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A ditadura da comparação
Colunista

A ditadura da comparação

É impossível avançarmos com equilíbrio e determinação, se estivermos atrelados ao esteio comparativo permanente. Quando perdemos o controlo da autonomia pessoal, é porque o grau da comparação negativa se tornou um risco acrescido contra o nosso desenvolvimento natural.

Sempre que comparamos a nossa realidade com a da outra pessoa, simplesmente nos reduzimos ao nível da pequenez mental e do grau mais diminuto da nossa autoestima. Não há progresso onde há comparação extrema, que, por conseguinte, se torna uma obsessão. No campo profissional quase sempre essa realidade é uma constante. Questionamos o sucesso do outro em detrimento do nosso. A vantagem do outro, a sorte do outro, a alegria do outro.  Isso sempre em relação á nossa desvantagem.

Permanentemente estamos nessa senda paradigmática e dramática. Ficamos á mercê da ditadura da comparação negativa e estranguladora. Com isso, nos tornamos competidores de plantão, vivendo às espreitas para saber o que está a acontecer com a "relva do vizinho", enquanto que a nossa está num estado deplorável. Certo, que outro cresce, e nós, num permanente estado de inércia e letargia. Isto porque, perdemos mais tempo observando o outro do que investir em nós mesmos. Perdemos a oportunidade e a capacidade de investir em nós, lutar a nossa própria batalha e vencer.

A comparação nos empobrece e provoca ciúmes e inveja, simplesmente, porque enquanto vivemos nesta situação, a nossa vida deixa de andar e a do outro segue em alta. Quem vive se comparando sistematicamente, é porque está perdido e numa profunda crise identitária. A nossa comparação se remete quase sempre para o lado em que nós nos colocamos como menos e o outro mais. Ficamos á mercê da inferioridade pessoal, negativando ações proactivas. Anulamos a nossa perspectiva mais preponderante, quebrando a nossa autonomia.

É impossível avançarmos com equilíbrio e determinação, se estivermos atrelados ao esteio comparativo permanente. Quando perdemos o controlo da autonomia pessoal, é porque o grau da comparação negativa se tornou um risco acrescido contra o nosso desenvolvimento natural.

O campo profissional é um dos centros onde o grau da comparação ocupa um espaço demasiado doentio. Um outro centro, é no seio da família. Permanece assim, uma espécie de luta interna entre os colegas e familiares.  Silenciosamente ou não, o grito da observação permanente negativa prevalece, sem o discernimento que deveríamos olhar de uma outra forma. A busca da boa performance pessoal, o desejo de alcançar novos sonhos e a capacidade de trilhar o próprio caminho, devem fazer parte de quem deseja sair do anonimato da comparação negativa para um estado de completa emancipação e realização efectiva.

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SOBRE O AUTOR

Lino Magno

Teólogo, pastor, cronista e colunista de Santiago Magazine