...o conceito/expressão “melhores filhos dos povos das nossas terras africanas da Guiné e de Cabo Verde” tem em Amílcar Cabral um alto sentido ético e uma elevada conotação moral, roçando quase uma presumida e aristocratizante superioridade moral (também ela presunçosa? Podemos perguntar-nos com toda a legitimidade, mas essa mesma adjectivação seria dificilmente aceitável no âmbito da interpretação da obra de Amílcar Cabral, na qual as questões morais, não somente as mais corriqueiras relativas aos comuns e anónimos militantes da causa da emancipação nacional e social dos povos africanos, mas também as atinentes às condutas, aos comportamentos, às atitudes e às posturas dos dirigentes das lutas de libertação nacional e social desses mesmos povos africanos, detêm uma especial significação, por exemplo, para o chamado suicídio da "classe pequeno-burguesa de serviços" técnicos, científicos, intelectuais e, em geral, burocrático-administrativos.
"A arte fica, o comentário petrifica" - Ruy Belo
À memória e em homenagem de Caló de Dona Tina, malogrado e estimado amigo e camarada da brincadeireira infância assomadense e das expectantes juventude e maturidade praienses
PRIMEIRA PARTE
DOS INAUDITOS E TRANSLÚCIDOS SENTIRES DO CORPO E DA PRIMEIRA APARIÇÃO DA VOZ CABRALISTA COMICIEIRA DO LOUCO PREDILECTO DA CIDADE
Às vezes, convencemo-nos que o destino nos persegue. Ou que, prosseguindo os obscuros caminhos da noite, trilhando os aturdidos e fenecidos atalhos da insónia, perseguimos o destino.
Medito nisso agora, num turvo momento de lucidez, em que nem sequer sinto o meu corpo. Aliás, em que me sinto irremediável e desgraçadamente guilhotinado: o corte total entre a cabeça e o corpo, entre o cérebro e os andrajos da noite, entre o torso e o resto que se lhe segue como crepuscular invólucro e expectante espectro da mente, entre a lucidez e a comiseração, entre a comiseração e o pudor, entre o pudor e a vergonha...
A comiseração e a vergonha de ter ontem escutado e escrutinado o Louco Predilecto da Cidade num grande comício perante os transeuntes indiferentes. É verdade que o Louco Predilecto da Cidade falou e explanou sobre realidades por demais visíveis, como, por exemplo:
i. O desemprego galopante que assola o ressequido meio rural caboverdiano e as hostes exasperadas das populações suburbanas das cidades, com especial incidência nas mulheres, de há muito insatisfeitas com o seu estatuto de mães-de-filho reduzidas à extenuante domesticidade dos lares periclitantes, da irresponsável ausência dos seus pais-de-filho absolutamente ignorantes dos seus deveres paternais e das suas eventuais, ainda que muito intermitentes, obrigações de assistência, de apoio e de prestação de alimentos em face da rude má-criação dos seus comuns rebentos, bem como nos adolescentes e nos jovens, desde sempre dos tempos do outrora colonial, muito carecidos da devida preparação para os desafios da vida adulta e, nos tempos de agora dos tempos pós-coloniais, bastas vezes defraudados nas suas expectativas de acesso aos ensinos liceal, profissional e técnico e de frequência dos ensinos universitário e politécnico.
ii. A pequena corrupção omnipresente e omnisciente, insinuando-se imparável e indeclinável por todos os poros da sociedade em esperta reciclagem das muito sedimentadas e herdadas - nos tempos de antanho muito produtivas e moralmente sustentáveis - solidariedades familiares, clânicas, comunitárias e insulares.
iii. As Frentes de Alta Intensidade de Mão-de-Obra (oficial, solene e adequadamente baptizadas como FAIMO (e nesta instância do discurso, digo da predicação, ou, melhor dito, da peça oratória neste imaginado teatro de rua, comoveu-se (pro) fundamente o Louco Predilecto da Cidade, assomando-se-lhe ao rosto lívido nítidos laivos de uma contida revolta) tragicamente conjugada com a baixa intensidade da esperança dos seus mal-remunerados, míseros e sub-empregados trabalhadores braçais, (in)distintamente homens e mulheres, (in)diferenciadamente jovens e idosos, (des) igualitariamente deficientes de carne e/ou mente/alma e plenamente sãos de corpo e espírito, todos fiscalizados no seu áspero e extenuante labor sob o sol incendiando-se inclemente e brilhando nos céus esvaziados de nuvens e de outros eventuais sinais nutrientes da esperança de chuvas pelo atento olhar dos capatazes, amiúde arbitrário, férreo e omnipotente, e, não raras vezes, pela sua benevolência, umas vezes solidária e humanista, outras vezes compreensiva e condescendente, sendo todos igual e invariavelmente denominados pela palavra demagógica dos comissários políticos de serviço como “heróis anónimos do povo das ilhas”, destacando-se de entre eles os que se distinguem especialmente pela sua abnegada e honrada entrega a uma ética do trabalho humilde e honesto, muito característica do homem rural das nossas pobres ilhas, e, assim, se inscrevendo os mais destacados de entre eles como “os melhores filhos do povo simples e humilde”, tantas vezes indigente, deste martirizado arquipélago saheliano, imerso no trabalho voluntário que lhe foi destinado e voluntariosamente por ele abraçado em face das prementes necessidades dos filhos pequenos vulneráveis, dos pais idosos e, tal como os próprios, criaturas humanas nascidas para a desgraça, prestes a claudicar em face das muitas fraquezas do seu corpo, da sua carne, do seu espírito, da sua mente e da sua alma. Trabalho esse produtivo mas, diga-se, quase gratuito por que dotado de remuneração suficiente somente para assegurar a sobrevivência física no limiar da miséria (e chegado a este crítico ponto, não mais conteve o louco predilecto da cidade a comoção e a irritação das palavras de há muito em estado de meditação, por isso não poupando nem na ironia e no humor cáustico, nem tão pouco na explanação e na ostentação do saber marxista revolucionário dos seus antigos tempos de jovem oficial das FARP - Forças Armadas Revolucionárias do Povo-, cursado e formado nas academias militares de Cuba e de outros países socialistas, e de leitor curioso, atento, assíduo e, bastas vezes, clandestino das obras de Marx, Engels, Lenine, Staline, Trotsky, Mao Tsé Tung, Ho Chi Min, Nguyen Van Giap, Franz Fanon, Albert Memmi, Clemente Zamora, Kwame Nkrumah, Ernesto Che Guevara, Fidel Castro, Samora Machel, Nelson Mandela e o nosso sempre presente Amílcar Cabral), deste modo militante e patriótico concitando esses mesmos distintos e distinguidos émulos dos seus colegas laboriosos nos trilhos insepultos do rosto crã do desespero o respeito, a compaixão, a confiança e a camarada fraternidade desses outros, os verdadeiros e autênticos “melhores filhos do povo”, aliás, muito cientes de si próprios e ciosos desse (a)tributo estatutário alegadamente meritocrático e ostensivamente aristocrático. (A)tributo estatutário, aliás, possivelmente criado ou, pelo menos, reinventado e muito utilizado por Amílcar Cabral para se referir àqueles filhos dos povos da Guiné e de Cabo Verde que se evidenciavam pela sua entrega total às crescentes exigências da luta de libertação bi-nacional e à cada vez mais indefectível defesa dos interesses das populações, sempre com elevado espírito de patriotismo e sentido de missão fundada numa ética imbuída de solidariedade humanista e de respeito pela dignidade do outro, velho, adulto, jovem ou criança, homem ou mulher, alto dirigente, responsável político, comandante militar ou simples lavrador, médico, enfermeiro, professor, engenheiro, estudante ou miliciano, consubstanciando-se tal qualificativo nas circunstância históricas concretas da sua criação, da sua reinvenção e da sua utilização originais como expressando e significando a activa participação dos respectivos protagonistas nas mais diversas formas e modalidades de defesa dos interesses das gentes das nossas terras, diversamente posicionadas a nível cultural e económico-social e assaz diferenciadas do ponto de vista político, da luta pela emancipação social, cívica e cultural bem como pela libertação política bi-nacional dos povos da Guiné e de Cabo Verde. Ademais, quis Amílcar Cabral certamente significar com a mesma controversa expressão aqueles filhos dos povos da Guiné e de Cabo Verde que através da natural selecção possibilitada e mediada pelas exigências da luta de libertação bi-nacional nos mais diversos campos, frentes e áreas de actividade se (de)monstrassem à altura de poderem ser considerados não só como guineenses e/ou caboverdianos, isto é, como filhos da Guiné e/ou de Cabo Verde no sentido cultural-identitário, mas também como nacionalistas e patriotas comprometidos com a libertação política das nossas terras africanas da Guiné e de Cabo Verde, por isso, passíveis e susceptíveis de legitimamente integrarem tanto as populações dessas mesmas terras africanas enquanto categoria meramente demográfica e antropológica, mas também de integrarem o povo, enquanto categoria historicamente definida como constituída do conjunto daqueles elementos de uma dada população actuantes a favor do progresso social, cultural, económico, político ou outro de uma dada sociedade num contexto político determinado pelos ventos predominantes da sua concreta História. É nessa dialéctica que ele, Amílcar Cabral, considerava que com o desenvolvimento da luta e da sua culminação na obtenção das independências políticas dos nossos países, chegar-se-ia a um novo patamar de contradições em que nem todos os militantes da causa da emancipação nacional e da soberania política dos povos da Guiné e de Cabo Verde (por isso, num determinado contexto histórico considerados membros legítimos do partido-movimento de libertação bi-nacional enquanto organização política que reúne nas suas fileiras o mais amplo e maior número possível de militantes nacionalistas e patriotas) podem ser considerados como verdadeiramente identificados com o ideário do partido enquanto organização política de vanguarda visando a construção gradual nas nossas terras de uma sociedade democrática e progressista por mor da sua natureza anti-colonialista, anti-neocolonialista e anti-imperialista e visando a longo prazo a extirpação do seu seio da exploração do homem pelo homem e de qualquer tipo de sujeição das criaturas humanas - em especial, dos filhos da Guiné e de Cabo Verde - a interesses egoístas e degradantes de indivíduos, de grupos ou de categorias sociais, conforme lavrado no Programa Maior do Partido que fundou e liderou.
Tal diferenciação selectiva seria, segundo Amílcar Cabral, de grande relevância como critério, sempre mutável, consoante as circunstâncias, as exigências e os desafios históricos concretos, para se distinguir aqueles militantes da causa da libertação bi-nacional que podiam ser considerados como plena e totalmente dignos de fazerem parte do partido enquanto organização política de vanguarda dos melhores filhos dos povos das nossas terras africanas da Guiné e de Cabo Verde daqueles outros indivíduos que na nova fase pós-colonial da luta para a integral libertação bi-nacional dos povos da Guiné e Cabo Verde e para a emancipação social total das classes laboriosas e exploradas em nada se destacam enquanto militantes do partido-movimento de libertação nacional e social, mesmo sendo detentores e titulares de altos cargos políticos, militares, judiciais, burocrático-administrativos ou outros. Neste sentido, o conceito/expressão “melhores filhos dos povos das nossas terras africanas da Guiné e de Cabo Verde” tem em Amílcar Cabral um alto sentido ético e uma elevada conotação moral, roçando quase uma presumida e aristocratizante superioridade moral (também ela presunçosa? Podemos perguntar-nos com toda a legitimidade, mas essa mesma adjectivação seria dificilmente aceitável no âmbito da interpretação da obra de Amílcar Cabral, na qual as questões morais, não somente as mais corriqueiras relativas aos comuns e anónimos militantes da causa da emancipação nacional e social dos povos africanos, mas também as atinentes às condutas, aos comportamentos, às atitudes e às posturas dos dirigentes das lutas de libertação nacional e social desses mesmos povos africanos, detêm uma especial significação, por exemplo, para o chamado suicídio da "classe pequeno-burguesa de serviços" técnicos, científicos, intelectuais e, em geral, burocrático-administrativos.
No caso vertente - relembre-se que expressamente remetido para as circunstâncias específicas e muito concretas de um Cabo Verde recentemente erigido em país soberano e independente confrontado com um generalizado e quase unânime juízo da Comunidade Internacional de passiva conformação e/ou de resignação com a condição da sua patente, recente e alegadamente congénita inviabilidade económica em razão da sua gritante carência de recursos económicos e naturais conhecidos, do abandono e da negligência coloniais em relação à colónia/província ultramarina duradouramente denominada arquipélago da fome e província mártir e, concomitantemente, as crónicas ausência e falta por parte das diferentes autoridades coloniais da adopção atempada de medidas adequadas para garantir a sustentabilidade da economia e da sociedade caboverdianas, a sobrevivência e a existência em condições dignas do povo caboverdiano contra a sua resignação e o seu fatalismo face às mortandades provocadas pelas estiagens cíclicas e a outras periódicas calamidades climatéricas e outras sucessivas tragédias históricas, como a sua multissecular submissão à escravatura e a sua duradoura sujeição ao trabalho serviçal semi-escravo nas plantações e roças do Sul-Abaixo; as relativas insuficiência e disponibilidade de quadros técnicos e científicos média e altamente qualificados, ademais fustigado por um longo ciclo de secas severas quase-permanentes (o que no caso caboverdiano implica necessariamente a traumática rememoração das consequências mortíferas das estiagens periódicas passadas), outrossim, florescendo, sobrevivendo e, bastas vezes, padecendo sob o autoritarismo revolucionário de um regime socializante de partido único, se bem que em regra tido por assaz mitigado, e, por ora, abstraindo da falsidade e da infâmia que os impenitentes detractores do muito respeitado teórico e pedagogo político Amílcar Cabral passaram a colar ao controverso conceito “melhores filhos do nosso povo” (tal como, aliás, igualmente, aos conceitos de “povo”, “camarada” e “população” e às expressões “homem novo”, “pátria africana”, “nação africana forjada na luta” e outros constructos teóricos culturalmente concebidos e historicamente situados), quiçá fazendo jus à imagem, assaz recorrente e visível nestes tempos pós-coloniais, de uma eventual pertença da classe política governante e dirigente nas ilhas e na antiga república-irmã continental-africana a uma casta social exclusiva e privilegiada integrada por uma certa e identificada nomenclatura burocrática e político-partidária.
Por isso e pretendendo dissecar melhor a questão para a compreensão geral de todos, apraz fazer (con) verter a expressão “os melhores filhos do nosso povo” referindo-a para em concreto designar os integrantes e os sucessivos aspirantes e postulantes em diversos graus de apossamento e nos diferentes degraus de ascensão aos lugares cativos da nomenclatura do Partido, o qual, e por mor da sua incontestável legitimidade histórica adveniente dos incontáveis sacrifícios consentidos na luta político-militar e na mobilização política para a libertação bi-nacional no chão das duas Guinés e nas diásporas bissau-guineenses e caboverdianas bem como na pugna diplomática junto dos países aliados, das organizações da sociedade civil, das personalidades e dos partidos amigos bem como das instituições internacionais de referência, agora acrescidos das muitas agruras ainda hoje suportadas e felizmente superadas pela sua admirada e frutificada sagacidade na não menos difícil e complexa, mas igualmente exaltante e gratificante saga heróica da reconstrução nacional, foi instituído como força política dirigente do Estado e da sociedade, bem assim, e enquanto partido das classes trabalhadoras muni(cia)do de uma ideologia revolucionária cientificamente fundamentada, como vanguarda das organizações de massas e das demais organizações sociais representativas dos interesses das mais diversas e diferentes forças vivas do povo das ilhas e diásporas, desta forma e nestes modos pretendendo-se e agindo como um amplo movimento de libertação bi-nacional no poder e actuante no quadro do regime da democracia nacional revolucionária instituída como a forma mais adequada de organização de um sistema político de assembleia dotado de um órgão legislativo, de âmbito nacional, universal, directa e secretamente electivos (sendo que, segundo a Lei da Organização Política do Estado, mais conhecida pela sigla LOPE, e, a partir de 1980/1981, da Constituição da República, o Presidente da República é eleito pela Assembleia Nacional Popular, o mesmo ocorrendo com o Primeiro-Ministro proposto pelo Presidente da República), e de órgãos deliberativos e consultivos e de órgãos executivos de âmbito local designados no quadro e adentro de uma lógica política que tem por inamovível fundamento a indivisibilidade da soberania popular baseada na unicidade do poder político unitário do Estado, bem como de um poder judicial sempre politicamente comprometido, por força da LOPE e depois da Constituição da República, com o progresso social das amplas massas populares, se bem que formalmente independente porque orgânica e funcionalmente dotado de juízes e agentes do Ministério Público junto dos tribunais nomeados pelo poder político para administrarem a justiça e decidirem as causas em litígio, dirimindo os conflitos de interesses, segundo a lei e a sua consciência, sendo que o conjunto do sistema acima delineado deve estar assente primacialmente na unidade nacional do povo caboverdiano nas ilhas e diásporas e numa ampla e inquebrantável aliança de todas as classes e categorias sociais nacionais. Assinale-se neste contexto que os fundamentos, os princípios e os objectivos anteriormente trabalhados, elaborados e consignados no Programa Maior do Partido - assim tornado fonte inspiradora da mobilização para a luta e para a saga da tomada do destino do povo caboverdiano nas suas próprias mãos-, procurados, escrutados e encetados desde a hora zero da República em julho nosso ourgulho para a (re) construção paulatina e segura no chão das ilhas dos alicerces de um país novo rumo à sociedade futura alavancada por um homem novo, fundada na dignidade da pessoa humana, na defesa dos interesses do povo laborioso e na satisfação das necessidades mais prementes do país, em especial das suas camadas mais carenciadas e vulneráveis, e definitivamente isenta da exploração do homem do homem, da fome, da miséria, da ignorância e do medo, como, aliás, magistralmente propugnado e fundamentado por Amílcar Cabral. Anote-se ademais, como também fez questão de sublinhar o Louco Predilecto da Cidade, que tudo isso que vem sendo constantemente proclamado urbe et orbe nas ilhas e diásporas se deve desenrolar e desenvolver não nos termos depois (nos tempos que certamente hão-de vir e irromper de forma previsivelmente disruptiva e, até, explosiva, se não se precaver e se prevenir com a tempestiva adopção das medidas políticas e económico-sociais devidas e pertinentes, como, aliás, alertado no poema/canção "Conjuntura", do grande poeta e assertivo músico-compositor Kaká Barboza) cogitados, proclamados, defendidos e impostos pelos vindouros mandatários políticos dos futuros oligarcas, hierarcas e de outros cortesãos dos novos arribados à titularidade do poder político, de entre os quais certamente pontificarão os inevitáveis cleptocratas (certamente enquanto fautores necessários, se não imprescindíveis, da generalização e da quase-normalização da grande corrupção, sobretudo nos domínios das privatizações das empresas públicas para benefício directo maioritário das multinacionais, em especial daquelas oriundas da ex-metrópole colonial, da especulação imobiliária e dos tráficos e negócios dos terrenos e dos solos públicos urbanos, da criminalidade organizada atinente ao tráfico de estupefacientes e da compra de votos e de consciências e de outros ilícitos eleitorais), todos integrantes da nova classe economicamente dominante e politicamente hegemónica e governante, emergente das ruínas do autoritarismo revolucionário do regime de partido único socializante. Sendo certo que a nível africano a modalidade mais cruel e maligna do autoritarismo revolucionário do regime de partido único socializante é o neo-estalinismo tropical, mais ou menos ortodoxo, mais ou menos virulento e repressivo, mais ou menos genocida e liberticida, o autoritarismo revolucionário do regime de partido único socializante caboverdiano assume certamente um perfil sumamente mitigado, adoptando vestes assaz moderadas e suavizadas, aliás, como seria próprio e característico do nosso caso arquipelágico saheliano, segundo vêm defendendo alguns estudiosos e teóricos nacionais e estrangeiros da experiência caboverdiana do regime político socializante de partido único.
*Prosopoema iniciado por Alma Dofer Catarino, mas depois mental e mortalmente contaminado, e de modo assaz atroz e fulminante, por incursões discursivas de Dionísio de Deus y Fonteana, Tuna Furtado Lopes, Erasmo Cabral de Almada e Nzé de Sant´y Ago, envergando ambos os pseudónimos literários e ambos os pseudo-heterónimos poéticos as vestes esquizofrénicas - incluindo as póstumas - do Louco Predilecto da Cidade
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