Alfredo Carvalho, o primeiro dos antigos administradores da TACV a ser ouvido hoje, 16, na CPI, revelou que no seu tempo a empresa perdeu “uma grande e única oportunidade de adquirir a Air Senegal”. E Daniel Livramento culpou o Governo do PAICV, ainda antes da abertura politica, pelo insucesso da TACV.
O antigo gestor TACV, Daniel Livramento, começou por dizer que em 1990 a função do “gestor público era uma figura decorativa” e que a sua gestão foi marcada pela interferência directa do partido/estado.
Administrador da TACV de 1990 a 1991, Daniel Livramento fez estas denúncias durante as primeiras audições parlamentares, no âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre os TACV, iniciada hoje, 16, com os antigos gestores da companhia aérea nacional, tendo ressalvado que gestores da época não passavam de “simples paus-mandados do PAICV, que mandava na empresa”.
“Os gestores dos TACV na altura não tinham vozes, nem tinham rigorosamente nada. Todas as instruções emanadas eram vindas do partido que estava no poder mais o Governo. A entrada e saída, linhas aéreas, tudo era vindo do PAICV e do seu Governo”, atestou. Disse que não deixou rigorosamente nada e que “havia coisas que não se podia passar do limite”, tendo sublinhado que deixou o cargo por incompatibilidade com o secretário de Estado, na época.
Alega que nessa altura já havia vozes discordantes do seu conselho de administração em relação aos contratos dos aviões CASA e LAM e com o aparelho que fazia a ligação com Boston (EUA), mas que nunca foram ouvidos, alegando que todo o processo “era segredo do Estado”.
A título de exemplo, explicou que enquanto o conselho de administração suspendeu o voo de Boston, porque era altamente deficitário, com prejuízos incontornáveis na ordem dos cinco mil contos por voo, volvidos 24 horas foi obrigado pelo Governo a manter esta linha, com todos os prejuízos irrecuperáveis. Livramento lembrou ainda que na altura os gestores não tinham estatuto de gestores públicos nem autonomia de gestão contrariamente aos métodos actuais, que passa pela obrigação de prestação de contas e do relatório junto do Tribunal de Contas.
Alfredo Carvalho com poucas palavras
O antigo PCA da TACV, Alfredo de Carvalho, respondeu antes às questões na CPI, mas sem aprofundar nas contas da companhia já que, disse, pouco se lembrava de detalhes da sua gestão.
Carvalho, que esteve à frente TACV entre 1991 a 2000, foi o primeiro a ser ouvido nas audições parlamentares no âmbito da CPI sobre a companhia nacional. “O melhor resultado que eu e a minha equipa tivemos durante o nosso tempo de gestão foi melhorar o serviço da empresa”, afirmou Alfredo de Carvalho, explicando que “o grande problema” da TACV na altura tinha a ver com a frota e que os resultados foram melhores depois de a terem renovado.
Essa renovação constituiu na venda dos três aviões existentes e aquisição de ATR e Boeing, através de “leasing financeiro” com opção de compra, frisando que essas aquisições foram feitas “sem garantias do Governo”, mas que permitiu à empresa abrir-se para rotas internacionais e consolidar-se nas rotas domésticas.
No entanto, uma outra informação partilhada por Alfredo de Carvalho foi o facto de a TACV ter perdido uma “grande e única” oportunidade de adquirir a Air Senegal entre 1998 e 1999, quando foi posta à venda.
Segundo este gestor, a companhia nacional, com mais dois investidores, apresentou uma proposta em que a TACV entrava com a gestão e ficava com 33% da empresa e os dois investidores com o dinheiro, mas que por razões várias, tal negócio não se concretizou.
Sobre os passivos e activos da empresa o gestor escusou-se a responder, o mesmo em relação ao capital da companhia, já que, segundo ele, “muitos pormenores” sobre o que aconteceu durante a sua gestão lhe “escapava”, por causa do tempo.
O inquérito da CPI abrange, entre outros assuntos, os actos de gestão de 1975 até à presente data, os avais prestados pelo Governo a favor dos TACV, todas as aquisições e alienações de activos e áreas de negócios, bem como o passivo e as contas da empresa.
A referida CPI foi criada pela Resolução n.º 48/IX/2017 de 11 de Julho de 2017, rectificada pelo BO n.º 41, de 20 de Julho de 2017, para averiguar os actos de gestão dos TACV, sendo que hoje também foi ouvido o antigo PCA Daniel Livramento.
Para esta sexta-feira, 17, está na agenda a audição dos antigos secretário de Estado dos Transportes e Comunicações, António dos Santos, às 09:00, e Manuel Casimiro de Jesus Chantre; às 15:00.
Com Inforpress
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