...o Ministério da Cultura tem de adoptar uma postura mais proactiva para a salvaguarda da Morna. É necessário garantir que as políticas culturais não sejam só pontuais ou limitadas a inaugurações de bustos de figuras que marcaram este género musical. Precisamos de estratégias a longo prazo, com objectivos claros e exequíveis. Para começar, uma sugestão defendida por muitos, que tal a edificação do primeiro Conservatório de Música de Cabo Verde, ou de um Museu do Folclore, com uma ala específica para a Morna.
Há 5 anos, a 11 de Dezembro de 2019, recebíamos a novidade que a Morna tinha sido elevada a Património Cultural e Imaterial da Humanidade.
Lembro-me de me ter emocionado com a notícia. A minha felicidade e sentido de dever cumprido era enorme.
A Morna, “música rainha di nôs terra”, um dos símbolos máximos da identidade cultural do país, era reconhecida pela UNESCO. Este género musical tradicional e transversal a todas as ilhas do arquipélago da Morabeza, representa não só uma expressão artística mas também um elemento fundamental da história e da Alma do povo caboverdiano. No entanto, a possibilidade de essa distinção ser perdida devida à inércia do Ministério da Cultura, é para mim como defensora das nossas tradições e identidade, uma preocupação constante.
A preservação de um bem cultural imaterial não é tarefa simples. Exige não apenas o reconhecimento mas acções concretas para garantir a sua manutenção, promoção e principalmente, saber explicar a sua importância para as gerações futuras. No caso da Morna, a responsabilidade da sua salvaguarda está directamente ligada ao Ministério da Cultura. O que temos notado é a falta de políticas e iniciativas públicas, para a recuperação de Mornas antigas (música e letras), para que não se percam no tempo, criação de um cancioneiro popular de Mornas e, principalmente, a escrita em pautas desse próprio cancioneiro. Todas as iniciativas existentes têm sido maioritariamente particulares.
Tenho observado que não existe da tutela, uma estratégia definida ou programas efectivos que assegurem a protecção e valorização da Morna.
Estará Cabo Verde a cumprir com as obrigações assumidas com a UNESCO?
A perda da distinção ( que é possível acontecer), colocaria Cabo Verde numa posição bastante frágil, quanto à sua reputação internacional.
A perda do reconhecimento de Património Cultural e Imaterial da Humanidade, seria um golpe devastador para todos os artistas e para todos os caboverdianos que vêem na Morna a expressão genuína das suas vivências, sentimentos e tradições.
Somos muitos que têm lutado para a sua promoção e preservação. Mas o Ministério da Cultura tem de adoptar uma postura mais proactiva para a salvaguarda da Morna. É necessário garantir que as políticas culturais não sejam só pontuais ou limitadas a inaugurações de bustos de figuras que marcaram este género musical. Precisamos de estratégias a longo prazo, com objectivos claros e exequíveis. Para começar, uma sugestão defendida por muitos, que tal a edificação do primeiro Conservatório de Música de Cabo Verde, ou de um Museu do Folclore, com uma ala específica para a Morna.
A perda do título será uma consequência da falta compromisso que temos vindo a notar. É urgente que o Ministério da Cultura se mobilize para evitar esse cenário e reafirme esse mesmo compromisso com os caboverdianos e com a UNESCO, na preservação da Morna, como um elemento cultural e, acima de tudo, um elo vital entre o passado colonial, o presente enquanto Estado Independente e o futuro da Nação.
A Morna mais do que uma melodia sentida, é um legado que deve ser protegido e celebrado sempre, para que continue a ser uma das mais importantes expressões de Cabo Verde no mundo.
“Ca bocês tchá morrê folclore di nôs terra
Pa ondê qui bocês bai, bocês cantál co veneração.” Manel d’Novas- Morna “Tributo final”
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