O Kafkiano processo e o “silêncio dos inocentes”
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O Kafkiano processo e o “silêncio dos inocentes”

A imprensa cabo-verdiana está sob ataque e se calhar muitos não perceberam o tamanho da bomba. Não é este jornal, nem eu, que o sistema atenta, com texto solene e surdino aviso. É contra si mesmo, quando, encavalitado na sua própria trama, procura cercear a liberdade de expressão e de informação, princípios consagrados na Constituição da República de Cabo Verde do meu país.

Antes de apontar o dedo directo ao ilustre PGR, preciso primeiro recordar a quem me lê neste momento do seguinte. A liberdade de informação, quando feita com rigor, ética, transparênca e isenção, nunca pode ser beliscada. Quer dizer, ou isto é um país, de facto, ou é uma troça com sorriso fechado.

Tudo isto que está a suceder neste momento já era do conhecimento dos principais actores políticos, digo o PM. Foi ele quem escolheu o seu ministro da Administração Interna. Foi Ulisses, por ingenuidade política ou – os acontecimentos últimos nos levam a chegar aí -, quem seleccionou com quem quis trabalhar para o bem de Cabo Verde. Acautelou-se do facto de preferir alguém que foi chamado pelo seu antecessor, José Maria Neves, para dirigir o SIR?

Isto me lembra a Teoria da Caverna, de Platão. Sim, UCS só vê espectro do seu ministro de Segurança (Ministro da Adminsitração Interna) e não o vê, de carne e osso, a ser investigado pelo MP, acusado por colegas seus, e vilipendiado na imprensa e redes sociais tanto por anónimos quanto por oficiais da PN.

Alheio a isto tudo – porque UCS o disse claro e em bom som que mantém a confiança em Paulo Rocha -, o chefe do governo se retrai e volta ao silêncio que o pode criar dissabores. Fosse ele consequente demitia ou forçava a demissão do seu ministro predilecto para evitar que esta quezília continue. Sobretudo agora que PAICV tem balas na câmara, ganas e astúcia política, como seria evidente e aceitável nos partidos da ourela do poder.

Por que o PAICV não o faz? Este caso aconteceu em 2013, no tempo dos tambarinas, e os de lá de cima sabem o que a trupe de serviço, a malta que, cá como eu assiste a tudo sentado numa cadeira de pau, desconhece.

Este processo, sei-o, é kafkiano. Mas me admira sobremaneira este silêncio do PM, que convidou, aceitou, promoveu a ministro e o elevou a cabeça de lista do MpD por São Vicente, contra toda e qualquer expectactiva, apenas porque quis. Esse querer é que precisa ser investigado, porquanto não é normal.

Ulisses, que na altura dos acontecimentos nem era PM, ter-se-á apercebido que precipitou-se nas suas primeiras declarações a respaldar o ministro ex-espião e se acantonou. Vai se arrepender depois, politicamente – pessoalmente não estou abalizado para o avaliar, e nem me interessa. Por muito pouco, ministros, directores, pessoas responsáveis pedem para sair quando algo dá para o torto e o Governo (e o partido que o sustenta) arrisca a ficar chamuscado. O PM, enxugado de outras tantas tramas, deveria, poderia e dele se exigia que demitisse o ministro da Administração Interna, Paulo Rocha que, independentemente de ser culpado, num alegado crime que terá liderado, enquanto adjunto do director da PJ, as suspeitas e dúvidas obrigam a sensatamente e politicamente estretégico arrepiar caminho.

Agora Luis José Landim. Senhor PGR, percebi o aviso – desobediência, disse-o publicamente. Ok. Mas há-de admiti-lo: não somos iguais – eu, junto com outros bons rapazes, criei e inventei este jornal da minha ciência e senso, o senhor foi lá colocado, mantido, apoiado e pago com meu dinheiro (imposto), como o fazem, de resto, os cabo-verdianos que tiveram a felicidade de encontrar um trabalho. Portanto, está ao meu e nosso serviço. Duvida?

 

 

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SOBRE O AUTOR

Hermínio Silves

Jornalista, repórter, diretor de Santiago Magazine

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