O lado lunar da POLÍTICA CABO-VERDIANA
Colunista

O lado lunar da POLÍTICA CABO-VERDIANA

O que define um político não é a perfeição da sua máscara, mas a profundidade das suas acções. Talvez seja tempo de os eleitores se reconciliarem com a sua própria lucidez. De aceitarem que nem toda a promessa é um caminho e que nem toda a narrativa é verdadeira. Porque ignorar o lado oculto da política não o faz desaparecer mas apenas nos torna prisioneiros dele. E tu? Já olhaste para a sombra que habita os teus líderes?

Vivemos atolados em discursos e promessas. A política transformou-se num espectáculo onde o passado é reescrito ao gosto do orador e o futuro é vendido como um paraíso ao virar da esquina. Mas se fôssemos honestos, admitiríamos que o verdadeiro campo de batalha não está nas eleições nem nos palanques…está dentro daqueles que disputam o poder.

O que há nos políticos que nunca mostram a ninguém? Quais são as intenções que escondem até de si próprios?

A verdade é que, tal como a lua, cada um tem um lado lunar, um espaço de sombra onde guardam o que não pode ser exposto à luz: ambições desmedidas, jogadas calculadas e promessas ocas.

Criam versões públicas de si mesmos, moldadas para conquistar votos, enquanto a parte invisível permanece oculta, num enorme segredo partilhado apenas com os corredores do poder.

O jogo político incentiva essa dualidade. No teatro das campanhas, exibem-se sorrisos ensaiados, discursos inflamados, projectos grandiosos embrulhados num brilho artificial. Mostra-se o que convém, esconde-se o que assusta. Mas a questão é: quem são realmente esses políticos quando ninguém está a ver? O que sobra depois dos holofotes se apagarem?

Em tempos de disputa, multiplicam-se as vozes que se apresentam como “a mudança” e “a esperança”. Alguns chegam ao poder carregando bandeiras de renovação, mas rapidamente revelam práticas que traem esse ideal. O que parecia ser um projecto transparente torna-se opaco. O que foi prometido como progresso degenera numa gestão errática, marcada pela centralização de decisões e por vezes, de narrativas de vitimização.

Primeiro são aclamados como salvadores, depois ferozmente questionados pelos “seus”.

O discurso mantém-se: são perseguidos, incompreendidos, alvos de conspirações… mas a realidade não se sustenta apenas em palavras.

Há, no entanto, uma confusão conveniente entre ser popular e ser populista. O primeiro conquista a confiança pelo que faz; o segundo seduz pelo que diz.

O popular inspira pelo exemplo, pelo trabalho e pela coerência entre discurso e acção. O populista alimenta-se da emoção, da polarização e da ideia de que o povo precisa de ser salvo…por ele, claro!!

O primeiro une, o segundo divide.

A política precisa de líderes que sejam populares pelas razões certas, não de estrategas que manipulam a opinião pública com promessas que sabem que nunca irão cumprir.

Vivemos tempos de superficialidade extrema, onde o importante já não é a coerência, mas a capacidade de manipular a percepção pública.

A verdadeira grandeza de um líder não está no que projecta para fora, mas no que carrega por dentro.

O que define um político não é a perfeição da sua máscara, mas a profundidade das suas acções.

Talvez seja tempo de os eleitores se reconciliarem com a sua própria lucidez. De aceitarem que nem toda a promessa é um caminho e que nem toda a narrativa é verdadeira. Porque ignorar o lado oculto da política não o faz desaparecer mas apenas nos torna prisioneiros dele.

E tu? Já olhaste para a sombra que habita os teus líderes?

FORTE APLAUSO

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Comentários

  • Daniel Carvalho, 20 de Mar de 2025

    Gostei imenso da reflexão, e peço licença para a a seguinte transcrição adaptada: os políticos "Criam versões públicas de si mesmos, moldadas para conquistar votos, enquanto a parte invisível permanece oculta, num enorme segredo, dizia eu, sequer partilhado com os corredores do poder.". É a mais pura verdade.

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