A economia cabo-verdiana sofreu uma recessão equivalente a 14,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, devido ao “efeito negativo extraordinário” da pandemia de covid-19, segundo indicadores divulgados hoje pelo INE.
De acordo com o relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE) com as Contas Nacionais Trimestrais de Cabo Verde, o PIB do país recuou 14,6% no quarto trimestre de 2020, em termos homólogos, que se somou às quedas de 18,2% e 31,7%, respetivamente no terceiro e no segundo trimestre, e ao crescimento de 5,7% no primeiro trimestre, antes dos efeitos da pandemia, sobretudo na atividade turística.
“A taxa de variação acumulada dos quatro trimestres de 2020 aponta para uma recessão anual do PIB em 14,8%, em volume. Esta contração foi a mais intensa na atual série de Contas Nacionais, evidenciando o efeito negativo extraordinário da pandemia covid-19 na atividade económica em Cabo Verde”, reconhece o INE, no mesmo relatório.
Este desempenho surge após sucessivos crescimentos económicos desde 2009 (ano em que se registou uma recessão de 1,3%). Em 2019, a economia cabo-verdiana já tinha crescido 5,7% e no ano anterior 4,5%, segundo o INE.
“Este resultado é explicado em larga medida pela queda acentuada do consumo final das famílias e das exportações”, reconhece o INE, sobre o desempenho económico de 2020.
O turismo representa 25% do PIB de Cabo Verde, mas o setor está praticamente parado há um ano, devido às restrições internacionais para conter a pandemia de covid-19.
No acumulado de 2020, o INE afirma que a pandemia manteve “um impacto negativo na variação do PIB”, com especial destaque no Comércio (-21,1%), Transporte (-32,9%), Serviços às empresas (-23,8%), Alojamento e Restauração (-70,7%), mas também nos impostos líquidos dos subsídios sobre os produtos (-22,5%).
O relatório calcula ainda que o consumo privado em Cabo Verde diminuiu 22,5%, em termos reais, no quarto trimestre de 2020 em termos homólogos (-9,8 no trimestre anterior), enquanto o consumo público apresentou uma taxa de variação homóloga positiva de 5,5%, em volume (0,2% no trimestre anterior).
Já o Investimento registou uma variação homóloga positiva de 57,2%, em volume, no quarto trimestre de 2020 (10,1% no trimestre anterior).
A recessão económica de 14,8% calculada pelo INE agrava ligeiramente as previsões anteriores do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Governo cabo-verdiano, que apontava para uma queda do PIB de 14% em 2020.
O FMI apontou na sexta-feira que a economia cabo-verdiana sofreu uma recessão de 14% em 2020, em linha com a previsão governamental, devido à pandemia de covid-19, e espera um crescimento de 5,8% este ano.
As previsões constam de um comunicado em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) conclui a terceira e última avaliação de Cabo Verde ao programa de assistência técnica PCI (Instrumento de Coordenação de Políticas, na sigla em inglês), iniciado em 15 de julho de 2019 para apoiar as reformas em curso no Estado, nomeadamente ao nível do sistema fiscal e privatizações, considerando a sua implementação como “satisfatória”, apesar dos efeitos da pandemia.
A organização reconhece ainda que a economia cabo-verdiana “foi duramente atingida pela pandemia”, estimando uma recessão de 14% (contra a previsão anterior de 6,8%) em 2020, “devido à desaceleração económica global, restrições de viagens e medidas de contenção doméstica que reduziram significativamente as atividades nos principais setores da economia”.
“As medidas de política e proteção social tomadas pelas autoridades estão a apoiar a economia e a ajudar os grupos mais vulneráveis a enfrentar o impacto da pandemia”, descreveu o FMI, que prevê ainda um crescimento económico de 5,8% do PIB (previsão anterior de 4,5%) este ano, e anualmente acima de 6% a partir de 2022.
Dias antes, em entrevista à Lusa, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, projetou uma recessão económica histórica de 14% em 2020, devido à pandemia.
“Ainda temos as estimativas, que estão a apontar para uma recessão de 14% [do PIB], o que é muito para um país que fechou 2019 com 5,7% de crescimento. Mas isso demonstra o real impacto e intensidade da covid-19”, explicou Ulisses Correia e Silva.
Segundo o FMI, as perspetivas económicas para Cabo Verde “continuam desafiadoras e incertas” e apesar da retoma do crescimento económico projetado para a partir deste ano, “existem riscos significativos”, sobretudo face à “evolução da pandemia e suas ramificações globais”.
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