
Os tribunais de primeira instância em Cabo Verde tramitaram cerca de 250 processos contra o Estado no último ano, que o Ministério Público avalia em mais de 6 mil milhões de escudos (60,6 milhões de euros).
Segundo o relatório anual sobre a situação da Justiça, referente ao ano judicial 2020/2021 (01 de agosto a 31 de julho), elaborado pelo Conselho Superior do Ministério Público (CSMP) de Cabo Verde, em matéria de contencioso foram tramitadas a nível nacional, neste período, 257 ações cíveis e administrativas intentadas contra o Estado, equivalente a mais 8% face ao ano judicial anterior (238).
Os valores totais dessas ações ultrapassam os 6.716 milhões de escudos (60,6 milhões de euros), menos 38,2% quando comparado com o valor total do ano judicial 2019/2020, que ultrapassou então os 10.866 milhões de escudos (98 milhões de euros).
O relatório do MP, que assegura a defesa do Estado nestes processos, acrescenta que do total das ações tramitadas, 60,3% correm nos quatro juízos cíveis do Tribunal Judicial de primeira instância da Comarca da Praia, seguido da Comarca de São Filipe, com 13,2%.
“Cumpre frisar, relativamente ao contencioso do Estado e na defesa dos direitos e interesses patrimoniais do Estado nas ações cíveis e administrativas, que a situação descrita nos últimos relatórios não sofreu mudanças dignas de se assinalar. Mesmo após a publicação da Resolução n.º 9/2017, que atribuiu a cada departamento governamental a responsabilidade de disponibilizar diretamente ao Ministério Público os documentos e informações necessários à preparação da defesa do Estado, permanecem atrasos substanciais na disponibilização dessas informações e documentos”, lê-se no relatório.
O parlamento cabo-verdiano discute na sexta-feira o estado da Justiça no país, debate anual que analisa habitualmente os dados fornecidos no relatório do MP.
O MP acrescenta no documento que “na maioria das vezes, os elementos solicitados aos departamentos governamentais são enviados a dois (ou menos) dias do termo do prazo para a apresentação da contestação, por vezes prorrogado”.
“Não há, a nível governamental, um departamento que assegure a devida articulação com o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses patrimoniais do Estado”, aponta-se no relatório.
Segundo o documento, que é necessário “dispor de um serviço de contencioso bem estruturado e com técnicos especializados, que possam assegurar uma articulação mais eficiente, não só com cada um dos demais departamentos governamentais, mas também com o Ministério Público, de modo que os documentos, informações e meios de prova cheguem não só em tempo para a elaboração da defesa do Estado, mas sejam os necessários para uma melhor defesa”.
De acordo com o MP, foram encerrados, durante o último ano judicial, mediante sentenças judiciais, na primeira instância, 31 processos nos quais o Estado foi demandado, mais 6,9% face a 2019/2020. Com a defesa assegurada pelo MP, o Estado foi absolvido, total ou parcialmente em 30 ações, correspondendo a um valor global superior a 2.337 milhões de escudos (21 milhões de euros), tendo sido “totalmente condenado em uma ação”.
Os comentários publicados são da inteira responsabilidade do utilizador que os escreve. Para garantir um espaço saudável e transparente, é necessário estar identificado.
O Santiago Magazine é de todos, mas cada um deve assumir a responsabilidade pelo que partilha. Dê a sua opinião, mas dê também a cara.
Inicie sessão ou registe-se para comentar.
Comentários