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Tratado contra o Milho:  “Para Nunca Mais” Plantamos O Milho. A Calheta e a Santa Cruz explicam
Colunista

Tratado contra o Milho: “Para Nunca Mais” Plantamos O Milho. A Calheta e a Santa Cruz explicam

O milho é a base psicossocial de toda produção agrícola cabo-verdiana. É a essência da prática agrícola, e, do nosso modo de estar e de pensar. A alternativa ao milho impõe uma mudança radical com aquilo que vem sendo feito, nestes últimos 500 anos. No qual 400 foi de fome cíclica [de 20 em 20 anos]. Na busca de uma alternativa mais rentável, vamos conseguir melhorar o rendimento das famílias e com isto, complementar o desenvolvimento dos concelhos rurais do país.

O Debate:

O Amigo ― O Meno [Presidente de Câmara] não conseguiu desenvolver o concelho de São Miguel. 

Eu ― Meu caro, estais a fazer uma análise superficial da realidade.

O Amigo ― Os dados [Índice da Coesão Territorial] apresentados ditam tal sentença. Calheta está no penúltimo lugar.

Eu ― Insisto! A tua análise tem um viés partidário.

O Amigo ― Nada disto!

Eu ― A Calheta está na penúltima posição no Índice da Coesão Territorial, e acima, está o concelho de Santa Cruz. Seria desonesto desmerecer a lida do Meno como do Sueki [Presidente de Santa Cruz], que vem realizando de forma contínua um bom trabalho.

O Amigo ― Então, a questão é saber: qual é a razão dos dois municípios estarem na cauda?

Eu ― O cultivo do Milho.

O Amigo ― Como assim!?

Eu ― A atividade económica predominante nestes dois concelhos é a agricultura. Este setor tem o mais baixo salário do país. Nestes últimos 4 anos, o litoral leste da ilha, é a parte territorial que menos choveu. O que vai impactar a condição socioeconómica destes dois municípios, principalmente pelo facto de a produção de sequeiro situar-se abaixo do limiar da autossuficiência. A insistência na manutenção de uma prática agrícola baseada no cultivo de milho, é a razão pela permanência da miséria nos concelhos como Santa Cruz e Calheta.

O Amigo ― Mas, sem o milho vamos passar fome!? Nu ka ta kume katxupa.

Eu ― O país não produz mais do que 20% do que precisa para comer. Isto num ano de boa colheita. Imagine, 4 anos sem chuva. Segundo, fica mais barato a compra do milho no estrageiro, do que a produção do milho no país. Por outras palavras, precisamos encontrar uma alternativa ao milho, e, temos esta alternativa: a “baboza”. Um produto de muito maior rendimento do que o milho, adaptável ao nosso ambiente e capaz de redimensionar a indústria nacional.

O Amigo ― então o problema é o milho.

Eu ― Sim! O problema é o milho, mais do que a falta de chuva. O milho é a base psicossocial de toda produção agrícola cabo-verdiana. É a essência da prática agrícola, e, do nosso modo de estar e de pensar. A alternativa ao milho impõe uma mudança radical com aquilo que vem sendo feito, nestes últimos 500 anos. No qual 400 foi de fome cíclica [de 20 em 20 anos]. Na busca de uma alternativa mais rentável, vamos conseguir melhorar o rendimento das famílias e com isto, complementar o desenvolvimento dos concelhos rurais do país.

 

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SOBRE O AUTOR

Rony Moreira

Poeta, escritor, sociólogo, cronista