo para Lisboa.
Após esse voo inaugural, a partir do Sal, e de acordo com informação da companhia consultada hoje pela Lusa, no alargamento do plano de voos, a CVA já disponibiliza bilhetes para o voo de 03 de julho entre São Vicente e Paris (aeroporto Charles de Gaulle) e regresso no dia seguinte, por menos de 300 euros (ida e volta).
Fonte da companhia aérea explicou à Lusa que se trata de um voo semanal (partida ao sábado com regresso ao domingo) com escala no aeroporto internacional do Sal, de onde parte e onde termina.
O mesmo regime de escala será aplicado de 28 de junho até 28 de março de 2022 pela CVA, com partidas do aeroporto da Praia, escala no Sal, com destino a Lisboa (sexta e segunda-feira), e semanalmente do Sal, com escala na Praia, com destino a Boston (Estados Unidos da América).
Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).
A CVA concentrou a atividade nos voos internacionais a partir do ‘hub’ do Sal, deixando os voos domésticos.
A ilha de São Vicente, a segunda mais populosa do arquipélago, passou a ser servida por voos comerciais internacionais apenas por companhias portuguesas, deixando de ter a ligação a Lisboa pela CVA, apesar da convicção demonstrada em julho de 2019 pelo primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, na reversão da decisão, também face à contestação local.
“É só uma questão de deixar aquele doente [Cabo Verde Airlines] sair do coma, recuperar bem para ganhar força, como está a acontecer atualmente, é preciso tempo e convicção”, afirmou Ulisses Correia e Silva, de visita ao Mindelo, ilha de São Vicente.
A Cabo Verde Airlines anunciou em 31 de maio, em comunicado, a retoma dos voos internacionais em 18 de junho, 15 meses após a suspensão da atividade, devido às restrições da pandemia de covid-19, arrancando inicialmente com uma ligação entre a ilha do Sal e Lisboa, num retorno que "será gradual e far-se-á com dois aviões".
Citado no comunicado, o diretor-executivo da companhia, Erlendur Svavarsson, afirma que este é “só o começo”.
No comunicado, a CVA acrescentou que “dependendo da taxa de vacinação e do desbloqueio das fronteiras internacionais, é esperado o lançamento de novas frequências e destinos adicionais”, logo que “as condições pandémicas o permitam”.
Em entrevista à Lusa na cidade da Praia em 15 de abril, Erlendur Svavarsson explicou que a situação financeira da companhia é agora “especialmente boa”, mas garante que o Estado cabo-verdiano não injetou qualquer verba, contrariamente ao que aconteceu com as concorrentes portuguesas que operam em Cabo Verde.
“Na verdade [o Estado de Cabo Verde] não injetou qualquer verba, contrariamente aos nossos concorrentes da SATA e da TAP, que continuam a receber contribuições do Estado [português]. O Governo de Cabo Verde tem sido muito diligente com os recursos públicos e não deu qualquer dinheiro à CVA até ao momento. Apenas garantias, o que quer dizer que a companhia está a ter acesso a empréstimos, que agora representam fundos suficientes para dar o próximo passo no processo de refinanciamento da companhia”, sublinhou.
As companhias aéreas SATA e TAP são as únicas que mantêm, até agora, ligações regulares das ilhas de São Vicente, Sal e Santiago à Europa e aos Estados Unidos, mas ambas estão sob intervenção do Estado português, devido às consequências da pandemia de covid-19.
“A situação financeira da CVA é especialmente boa porque, apesar da pandemia, conseguimos refinanciar a companhia, ganhámos acesso a liquidez, com o apoio do Governo”, afirmou, referindo-se aos sucessivos avales do Estado - avalizando empréstimos de cerca de 20 milhões de euros desde novembro - para reestruturação de créditos anteriores e pagamentos de salários a trabalhadores.
Contudo, o presidente da companhia sublinha que ao longo do último ano foi possível manter os mais de 300 trabalhadores, embora em regime de ‘lay-off’, através do modelo simplificado criado pelo Governo para apoiar as empresas cabo-verdianas afetadas pela pandemia, além de não terem sido renovados contratos a prazo.
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