"O estado de Santiago não pode, portanto, ser classificado de bom"
Há similitude de realidades em quase todas as ilhas mas este artigo discorre essencialmente sobre o estado dessa minha ilha de Santiago porque é a realidade que mais conheço, sou membro de associações com responsabilidades em relação ao combate por seu desenvolvimento e porque é uma das ilhas em relação ao qual não existe uma visão e uma plataforma de projeção de desenvolvimento global nem um exercício de «plaidoyer» á altura para tal.
Por conseguinte, o diagnóstico atual da ilha integra necessariamente essa falta de visão mas também todo o resto em termos de planos e aspetos operacionais para serem interiorizados pelos seguintes agentes ativos do seu desenvolvimento que, nalgumas ilhas, defendem em todas as circunstâncias, esses instrumentos e combatem pela sua implementação nos seus cutelos: deputados, governo local e central, organizações não governamentais, setor privado, comunicação social etc.
Esta situação de falhas tem penalizado sobre maneira a ilha que tarda em ver uma plataforma/ agenda de desenvolvimento e sua defesa para implementação. Isso a par de uma ativa ação anti-Santiago (entenda-se ações de há um tempo para cá contra qualquer projeto de valia proposta para ilha) que tem sido desenvolvido nos últimos tempos, por um grupo identificado de classes políticas ligadas a uma das ilhas denominada adversária e de elementos de uma certa diáspora quando, na realidade, se sabe que Santiago, desde há muto, esteve sempre na cauda do país em termos do indicadores/ índices de desenvolvimento humano e ausência de estruturas de desenvolvimento de que necessita para acompanhar as outras duas ilhas aonde tudo foi encaminhado durante século!
É assim que a ilha desconhece uma estratégia de desenvolvimento agrícola /agronegócio (exceto no que tange a um certo esforço de mobilização de água) não obstante Santiago ter sido indicado como o epicentro dessa plataforma. Da mesma forma não se vislumbra qualquer medida/estratégia que equipa Santiago para o desenvolvimento das áreas do mar, da indústria, do turismo e do comércio (negócio caraterístico de Santiago hoje nas mãos de estrangeiros que, ao contrario dos nacionais, são incentivados pelos respetivos governos para dominar esse setor em Cabo Verde) onde a ilha tem claramente vantagens competitivas e comparativas em termos de mercado e recursos.
No domínio de ordenamento de território, urbanismo e habitação o desafio é enorme, tendo em conta que a ilha não foi contemplado no grupo restrito das que beneficiaram do projeto do MCA de cadastro ( os santiaguense não imaginam o prejuízo e atraso que a ausência desse instrumento causa á ilha na atração de investimentos), as cidades demoram a ser reabilitadas (há algum sinal positivo nalgumas, ultimamente) e raras são as autoridades dos municípios da ilha que ofertam lotes e assistem na construção de habitação para os mais pobres como se faz no Maio, por exemplo. Na Praia, o anuncio de 4 bairros a serem financiados pela China, permanece fora das prioridades enquanto que os projetos dos outros avançam mesmo considerando que a afronta desta cidade em termos de falta de habitações seguras, condignas e esteticamente enquadráveis desta cidade não tem paralelo nas ilhas (ver, Jamaica, a encosta do velho aeroporto, por exemplo)!
No mar, onde grande é a aposta do governo e a expetativa de desenvolvimento das ilhas, só se ouve falar de projetos para uma ilha só! Julgo ter Santiago votado para beneficiar também do então cluster do mar, hoje plataforma do mar (?), e assim ter estruturas de desenvolvimento da economia marítima, como complexos de pesca (o do São Martinho, por exemplo, com o novo cais, estaleiro, plataforma de frio e mercados de peixe para servir boa parte de sotavento), unidades orgânicas de administração regional marítima, pescas e portuária (esta autónoma e com operações privatizadas), terminal de cabotagem (com centro logístico de cargas, gare de passageiros mais dimensionado e sofisticado e mais rampas róró), novo rebocador para o Porto da Praia ( original e parcialmente financiado pelo fundo holandês orion), frota de pesca reestruturada, constituição de cooperativas de exploração das pescas e esquema prático de financiamento, um polo de formação para o mar, subcentro para SAR (busca e salvamento) e para prevenção e combate á poluição marinha.
Neste momento, Santiago continua a perder algumas insignificantes instituições da marinha e pescas e não tem estruturas e infraestruturas para suportar o maior porto do país (com os melhores resultados financeiros, sendo o maior centro recetor e distribuidor de cargas e um dos maiores para o de passageiros), a orla marítima mais procurada de Cabo Verde e as pescas com a maior costa e mercado, mais pessoas e embarcações envolvidas e mais empresários com projetos em calha.
Mas o que está enfurecendo Santiago é a vitória dos ruidosos dos maus da regionalização (o tal grupo, não todos), cujo objetivo foi sempre a desconstrução daquilo que propositadamente denominaram de república de Santiago: não há mais projetos merecidos para Santiago como o centro de convenções (não as pequena salas de reuniões que proliferam ali e acolá pela cidade da Praia, mas sim espaços de adequados para eventos de negócios, conferências e exposições de grandes dimensões regionais e internacionais), parque industrial e centro de formação do mar para combater o desemprego e transpõem-se para outras ilhas os grandes eventos (uma das poucas vocações e domínio de sobrevivência da cidade da Praia por exemplo), instituições e determinadas indústrias como as do setor aéreo (transporte e manutenção aéreas de grande tradição e orgulho da ilha) destruindo atividades industrias da ilha como se fez num passado recente). Não se fala da pista do aeroporto da Praia (há uma menção para construção de um novo aeroporto o que atormenta o timing para satisfação da dinâmica atual e futuro imediata da ilha em relação a uma pista que já devia ser de 2500-3000 metros em vez dos atuais 2100 metros!) nem do hospital de raiz que a ilha tanto reclama e merece! Assim consuma-se o esvaziamento da ilha e a vitória de um modelo jamais visto e praticado em parte nenhuma em que o desenvolvimento integral das ilhas se assenta na destruição daquela (I. Santiago) que já está com maior dinâmica (fruto do trabalho de sol a sol dos que chamam de badios) para transpor para outras como está acontecendo nas áreas acima indicadas incluindo o estabelecimento de condições exclusivas para uma só ilha da economia marítima, setor que se diz consubstancia o desígnio principal do desenvolvimento do país (não seria de o ser para toda as ilhas???!!!). O sensato seria apoiar em tudo o que as ilhas trabalharem para avançar e não tirar /destruir os avanços de uma para transpor para outras, ou apoiar determinados setores numa só ilha quando as outras têm também potencialidades para os desenvolver (refira-se em Santiago os setores do mar, indústria, turismo, parque habitacional social etc)!
Nos domínios do desporto, cultura, ambiente e cidadania, a queixa tem referenciado a falta de:
De uma forma geral e quase concluindo este informe, julgo que o estado de Santiago pode também ser avaliado, formulando e procurando respostas às questões seguintes:
A criação desse festival foi tão meritória e há tanta coisa boa que se pode fazer com todo o tipo de milho (verde e seco), que, adicionando a demonstração das varias aplicações tradicionais riquíssimas do milho no quadro alimentar santiaguense, o festival tem que ser realizado ultrapassando a condicionante falta de chuva, acionando parcerias com os comerciantes e agricultores de regadio da região que assegurarão a matéria prima necessária e assim retomaremos o festival para sempre!
Por conseguinte, perante o quadro atrás indicado, não há margens para ignorar as consequências da ausência de uma visão e de um plano desenvolvimento regional integral de Santiago (a cooperação Austríaca apoiou e irá apoiar a sua conclusão e implementação) e, sobretudo, de uma militância e exercício de cidadania razoavelmente robustos por parte de todas as suas forças (políticos, jornalistas, organizações sociais e empresariais privadas) da ilha para influenciar e participar positivamente na sua implementação, particularmente nos setores do mar, infraestruturação, urbanismo e ordenamento do território, turismo, negócios, comércio e dos epicentros das plataformas previstas para Santiago como a praça financeira, agronegócios e tics.
O estado de Santiago não pode, portanto, ser classificado de bom.
Força pois santiaguenses, estejamos um pouco mais atentos e sejamos mais militantes em relação ás causas de Santiago! A ilha pode estar a caminhar-se para o colapso, para a pobreza, para mais desemprego e … insegurança!
Praia, aos dez dias de Agosto de 2018.
José Jorge Costa Pina
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