Estórias e comportamentos dos bichos 6
Cultura

Estórias e comportamentos dos bichos 6

 

CAPÍTULO TERCEIRO

A RATOMACACOHUMANOLOGIA

A adenda da proposta de Lei denominada «SOFA», imposta pelo Pitbull Norte-americano, acabou sendo aceite e aprovada pela maioria da situação, tendo merecido a contestação, rejeição e indignação de toda a oposição, quer dos deputados da Esquerda, do Centro e da Direita. Unanimemente, todos puseram o dedo na tinta, requerendo a sua Fiscalização Abstrata Sucessiva da Constitucionalidade ao Presidente dos Bichos, neste caso, Sua Excelência o Elefante, questionando a soberania da Selva. E sendo Leão o Presidente daquela Assembleia, a Constituição dos Bichos o designa Presidente Substituto dos Bichos nas vacaturas ou ausências do Presidente. E estribado nessa prerrogativa, forjando a interpretação da lei, o Leão auscultou tudo e a todos de forma paciente, embora com pouca inteligência e justeza, ratificou, ele mesmo, a «SOFA» enquanto Presidente interino dos Bichos, com a conveniente introdução de alterações nos textos originais, que passaram a ser o seguinte:

– Ratifico o acordo «SOFA», com todas as exigências impostas pelos Estados Unidos da América, nos seguintes termos: «Todos os gatunos, aldrabãozecos, falsificadores e incompetentes, excetuando o Presidente da Assembleia, seus colaboradores próximos, amigos e familiares com os quais se dão bem, tal qual os deputados da Situação, estarão sob a jurisdição penal dos Estados Unidos da América, podendo ser enforcados ou enjetados veneno nas veias».

A Oposição ficou fula e requereu junto ao Tribunal Constitucional dos Bichos que que averiguasse e declarasse a inconstitucionalidade da jurisdição dos Estados Norte-americano no solo da Selva.

Já na ocorrência da caca dulcificada, que poderia ter entrado no circuito comercial caso a denúncia não tivesse sido feita, Leão não podia fazer nada sem que houvesse uma queixa formal, que denunciasse o deputado Fonfom de falsificar mel e comercializá-lo nos mercados nacionais ou internacionais, ou mesmo no mercado negro ou clandestino. Mais a mais, esse tipo de delito não se configura no rol de crimes públicos em que o Ministério Público pode investigar e arrolar testemunhas incriminatórias, independentemente da denúncia ou de ter havido queixa por parte do morto envenenado ou do familiar enlutado. E nem era considerado crime semipúblico, em que Leão se poderia falsificar um «semidireito» – já que esse tipo de norma não existe em nenhum ordenamento jurídico –, mandar investigar e instaurar um processo-crime contra o eleito Fonfom, levantando-lhe a protetora impunidade parlamentar, acusando-o de bichocídio negligente [equivalente ao homicídio negligente], cujo móbil do crime seria a comercialização de caca por mel. Nesse caso a justiça só pode agir mediante uma queixa formal, apresentada pelo lesado ou, se o consumidor final adoecer, ou morrer, o Ministério Público poderá mandar abrir um inquérito, instaurar um processo para depois mandar arquivar, porque o Fonfom era deputado e contra a elite política e seus amigos próximos e familiares a justiça é impotente e o Juiz incompetente.

O deputado Rato, que embora com um olho posto num pedaço de queijo que tão próximo se encontrava, o outro num Gato que, também, não muito distante se achava, levantou o dedo e interferiu com uma certa estranheza:

– Consumidor final?!

– Sim, senhor deputado – explicou Leão, como se fosse, na realidade, jurista.

– O consumidor final são os Porcos, os Cachorros, as Galinhas, Lagartixas, Formigas e Bagabagas – insistiu Rato convencido de que estava certo.

– Não, senhor deputado – tentou Leão ser mais explícito. – O Consumidor final será sempre quem comprar um produto e o consume. Entendido?

– Não – continua rato teimosamente. – O senhor está equivocado. Está a querer dizer: «Comprador Final». Consumidor final quer dizer, aquele que ingere o produto em último lugar. Neste caso, são os Porcos, os Cachorros, as Galinhas, as Lagartixas, as Formigas e as Bagabagas.

– Como assim? – perguntou Leão, com a paciência bastante diminuída.

O eleito Rato ficou comprometido, aterrorizado e amedrontado com aquele timbre percetivelmente ameaçador. E quem concluiu o seu crítico raciocínio foi a Macaca.

– Eu já percebi o que é que o deputado Rato está a querer dizer.

Todos se riram, troçando do atrevimento da Macaca, armada desde do início, em Advogada. E a deputada Lagartixa não querendo perder a oportunidade para enxovalhar o Rato, pediu para usar da palavra e foi-lhe concedida.

– A Macaca está a defender o Rato porque são colegas. São todos ladrões e descarados.

O Leão bateu com o martelo na mesa e advertiu a deputada Lagartixa, cortando-lhe o som dos microfones, como pretexto de que o assunto seria discutido mais além. Pois, a Lagartixa já tinha apresentado uma queixa contra o deputado Rato. Mas o deputado Rato não se conformou com a injúria, descambou contra Lagartixa forte e feio. Ousou mesmo arriscar cometer um crime regimentar que lhe poderia custar a perda da impunidade, quiçá, o próprio mandato ser caçado e ir hospedar-se por uns tempos em Achada Bombena, fosse o país uma coisa séria e governantes não fantoches. E respondeu então:

– Senhora deputada Lagartixa. Eu sou ladrão, sim. Sabes porquê?

– Porque não tens vergonha na cara.

– Não é por isso não. Estás mesmo confundida. Eu roubava para comer, quando ainda não era deputada, para que os meus filhos não comessem caca como os teus filhos as comem. Agora, como deputada, ganho bem e granjeio de toda a mordomia. E depois, aqui no Parlamento não há ladrão. Pode-se até carregar o edifício da Assembleia, que simplesmente é acusado de ter feito um pequeno desvio, sem consequências nefastas. Por isso, estou nas tintas, que agora e NHA BES.

O Leão ficou fulo e bateu com muita fúria o martelo na mesa:

– Cale-se, senhor deputado Rato – virou-se para Macaca. – Estamos à espera que nos diga o que achou que queria dizer o deputado Rato.

– O deputado Rato queria dizer que, quem compra os produtos são os Homens-Bichos, que são os donos do dinheiro e mestres em aldrabices.

Veementemente entra o deputado Rato novamente em cena:

– Exatamente. O colega tem razão. Os Homens-Bichos compram o produto, neste caso, mel-caca dos Fonfons, ingerem-no, vão ao kobon fazer as suas necessidades e, os consumidores finais são aqueles que vão lá comer aquela sua merda, como o Porco, o Cachorro, a Galinha e a Lagartixa. Já a Formiga e Bagabaga, só quando os Homens-Bichos morrerem intoxicados é que vão à sua sepultura e comem a sua carne envenenada. Por isso os consumidores finais são esses, sim senhor.

Perante essa argumentação os aplausos inundaram a sala. O Leão inclinou a cabeça para o chão, matutou um bocado e levantou-a novamente. Desligou-se completamente das quezílias entre deputada Abelha e deputado Fonfom. Preferiu olhar para o deputado Macaco e depois para a plateia antes de rugir:

– O deputado Macaco continua a insistir que deve ter um outro nome?

– Continuo, sim senhor.

– Atendendo e respeitando a sua vontade, não vejo inconveniente nenhum. Mas, como devem saber, temos alguns formalismos legais a cumprir. Por isso, edito a suspensão deste congresso para daqui a duas semanas, a fim de realizar um teste a todos os Bichos com a máquina ratomacacohumanologia antes de tomar decisão definitiva.

Todos concordaram e dispararam várias e fortes ovações. Alguns deputados, por acaso, estavam já bastantes exaustos e precisavam de ir à casa tomar um duche e descansar um coxi. Mas antes de dispersarem, o Leão decretou uma nova norma que suspendia, ou melhor, que adiava por mais duas semanas e um dia, o Decreto Leonino que obrigava os Gatos a assegurarem os serviços mínimos nos gabinetes. O novo decreto permitia que os bichanos não acatassem a requisição civil e que fizessem greve durante o período decretado, precisamente para que Leão pudesse partir para Angola onde a lei só seria aplicada sete anos mais tarde. E mandou colocar três máquinas de apanhar ladrões, a ratomacacohumanologia, em três lugares estratégicos. Uma nas íngremes rochas da Cumba e do Porto Mosquito, outra na cosmopolita cidade da Praia e uma outra num buraco da parede de um grande armazém de queijo, ou seja, na Adega em Achada Grande. Em três dias, a que foi colocada nas rochas filmou dois terços de Macacos a roubar. Em quatro dias, a que foi colocada no buraco da parede, só não filmou a roubar, uma ratazana que estava parida e no ninho a cuidar das crias recém-nascidas. E a que foi colocada na cidade, em menos de 24 horas, já lá não estava. Tinha sido roubada pelos Homens-Bichos. Então Leão tirou as ilações e concluiu que, dentre os males, o menos mal era o dos Macacos.

Todavia, pelos sucessos das suas intervenções, a Macaca aproveitou nos dias dessa folga Parlamentar e foi requerer sua inscrição na Ordem dos Advogados Macacos. E candidatou-se, de seguida, à Bastonária nas próximas eleições.

Passaram as duas semanas, os Bichos reencontraram-se para a continuação da reunião, com o único Ponto na Ordem-do-Dia: «Apresentação, discussão e mudança do nome ao Macaco», conforme os resultados dos testes da ratomacacohumanologia. O Leão já tinha visto os resultados. Por isso, iniciou a sessão, começando por tecer algumas considerações pertinentes, quiçá, abonatórias sobre a conduta dos Símios, habitantes dos alcantilados rochedos da Cumba e Porto Mosquito. E disse:

– Caríssimos deputados, caros Bichos assistentes. Pelo que pude constatar, após a verificação e análise aos resultados imprimidos pela estupenda ratomacacohumanologia, fiquei convicto de que os Macacos têm sido e continuam a ser vítimas de um sistema corrupto, repugnante, viciado e nojento, guiado e comandado pelos déspotas, asquerosos, nocivos e miseráveis Homens-Bichos. Foram e estão sendo mártires de perseguições, de uma cabala montada sem precedente, um invulgar acossamento, vil, descarada e vã, por parte, infelizmente, daqueles que como exemplo nada têm para oferecer. Não têm pejo nem remorso, fazem tudo sem melindre e sem pudor. Simplesmente não têm escrúpulos. E principalmente os mais incautos, imprestáveis e gatu

Queria dizer Gatunos, mas titubeou-se ao lembrar que o deputado Gato poderia ficar arreliado, pediu uma enxuta desculpa:

– Perdão, mister Gato

E continuou:

– Principalmente os mais incautos, imprestáveis e gateiros Homens-Bichos, tão ladrões quanto aldrabões, criminosos descaracterizados que em menos de 24h00 já haviam sarapionado a ratomacacohumanologia, a majestosa máquina detetora de pechelingues que havia sido colocada na cidade para os desmascarar.

Depois desse magnífico e empolgante discurso, do âmago da alma do deputado Macaco emanou, flutuosamente, um despertar eufórico e um sentimento rejubilado. Sentiu-se uma tranquila e quase misteriosa paz invadir-lhe o espírito. E não se coibiu em executar três perfeitas e inimitáveis piruetas acrobáticas seguidas. Eram piruetas tão majestosas e contagiantes que até o deputado Gato, o bichano de sete vidas, que nunca cai noutra posição que não de pé, mesmo arremessado de qualquer precipício ou altitude inferior da que vitimara o seu tetravô, ficou a babar-se de inveja depois de avaliar a categoria daquela magistral habilidade simiesca. E a Macaca não quis descurar o ensejo para, de forma entusiástica, corroborar e partilhar a alegria do querido esposo, quiçá, a alegria de todos os outros símios. Grasnou:

– Deus não dorme. Ele fez justiça. A justiça divina tarda mas não falha. Allahu akbar [Deus é grande].

O deputado Macaco e a sua esposa eram dos que não apareceram nas objetivas da ratomacacohumanologia, a famosa máquina detetora de ladrões. Então o Leão perguntou-lhes:

– Querem então que vos mude o nome?

Sem hesitação, o deputado Macaco anuiu a sua concordância:

– Eu quero.

E a esposa imediatamente fortificou-lhe a vontade.

– Queremos sim, senhor Leão.

E, perentoriamente, decretou Leão:

– Por força das minhas forças e pelos estatutos que me conferem o régio título de capataz da selva, conjugados com as demais prerrogativas que me são atribuídas, decreto, doravante, que todos os Simões, nascidos ou nascituros, mortos ou moribundos, passem a chamar-se Chico.

Chico?! – Perguntou deputado Macaco um pouco surpreso.

A Macaca até se engasgou com a saliva quando ia, estupefacta, perguntar:

– E eu, senhor Leão? Passarei a chamar-me Chica?

– Pode ser! Embora Chico seja um nome, ou se quiserem, um substantivo próprio onde englobam todos os ex-Macacos, macho e fêmea. Como sabem, no seio dos Homens-Bichos, poucas das suas esposas são tachadas de Macaca. Mas aos esposos… quase todos são chamados de Macacos, infelizmente, como sinónimo de aldrabãozecos.

– Mas porquê Chico? Não podia ser Pereira, Pires, Mascarenhas Monteiro, Veiga, Neves, Fonseca, Correia e Silva, Freire ou outros nomes dos quais a justiça tem medo? – perguntou Macaco num tom indiscreto e sem ironia.

A deputada Mosca estava um pouco sonâmbula, mas acordou depois de umas gargalhadas, ovações e, até, por algumas vaias que emanaram do hemiciclo e ecoaram até ao exterior do Curralona, quando o Macaco começou a citar os primeiros nomes da sua preferência a adotar. E disse de forma escarnecida:

– Reparem que o deputado Macaco não é tolo! Prefere esses nomes para ganhar impunidade e roubar sem que ninguém o chateie! Tem razão! Entre esses nomes, um hipotecou um avião e por descuido afundou um navio; o outro, não menos tanso, vendeu os restantes aviões bem como a própria Companhia. E o Macaco então, com a sua ardilosa astúcia, irá certamente vender o próprio Presidente dos Bichos.

O deputado Macaco esticou o rabo, emproou as omoplatas e afunilou o beiço para ripostar, mas o Leão não o permitiu. E como já é da praxe, o deputado Papagaio interveio sem a prévia autorização.

– Oh! O Presidente dos Bichos ele pode até vendê-lo se quiser. Não faz falta a bicharada. Só que a minha dúvida é se aparecerá quem o quererá comprar mesmo pelo preço balato.

Todos se riram e o Leão continuou explicando-se depois de perceber quais as verdadeiras pretensões do deputado Simão:

Chico significa pouca comida. Por exemplo, quando se está a juntar as mãos nas mondas ou nas sementeiras e o almoço não chega para todos, diz-se que o dono do lugar onde ocorre a monda ou sementeira, ou simplesmente, anfitrião ou banqueteador, se deu Chico. Por isso, como vocês roubam pouca comida…

O deputado Macaco não se coibiu, corrigiu imediatamente o seu sentenciador:

– Roubamos pouca comida, não, senhor! Nós nunca roubamos. Freie, por favor, essa sua boca, porque não lhe admito.

– Desculpa – admitiu Leão. – Deduzo que nem sempre conseguem saciar a fome.

– Você quer que lhe diga? – Intrometeu Macaca, esquecendo-se que ela não era deputada. – Por acaso é verdade. Nunca saciamos a nossa fome. Desenrascamo-nos à pressa, com olhos bem arregalados, olhando hora pra lá, hora pra cá, com medo daquele maldito filho de Cadela.

Decisivamente, o Leão perguntou ao deputado Macaco:

– Então queres aceitar que vos chamem, a partir de agora, Chico?

– Aceito. É melhor do que chamar-nos Macaco. Nós não somos macacos!

Oficialmente os Macacos mudaram de nome. Os machos passaram a chamar-se Chico, as fêmeas, Chicas, os filhos, Chiquinhos ou Chiquitos, e as filhas, Chiquinhas ou Chiquititas. A pedido ou a mando do Leão, brindaram todos com uma salva de palmas. E Leão virou-se e disse:

– Agora, para selarem as pazes e jurarem uma reconciliação eterna, ou pelo menos duradoira, ordeno a que o deputado Macaaaa… oh, perdão. A que o deputado Chico e o deputado Cão se desculpem um ao outro e se certifiquem com um robusto abraço.

Eivado pelo rancor, o deputado Chico admitiu a proposta, mas apenas parcialmente.

– Desculpas… eu posso pedir. Mas abraço não dou a nenhum filho de Cadela – olhou de soslaio para deputado Cão e disse baixinho, num tom quase inaudível. – Desculpa.

O deputado Cão não respondeu, mas o Leão sufocou um sorrisinho e exigiu dele, uma declaração, ainda que breve. O deputado Pitbull concordou, mas pediu permissão para responder à pergunta de há bocado, que o deputado Chico, então Macaco, o impedira de explicar. Era sobre o motivo que o levava a correr atrás dos carros sempre que os via a passar. Pois, havia sido vítima de uma extorsão, ou simplesmente, burlado ou enganado por um condutor gatuno e aldrabãozeco. A permissão foi concedida, claro, com a anuência também do deputado Chico, e lá foi ele dizendo o que se teria passado e que lhe vinha atravancado na alma, conservado amargamente na garganta.

– Após uma cirurgia às cataratas, saí do Hospital de Dr. Agostinho Neto com pensos nos dois olhos. Quando vinha a passar perto à casinha mortuária, ouvi Vicente a zurrar, fui pedir-lhe que me levasse até Sucupira para apanhar um carro que me levasse ao Porto Santiago. Queria ir consultar um Mestre [Curandeiro] e ver se não era feitiço que me tinham feito para ficar cego.

– Que carro apanhaste? – quis Leão perceber. – Hiace, Dina, Hilux ou Peugeot?

– Não sei. Conforme lhe disse, estava com pensos nos dois olhos tapados.

Na verdade, era um Hiace que pertencia ao Preto Manhonga de Achada Fazenda, o Homem-Bicho que ficou conhecido por não ceder o lugar no banco da frente, ao lado da porta, a mais nenhum outro Homem-Bicho, por nada que fosse. Também o condutor nunca estava autorizado a ausentar-se com a viatura sem que ele estivesse presente e sentado no seu banco, com o braço direito sobre a porta e o cotovelo a cortar o vento. Até o apostrofavam de «O Homem-Bicho de mão fora». Pulonga Bita era o condutor e Pepita do Sr. Évora e da D. Branca era ajudante. Como passageiros viajavam a Vaca, a Cabra, o Cão e alguns Homens-Bichos. Os Hiaces circulavam sobrelotados e quase sempre em excesso de velocidade. As estradas calcetadas com blocos de paralelepípedos não proporcionavam condições que propiciassem uma viagem sem solavanco e com segurança. Por isso, os acidentes eram frequentes e o número de passageiros mutilados ou mortos eram impressionantes. A lotação permitida nos Hiaces era de 9 passageiros, mas a Viação podia autorizar alteração do livrete e permitir o transporte até 15 vivalmas. Mas Pulonga Bita nunca circulava com menos de 19 passageiros. Às vezes até transportava 21 criaturas. Os passageiros gostavam de viajar no carro por ele conduzido, porque era bom condutor. Não bebia, não fumava padjinha, nem andava muito naforsa como os outros. E durante as viagens ouviam as músicas do Kidy Preta, Kin de Strong, Danilo Semedo, Beto Duarte, Maica Monteiro, e do próprio Pulónga, principalmente, a curtida BEJU NA PISKÔS.

https://www.youtube.com/watch?v=Xnxci4KlDAs

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