Venceremos, pois somos cabo-verdianos
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Venceremos, pois somos cabo-verdianos

O dia de hoje, Sexta-feira Santa, também intitulado Sexta-feira da Paixão, que aos cristãos recorda a crucificação do Jesus Cristo, é um dia de recolhimento, introspeção, reflexão e da procura da paz interior.

No contexto actual, com a pandemia Covid-19 a fustigar o mundo de forma violenta, infetando e matando um número considerável de pessoas, fazendo colapsar os Sistemas de Saúde, obrigando os Estados a decretar o estado de emergência e as famílias ao confinamento dentro das suas casas, as empresas a aplicar o lay-off, diminuindo a produção de bens, inclusive os de primeira necessidade, fazendo os aviões das mais variadas companhias a ficar em terra, reduzindo a mobilidade das pessoas e as trocas comerciais entre os países e impactando negativamente a economia mundial, dizia que, neste contexto, a interpretação da Sexta-feira Santa deve ser mais profunda. Sobretudo, deve ser feita numa perspectiva abrangente e diversa e com a humanidade no centro das nossas reflexões.

E, neste dia especial, que nos relembra a morte de Cristo no Calvário e com a particularidade do momento que vivemos por causa da Covid-19, pedia a permissão dos cabo-verdianos para dirigir o meu olhar à nossa Diáspora para sobretudo manifestar a minha solidariedade para com as nossas comunidades emigradas, designadamente as da França, da Itália, da Espanha e dos EUA, países em que o coronavirus tem mostrado a intensidade da sua força, a sua selvática atrocidade e a sua forma impiedosa de destruir vidas sem olhar a raça, a religião ou estrato social das suas vítimas.

Vitimou já 12 emigrantes cabo-verdianos, a cujos familiares endereço o meu profundo votos de pesar. Tendo em conta a nossa tradição, imagino o quanto tem sido difícil às nossas gentes não poderem velar os seus mortos e acompanhá-los da forma como é nosso modus vivendi à sua última morada. Por isso, é certo, que a dor é ainda maior.

Por outro lado, com certeza, os cabo-verdianos da Diáspora dividem o seu pensamento e a sua preocupação entre a situação que vivem no país de acolhimento com a dos seus familiares que se encontram em Cabo Verde. Pois, a Nação Global que somos, mesmo nesta hora de mau prenúncio, vem ao de cima e a solidariedade crioula não mete baixa. Porém, neste momento de muitas incertezas e restrições, com certeza, que, pelas imposições das circunstâncias, muitos não conseguirão ajudar os familiares como costumam e como gostariam, por conseguinte, esta é uma outra angústia a juntar a tantas outras nesta hora de aflição.

Estas restrições são conjunturais. Passarão. Agora precisamos de acreditar e lutar. Precisamos de ter fé, cantar os salmos, acreditar que estamos num momento passageiro de aprovação que logo passará e que a bonança virá para que cada um, onde quer que esteja, possa retomar a sua vida e lutar para realização do sonho que o levou a abraçar a emigração.

Os emigrantes cabo-verdianos já deram provas da sua resiliência, já, bastas vezes, mostraram que não entregam as pontas e que estão preparados para enfrentar as adversidades, tantas vezes mostraram que não voltam a cara a um bom combate, que nunca baixam os braços e que, com a sua argúcia e determinação, têm, vezes sem conta, arrancado a ferro vitórias improváveis.

Confio nas mulheres e nos homens cabo-verdianos, pois acredito que, juntos com o povo do país que os acolheu, saberão ganhar esta guerra contra um inimigo implacável que, sem rosto e silenciosamente, infecta as pessoas.

Pois, quem decidiu ser emigrante e, por exemplo, lutou com o mar bravo ou labutou nas minas está mais do que certificado para derrotar o coronavirus. Precisamos tão-somente de ser racionais e de cumprir com as indicações das instituições de cada um dos países de acolhimento que têm a responsabilidade de gerir a luta contra esta pandemia.

É desta forma que juntos vamos conseguir sair do olho do furacão. Não nos vamos deixar ser engolidos. Somos cabo-verdianos. Venceremos.

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