Monumento à liberdade e à democracia
Colunista

Monumento à liberdade e à democracia

O verdadeiro cartão-de-visita de Cabo Verde será sempre a dignidade com que tratarmos os nossos cidadãos, não um monumento erguido sobre feridas ainda expostas. Os grandes povos não se afirmaram apenas pelos símbolos que construíram, mas sobretudo pelas condições que souberam garantir ao seu povo em tempos de crise.

Quando o vice-presidente da Assembleia Nacional, cuja função deve ser IMPARCIAL, e que tem também o dever de garantir a dignidade do parlamento, zelar pelo respeito da Constituição, pautar-se pela responsabilidade no uso da palavra e defender o interesse público acima de QUAISQUER agendas partidárias, representando com ISENÇÃO todos os cidadãos, vem a público classificar de “tacanhez” a legítima indignação contra uma obra de 150 mil contos em pleno estado de calamidade em São Vicente, o que vemos não é grandeza de espírito, mas um exercício de retórica para justificar o injustificável.

É fácil falar da Torre Eiffel, da Estátua da Liberdade ou do Cristo Redentor, mas essas comparações, além de totalmente deslocadas, escondem o essencial: Cabo Verde não é a França do século XIX nem os Estados Unidos do pós-guerra civil. Somos um arquipélago pequeno, frágil, onde há famílias desalojadas pelas chuvas, casas destruídas, bairros sem saneamento, estradas intransitáveis e o perigo iminente de crise de saúde pública.

Chamar de “residual” a crítica social e dizer que ela tem motivações político-partidárias é uma forma de desvalorizar a cidadania ativa. O que está em causa não é cor partidária, mas PRIORIDADES.

Quando se decreta o estado de calamidade, a prioridade deve ser proteger vidas, reconstruir lares, investir em segurança e resiliência. Só assim se honra a democracia de que tanto se fala.

Erguer um monumento nesta altura não é símbolo de grandeza, é prova de desfasamento.

O turismo que o vice-presidente da Assembleia Nacional invoca não virá por um mamarracho de cimento, mas pela NOSSA força cultural, pela beleza natural de NÔS TERRA e pela MORABEZA, que traduz um povo que sabe acolher.

O verdadeiro cartão-de-visita de Cabo Verde será sempre a dignidade com que tratarmos os nossos cidadãos, não um monumento erguido sobre feridas ainda expostas.

Os grandes povos não se afirmaram apenas pelos símbolos que construíram, mas sobretudo pelas condições que souberam garantir ao seu povo em tempos de crise.

A grandeza de Cabo Verde hoje não está em sonhar alto de olhos fechados para a realidade, mas em colocar em PRIMEIRO LUGAR a vida, a segurança e a justiça social do seu povo. Esse, sim, é o verdadeiro farol para as novas gerações.

Sem aplausos por favor…

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