Uma sólida carreira musical a fez conhecida mundialmente. A sua voz doce, simpatia e alegria contagiantes fizeram-na ser amada por todos. Menos a saúde, que a traiu definitavamente e de forma precoce este domingo, 19, aos 45 anos de idade. A carreira da miúda que queria ser uma simples operária e acabou cantora no dia que imitou Whitney Houston e saiu vencedora do concurso de talentos ‘Chuva de Estrelas’ em Portugal.
Não há como falar de Sara Tavares sem referir ao concurso ‘Chuva de Estrelas’. O início de tudo, porque foi nesse programa da SIC, em 1994, que ela se deu a conhecer imitando a soberba norte-americana Whitney Houston. Saiu vencedora interpretando ‘One moment in time’, com direito a representar Portugal no Festival da Eurovisão, onde terminou em oitavo lugar com a canção “Chamar a música”, um sucesso global.
Nessa altura, com apenas 15 anos de idade, era uma cantora amadora, mas o êxito dessa música abriu-lhe as portas para o percurso profissional. E Sara, cantora, compositora e guitarrista, teve uma sólida carreira, com quatro álbuns a solo.
Navegou em vários estilos, fundindo tradições várias, do funk, soul, gospel e pop, antes de explorar os ritmos cabo-verdianos, angolanos ou brasileiros. Em 1999 estreia-se com álbum ‘Mi ma bo’, que foi produzido pelo congolês Lokua Kanza, grande mestre que, no dizer de Sara, lhe abriu os horizontes para a música que ainda não conhecia, como a de Salif Keita e Miriam Makeba.
Em 2005 o disco ‘Balancê’, que lhe valeu uma nomeação para revelação nos prémios World Music da BBC Radio 3, e tinha colaborações com nomes como os portugueses Melo D e Ana Moura e o cabo-verdiano Boy Gé Mendes.
Lembra o Público que esse trabalho discográfico recebeu elogios rasgados de jornais como The New York Times ou The Guardian e “ajudou-a a catapultar a sua música no circuito mundial da chamada world music, um ambiente em que teve muito sucesso ao longo dos anos”.
‘Xinti’ foi lançado em 2009, pela editora neerlandesa World Connection, que também tinha editado, um ano antes, Alive! in Lisboa, gravado ao vivo no Cinema São Jorge, em Lisboa, em DVD, com uma versão também em CD com os seus primeiros discos.
Numa entrevista em 2014, revelou como a fama encontrada em 1994 lhe tinha mudado a vida. "Estava a preparar-me para seguir o liceu, ser uma operária, talvez, mas surgiu a oportunidade de cantar e agarrei aquilo".
"Sou de passo lento. Sou tímida. E depois, procuro muito. O caminho não foi óbvio. Não havia um estilo genérico que eu quisesse. Estive sempre a trabalhar numa fusão que se quer simples, ao nível dos poemas e da música, mas onde as coisas fluíssem. Levei tempo a bolar isso. E não gosto de forçar, não tenho um método, vou andando um pouco ao sabor do vento", fez saber.
O seu álbum mais recente, ‘Fitxadu’, saiu em 2017, oito anos após o anterior, e tinha como convidados os angolanos Toty Sa’Med e Paulo Flores, bem como Princezinho. O disco foi nomeado para um Grammy Latino. Desde então, tinha lançado vários singles, o último dos quais, Kurtidu, saiu em Setembro.
Em 2011, recebeu Prémio de Melhor Voz Feminina nos Cabo Verde Music Awards e em 2012, no ano que deu continuidade à digressão internacional de "Xinti", ganhou o Prémio Carreira do África Festival na Alemanha.
Sara Tavares nasceu em Lisboa, em 1978, filha de pais cabo-verdianos. Cantou em bandas sonoras portuguesas de filmes da Disney como O Corcunda de Notre Dame ou Hércules, e colaborou em discos de artistas como Ala dos Namorados – deu voz ao êxito de 1999 ‘Solta-se o Beijo’ –, Júlio Pereira, Nelly Furtado, Theo Pas'cal, Filarmónica Gil, Buraka Som Sistema, Carlão, Ferro Gaita, Alune Wade e Harold López-Nussa ou Moullinex.
Este domingo, 19, a borboleta que voava ao sabor do vento poisou-se eternamente, vítima de um tumor no cérebro.
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