O recordista mundial dos 100 e 110 metros barreiras e medalha de bronze nos Jogos Paralímpicos Rio’2016, Gracelino Barbosa, levou o Governo de Cabo Verde à justiça, única forma encontrada para receber o montante correspondente aos títulos alcançados.
Passados cerca de 18 meses após a mediática polémica em torno da premiação pelos títulos mundiais conquistados, Gracelino Barbosa lamentou à Inforpress que nada tenha sido resolvido e que os prémios, no valor de 3500 contos, de um total de 7500 a que o Instituto do Desporto e da Juventude (IDJ) alegou ter sido depositado na conta bancária do atleta, até esta não deu entrada.
“Eu já meti advogado e sinto vergonha por estar a ir para a Justiça com o Governo de Cabo Verde por causa disto. Acho que é uma vergonha processar o próprio Estado, o próprio país. Eu demorei muitos anos a tentar não fazer isto, porque simplesmente achava que algo que me revoltava”, esclareceu o atleta cabo-verdiano mais medalhado de sempre.
Em Junho de 2021, após reclamação dos prémios, o Instituto do Desporto e da Juventude (IDJ) tornou público um comunicado no qual esclarecia que “em resumo, os prémios atribuídos ao atleta medalhado Gracelino Barbosa, até agora, foram no valor total de 7.500.000 ECV (sete milhões e quinhentos mil escudos)”, esclarecendo que deste montante 3.500 contos foram disponibilizados, directamente, na conta bancária do atleta.
Na mesma nota de esclarecimento, o IDJ especificava que os restantes 4.000 contos foram disponibilizados ao Comité Paralímpico de Cabo Verde, na sua conta bancária, no Banco Comercial do Atlântico (BCA).
Abordado pela Inforpress, o atleta que se encontra de volta ao país, no inicio de mais uma caminhada, visando a sua qualificação para Jogos Olímpicos de Paris’2024, considerou tratar-se de “uma situação superdelicada”, sustentando que em Cabo Verde as instituições se sentem sensíveis, quando alguém reclama por um direito adquirido.
“Cabo Verde ainda me deve. Eles sabem que me devem. Não recebi pelas minhas medalhas. Acho que são coisas que hoje em dia deviam ser ultrapassadas. Temos de ter mais classe porque represento sempre Cabo Verde e não são as instituições que me vão mudar de ideias. Como sempre, vou sozinho para os campeonatos do mundo”, especificou.
Para o paralímpico, faltou a humildade dos responsáveis das instituições cabo-verdianas, já que continua a reclamar pelos feitos alcançados em 2019 e 2020, tendo inclusive esclarecido que, contrariamente ao comunicado à Comunicação Social, segundo o qual o prémio já estava atribuído, recebera pessoalmente uma carta, esclarecendo que “não iria receber pelo prémio”.
Disse que nunca entendeu os subterfúgios apresentados neste email, como o facto de ter ido sozinho para o mundial, e que tinha de fazer umas tantas outras provas, quando, realçou, sempre competiu sozinho, tendo conseguido o mais importante alcançar títulos mundiais.
O atleta de Colhe Bicho, Tarrafal de Santiago, disse que chegar ao título de campeão do mundo implica muitas anos de sacrifícios, a todos os géneros, e que o montante da premiação seria aproveitado como retorno dos seus investimentos para novas competições.
Independentemente destas contrariedades, o atleta garantiu à Inforpress que vai continuar a representar Cabo Verde até ao seu último suspiro, com elevado nível de profissionalismo, dentro e fora das pistas, “sempre aberto ao diálogo”, pois o recordista dos 110 metros barreiras sente-se preparado para ultrapassar percalços e mal-entendidos.
“Existe quem devia pedir desculpas e não pede. Se não tem dinheiro para pagar, é só dizer e entendo”, rematou Barbosa, por entender que “não faz sentido continuar” a se humilhar, isto é, bater a porta, e esperar, com todo o percurso que já fez por Cabo Verde, razão pela qual, sentenciou, a única alternativa é recorrer-se à justiça.
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