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A Diocese de Cabo Verde, apesar dos aspetos negativos ligados à colonização, permitiu o desenvolvimento do ensino e da cultura
Colunista

A Diocese de Cabo Verde, apesar dos aspetos negativos ligados à colonização, permitiu o desenvolvimento do ensino e da cultura

… Durante cerca de 50 anos independentemente dos bons resultados na formação de futuros religiosos, foi também no Seminário de São Nicolau que foram formados a elite intelectual, funcionários, comerciantes… O Seminário era a única instituição de ensino, cultura e educação que o arquipélago possuía…

“ … Em memória a meus avós, Martinho Lopes e Cipriana Lopes da Veiga …”

Cabo Verde assumiu seu destino como nação politicamente independente em 5 de julho de 1975 ficando em algumas áreas dependente do que denomino de “relações de forças” umas materiais e outras, nem por isso, mas que podemos classifica-las de natureza intelectuais e mesmo ideológicas em formato discursos contraditórios que inculcaram (e inculcam) no “imaginário” das pessoas conteúdos, mundos novos e sociedades diferentes mais justas socialmente, criando múltiplas trajetórias e ideias que esses fins são possíveis de serem alcançadas…

Hoje em pleno século XXI, estamos conscientes que o esforço trabalho a luta para a democratização e o acesso ao conhecimento fortaleceram o progresso humano aqui nesta pequena nação ilhas de poucos e limitados recursos que permitiram um visível crescimento e aumento notório de esperança de vida, embora sem a desejável justiça social… Se em julho de 1975, data de fim da dominação colonial o país possuía, apenas dois (2) liceus, (na Praia e Mindelo) hoje todas as ilhas e regiões estão dotadas de liceus e algumas com escolas técnicas e Cabo Verde “pós-independência” possuiu “hoje” várias universidades e instituições de estudos superiores.

A educação continuará sendo a melhor arma de luta para o progresso que deveria ser inclusivo e estratégia para contrariar a desigualdade social e a assimetria regionais. O acesso ao saber e conhecimento, contribuem largamente para desvirtualizar o obscurantismo, a imposição do fatalismo e desvios identitários culturais tradicionais…

A caminhada desde a noite dos tempos até a presente data do ponto de vista histórico, está ainda para ser “contada” e na área os manuais escolares estão incompletos e estamos no século XXI sem ainda assumirmos a cem por cento a nossa história quem diz historia fala sobre a “origem”, para melhor sabermos quem somos e o que nos ajudará a preparar melhor e conscientemente, o futuro…

Estamos praticamente nas vésperas de poder celebrar os 500 anos da criação, da primeira DIOCESE, da África. A Diocese foi criada á 488 anos, isto é, Cabo Verde, teve o seu primeiro Bispo em 1533 e a novel Diocese, cobria, também, além do nosso arquipélago, a parte ocidental da África que era conhecida como “Os Rios da Guiné”…

A partir deste ponto introdutório, vou apresentar alguns estractos de um trabalho estudo que defendi faz já, algumas décadas na “UCL-Louvain-La-Neuve” sob o título (traduzido de francês): “… A Originalidade do povo cabo-verdiano, sua cultura, consequências da colonização portuguesa e da influencia da Igreja Católica …” Os estractos que hora apresento fazem parte do capítulo “ O papel da Igreja durante a colonização” e despontam impactos no ensino ou se preferirem a educação, em Cabo Verde…

 “… Apesar de não haver documentos que afirmam isso, podemos dizer que quando os primeiros navegadores desembarcaram na ilha de Santiago estavam acompanhados de missionários enviados pelo “Prieur General de l´Ordre de Christ”, era regra absoluta: quando os portugueses “descobriam” mundos novos, faziam-se sempre acompanhar de representantes da Igreja, que estava intimamente ligada á “Coroa Real” para perfazer e realizar a ”Cruz e a Espada” efectuando a “Fé” e o “Império”…

… Os dois primeiros franciscanos que desembarcaram na “Ribeira Grande” em 1466, acompanhavam o capitão Bartolomeu de Nolli e um grupo de cidadão genoveses…

… O cristianismo formou-se lentamente e ao ritmo do povoamento das ilhas e o arquipélago teve o seu primeiro Bispo em 1533 e foi criado a Diocese de Cabo Verde que cobria o arquipélago e uma parte da costa africana mais conhecida na altura como zona ou região dos “Rios da Guiné”…

… O Bispo eleito, Dom Brás Neto, ficou em Portugal, contentando-se unicamente a receber e a gastar, os benefícios da diocese, aliás como fizeram também vários outros bispos nomeados, fazendo com que a novel diocese cabo-verdiana ficasse mais de um século, sem bispo residente…

… Enquanto isso, os missionários trabalhavam contra a “decadência” da fé e dos “costumes”. Várias congregações se sucederam em Cabo Verde: primeiro os franciscanos, os jesuítas em 1604, capuchinhos em 1653 e depois os padres seculares…

… O Concordata de 1940 entre o Vaticano e Portugal, seguido de um acordo missionário em 1941, reduziu a Diocese de Cabo Verde unicamente ao arquipélago com sede na Praia em 1943, a certos tempos, á ignorância religiosa acrescentou-se também crenças “animistas” importadas” provavelmente, da Guiné…

… Houve necessidade de uma retomada “em mãos”, dos assuntos religiosos, trabalho realizado pelos padres do Espirito Santo, ajudados pelos Salesianos e Capuchinhos…

Em 1976, um ano depois da independência, a diocese era dirigida pelo Bispo Dom Paulino Livramento Évora, natural da ilha de Santiago e contava com quarenta e nove padres, (nove cabo-verdianos) e 28 religiosas (12 cabo-verdianas) …

… Os números reduzidos de padres cabo-verdianos, justifica-se pela inexistência de seminários…

… A ideia da criação do primeiro seminário foi formulada segundo as normas do Concilio de Trent pelo bispo franciscano Dom Francisco da Cruz que abriu em 1570 uma escola preparatória que apesar de ter apresentado alguns resultados, não prevaleceu muito tempo…

---Depois de várias tentativas infrutíferas, em 3 de Setembro de 1866 abriu-se o primeiro seminário-liceu do arquipélago, na ilha de São Nicolau, que funcionou até 13 de Junho de 1917, data da promulgação de uma lei em Portugal, no quadro da prevalência, da existência na metrópole do movimento “anti-clericismo”…

… Durante cerca de 50 anos independentemente dos bons resultados na formação de futuros religiosos, foi também no Seminário de São Nicolau que foram formados a elite intelectual, funcionários, comerciantes… O Seminário era a única instituição de ensino, cultura e educação que o arquipélago possuía…

Um novo e moderno Seminário, abriu as suas portas em Outubro de 1957, na Praia, formando padres e seminaristas…

… Para efectuar a missão de evangelização e para subsistir e mesmo “impoderar-se” a diocese transformou-se naturalmente numa Igreja verdadeiramente cabo-verdiana, hoje sob a direção do Cardeal Dom Arlindo Furtado, Bispo da Praia…

… Apesar das influências negativas da Igreja, durante a colonização portuguesa, fizemos a opção de debruçar do nosso ponto de vista, no aspecto positivo do papel da Igreja, na criação do Seminário, que permitiu o desenvolvimento do ensino e de uma certa cultura no seio da sociedade cabo-verdiana em todas as nove ilhas habitadas…

“… Não se esqueça de Vacinar-se contra Covid- 19 protegendo Cabo Verde …”

José Valdemiro Lopes

miljvdav@gmail.com

 
Bibliografia:

- L´Originalité du peuple cap-verdien et de s aculture, consequences de la colonisation portugaise et de l´influence de l église Catholique (José Valdemiro Lopes – UCL- Louvain-La-Neuve “SESP” 1981)

- A Aventura Crioula – Manuel Ferreira

- Afrique-Asie nº 86 de 29 Juin 1975

- Vivant- Univers nº 309 de mars-avril 1977

- Voz-di-Povo nº 227 de 25-03-80 e nº 229 de 09-04-80

- Cultura para viver ou teatro cultural cabo-verdiano em Roterdão – José Valdemiro Lopes

- Resistência cultural popular cabo-verdiano – José Valdemiro Lopes

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