Da Crónica: Farândola da Cacofonia de Rony Moreira
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Da Crónica: Farândola da Cacofonia de Rony Moreira

...percebemos que José Maria Neves é intocável. E fica a pergunta: que relação boca a boca [tal e qual, aquele programa de entretenimento em que se comia numa mesa farta entre amigos], existe aqui!? É que não pode ser normal num país pobre como o nosso, que um gestor público investa tanto dinheiro em sucessivas obras mal-executadas e ninguém se sinta incomodado com os dabius. Devia ter comido mais brócolos, a nossa República.

As birras da avó: — Coma brócolos, meu neto! E José Maria Neves é intocável

Eu fui uma criança reguila no quesito alimentação, a minha avó dizia [sempre em voz alta]: — Coma brócolos meu filho! Para defenderes dos dabius[1]. Não me agradava os brócolos e pouco ainda os dabius. Diga-se de passagem, este era daquele escasso momento da dúvida em que uma criança tinha de decidir: entre os brócolos e os dabius. Hoje passados alguns anos, na condição de mestre de shaolin e de ter alcançado o entendimento do ensinamento estoico de Gandalf, confesso que devia ter escolhido os brócolos.

Caro leitor, nesta alegórica o cronista tem a intenção de demonstrar a subtileza do afeto e da preocupação da matriarca para com as proles. Nisto põe-se o cronista a pensar: como deveria ter sido os puxões de orelhas para que o mancebo José Maria Neves comesse brócolos na sua infância? 

Talvez se José Maria Neves tivesse comido brócolos, poderia ter sabido lidar com os sanguessugas, protegendo +1.000.000.000 (mil milhões) de euros de investimentos em obras públicas servidas numa salada requentada com: a) a bancarrota das trapalhices do Novo Banco; b) os aviões da TACV vendidos em 2014, para permitir a chegada BINTER em 2015, depois dos espanhóis tomarem o mais tourina de que red bull; c) o Porto de Sal-Rei, que custou muito mais do que aceitável; d) navios metendo água no mar do Fogo; e) barragens que atualmente são grandes depósitos de lama, por que alguém esqueceu-se de fazer bem o seu trabalho e por fim, com o chupão de esbanjamento atingindo o clímax, quando o país investiu +350 milhões de euros na produção de energia e água, numa conta que falta ser auditada.    

Nisto percebemos que José Maria Neves é intocável. E fica a pergunta: que relação boca a boca [tal e qual, aquele programa de entretenimento em que se comia numa mesa farta entre amigos], existe aqui!? É que não pode ser normal num país pobre como o nosso, que um gestor público investa tanto dinheiro em sucessivas obras mal-executadas e ninguém se sinta incomodado com os dabius. Devia ter comido mais brócolos, a nossa República. 

[1] Percevejo: bicho sanguessuga.

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SOBRE O AUTOR

Rony Moreira

Poeta, escritor, sociólogo, cronista

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