O mesmo pontal que emprestou seu betão dorsal ao marinheiro braçal de Falucho e Maria-Soni, assiste hoje frágil e quebradiço, o arrastar das lanchas vazias e dos alguidares por encher na mesma baía, onde a companhia ultramarina embarcara peixe enlatado para a metrópole, enquanto Colonato deixava escuar por entre os dedos do serviçal, queijo, leite e manteiga.
O Badio de Santiago, ainda com marcas frescas da escravidão legal, carregava sacos de tubérculos, leguminosas, cereais, frutas e potes de carnes, para alimentar a barrigas inchadas de fome nas terras de Capitão Ambrósio, onde os primeiros letrados de Santiago norte e Tarrafal em particular seguiam seus destinos junto das letras e do conhecimento que fazia as primeiras consciências instruidas ... E assim lançamos nossa semente para o iluminismo. Viva Tarrafal, Viva nosso pontal que hoje passa noites sem fim contentando-se com a lua!
Esta memória brava em pedra argamassada, viu seu brilho ancorar e com ela levou para seu fundo azul sua função de auxiliar à pesca e ao comércio, que também, por cá faliu e renasce agora das cinzas a esperança do resgate.
Hoje nosso pontal ou cais, como carinhosamente o batizamos, só conserva a memória de uma geração inocente e pura, torturada para se calar e entre seus sonhos viver fechada, sem mesmo poder pintar de branco com o cal de suas ribeiras a velhice que hoje cobre sua cidade, pronta para o renascimento.
“...Tarrafal, Tú é norte e como todo norte, é forte...” – Kaká Barbosa
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