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Defender a Democracia
Colunista

Defender a Democracia

A tentativa de esquartejar a cidadania e o desrespeito à oposição democrática não qualifica a democracia. A política é uma função nobre e pedagógica. Dos atores políticos e de quem nos governa, espera-se ética comunicativa, atitude responsável e sentido de estado.

Princípios basilares que faltaram ao governo há dias, quando emitiu um polémico comunicado, chamando de “desavisados e boiadas de serviço!” aos críticos que se mostram preocupados e com inquietações em relação às políticas e rumo da governação.

Um comunicado oficial agressivo, com qualificação rasca, que atingiu directamente a dignidade de muitos cabo-verdianos. É que se formos medir o pulsar da sociedade, e atendendo a lógica de que os críticos são bois, a maioria dos cabo-verdianos entrariam no curral.

Cometida essa transgressão na ética governativa de se comunicar no “curral político governativo” pensávamos ter chegado à derradeira irracionalidade, mas não. Eis que surge recentemente, de quem nos governa, um desabafo metafórico, associando os críticos aos porcos.

Essa adjectivação coloca no chiqueiro milhares de jovens desempregados ou sem um emprego satisfatório e decente, que têm demonstrado a sua insatisfação pela falta de oportunidades bem como toda a sociedade preocupada com a lentidão da justiça, insegurança, habitação condigna e cuidados de saúde física e mental de qualidade para o seu bem-estar.

O cabo-verdiano quer viver melhor e em paz, e pelo progresso da sua existência e futuro dos seus filhos. E o governo tem de perceber, de uma vez por todas que, num sistema democrático, com relativa estabilidade, está permanentemente em xeque. As críticas são normais em democracia. Mas o apelo vindo dos “donos da fazenda” é para os bois dormirem no curral e os porcos não fazerem barulho no chiqueiro.

Se fazer a defesa do emprego, da segurança, saúde, justiça, transparência e de outros direitos nos imprime a qualificação de nefastos e massa de manobras, o que dizer de um governo que chafurda na lama da intolerância?

E falando de sujeira democrática, não menos limpo está o chiqueiro da Ribeira Grande de Santiago, onde o totalitarismo baila, com relatos de perseguições e discriminação de munícipes. Parece que por aquelas bandas de Cidade Velha, as coisas são só “de kompas pa kompas”.  

Subindo na latitude dos abusos de representação, chegamos à S.Miguel, um município marcado pela pobreza, onde um BMW de luxo foi adquirido, de forma desavisada, desnecessária e insensível, pela Câmara local.

Mordomias que, se os bois estiverem a dormir, rapidamente subirão ao parlamento com a revisão dos Estatutos dos Titulares de Cargos Políticos.

E a vítima dessa política emporcalhada é o povo, massacrado pelos problemas e dificuldades da vida, que vê a lama sobre a sua cabeça.

De ressaltar, que tentativas de cercear a liberdade de expressão e a oposição democrática, insensibilidade e desrespeito para com o povo, perseguições e discriminações são atitudes reprováveis num estado de direito democrático, e não conduzem o país a bom porto. E por serem atitudes castradores da estabilidade e progresso social não podem ser aceites.

Todos somos poucos para defender a nossa democracia e o seu fortalecimento. Devemos fazer isso!

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SOBRE O AUTOR

Carlos Tavares