Estudo identificou superbactérias em doentes e profissionais de saúde em Cabo Verde
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Estudo identificou superbactérias em doentes e profissionais de saúde em Cabo Verde

A primeira análise genómica de bactérias das fossas nasais de doentes e profissionais de saúde em Cabo Verde, iniciada há quase 25 anos, detetou a presença de “superbactérias” e vai ajudar a entender a resistência aos antibióticos neste país.

Publicado no Journal of Global Antimicrobial Resistance, o estudo foi realizado por investigadores europeus e africanos, incluindo o Laboratório de Genética Molecular do Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier (ITQB) da Universidade NOVA e a Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa de Lisboa.

A investigação procedeu à primeira análise genómica de uma coleção de bactérias Staphylococcus aureus isoladas das fossas nasais de doentes e profissionais de saúde num país africano, neste caso Cabo Verde.

A análise partiu do trabalho iniciado há quase 25 anos, quando a equipa do ITQB NOVA realizou o primeiro estudo de vigilância sobre Staphylococcus aureus em hospitais de Cabo Verde.

Na altura, não foram encontradas amostras desta bactéria resistentes à meticilina (conhecidos como MRSA), “uma situação que se alterou substancialmente desde então”, segundo um comunicado do ITQB NOVA.

Apesar da Staphylococcus aureus ser uma bactéria muito comum nos seres humanos, tem a capacidade de se tornar patogénica em indivíduos com defesas imunitárias reduzidas.

“É responsável por uma grande variedade de infeções, desde infeções da pele e tecidos moles a doença invasiva. A sua elevada capacidade de adquirir resistência aos antimicrobianos e a sua virulência levaram ao aparecimento de estirpes multirresistentes, como os MRSA, que constitui uma das principais ameaças bacterianas a nível mundial”, adiantam os autores do estudo.

Em 1997 foi realizado o primeiro estudo de vigilância nos hospitais de Cabo Verde e na altura não foi identificada nenhuma amostra de MRSA. Em 2013 e em 2014 foram realizados novos rastreios em hospitais de Cabo Verde no âmbito de um projeto coordenado pela Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa - Lisboa, em colaboração com o ITQB NOVA.

A vigilância foi alargada a outros países PALOP, nomeadamente São Tomé e Príncipe e Angola, bem como a Timor-Leste.

Num total de 2.065 amostras nasais recolhidas, a prevalência de MRSA foi muito elevada em Angola (61,6%), moderada em São Tomé e Príncipe (25,5%), baixa em Cabo Verde (5,6%), e nula em Timor-Leste.

Os investigadores aproveitaram a “disponibilidade das amostras e o extraordinário potencial da sequenciação genómica para o estudo de Staphylococcus aureus” e realizaram uma caracterização aprofundada da coleção de amostras de Cabo Verde recolhidas nos três períodos de vigilância: 1997, 2013 e 2014.

“Encontrámos uma elevada variabilidade genética entre amostras de Staphylococcus aureus, com a deteção de 27 perfis alélicos, em que se salientaram três grupos genéticos maioritários associados às linhagens clonais ST152, ST15 e ST5, responsáveis por infeções não só em África, mas em todo o mundo”, explica Teresa Conceição, do ITQB NOVA.

Segundo os investigadores, a linhagem de MRSA predominante em Cabo Verde (ST5-VI) foi descrita pela primeira vez no início dos anos 90 pela equipa do ITQB NOVA, num estudo realizado num hospital pediátrico em Portugal.

Esta linhagem foi detetada nos mesmos profissionais de saúde em 2013 e em 2014, demonstrando que “estes podem atuar como reservatórios e constituir vias de transmissão de bactérias multirresistentes nos hospitais cabo-verdianos”.

A análise genómica revelou ainda eventos de aquisição e perda de genes importantes para o estabelecimento desta superbactéria em Cabo Verde.

O estudo permite agora compreender a evolução global e a adaptação da resistência aos antibióticos dos primeiros isolados de MRSA identificados em Cabo Verde.

“Embora a utilização de antimicrobianos ainda seja limitada no país, há um aumento progressivo e preocupante da resistência aos antibióticos, sendo urgente a implementação de medidas preventivas adicionais”, prosseguem os autores.

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