Os Poderosos!
Ponto de Vista

Os Poderosos!

No dia em que eu sentir medo de dizer o que penso por temer eventuais retaliações, terei vergonha daquilo em que eu me tornei

A Reitora da UniCV, candidata à sua própria sucessão na data da emissão do mediático despacho de RECLASSIFICAÇÃO dos funcionários docentes e não docentes dessa mesma instituição, tendo, claramente, adotado uma postura um tanto quanto auto-favorecedora - para não dizer completamente desprovida de todo o sentido de ética profissional -, pois tal ação não poderia ter outro impacto que não o favorecimento da sua própria candidatura, não obstante os eleitores serem indivíduos bastante bem esclarecidos, está, neste momento, sem credibilidade para proceder a qualquer negociação com o Governo, deixando a UniCV numa posição extremamente comprometedora. Tal é verdade que, volvidos quinze meses após a emissão do supracitado despacho, e doze meses após a data do inicio da sua vigência, os funcionários implicados vêm presenciando um finca pé mesquinho entre o Governo e a Reitora, discutindo a legalidade/ilegalidade do mesmo, tarefa essa constitucionalmente atribuída ao poder judicial. Durante todo esse período, o Governo, através do Ministério das Finanças, tem afirmado categoricamente que os pagamentos seriam autorizados assim que a UniCV apresentar disponibilidade financeira, enquanto que a Reitora, por sua vez, tem afirmado que a UniCV tem, sim, disponibilidade financeira e que efectuará o pagamento assim que o Governo autorizar. 

Parece-me que o Governo, ao invés de assumir as suas responsabilidades para com a UniCV, posiciona-se em bicos dos pés e assiste ao seu eminente declínio. 

Senão vejamos:

1 - Recentemente presenciou-se a fusão do ex-depósito de resíduos politicos - antigo Instituto universitário de Educação - à UniCV, ação que para mim não passa de uma estratégia astutamente montada pelo Governo, pois, em vez de extingui-la e ser responsabilizada por eventuais consequências, negociou a sua fusão à UniCV, ciente do destino reservado a esta última. Obviamente que, por ser uma instituição de gestão autónoma, pensará o Governo que a queda da UniCV será inteiramente imputada à má gestão da mesma... e com a sua queda terá cumprido a missão de matar dois coelhos de uma so cajadada, sem incorrer em qualquer responsabilização... pensará o Governo!

2 - Sendo a UniCV uma instituição pública, as suas políticas devem - sem reservas - convergir/traduzir-se nas do estado, mas, com a criação da tão propalada escola do mar, atropelando por completo os objectivos que esta intenta através da Faculdade de Engenharia e Ciências do Mar (FECM), o Governo revela-se numa espécie de concorrência, deixando-a à mercê da sua sorte;

3 - 12 anos após a sua criação, nenhum funcionário da UniCV obteve progressão na carreira devido à falta de dotação orçamental, desculpa essa frequentemente usada pelos sucessivos gestores quando alguém intenta tal ação;

4 - O quadro do PESSOAL DOCENTE da UniCV contempla 330 PROFESSORES (150 Prof. AUXILIARES, 100 Prof. ASSOCIADOS e 80 Prof. TITULARES/CATEDRÁTICOS) e 200 ASSISTENTES (100 ASSISTENTES e 100 ASSISTENTES GRADUADOS), mas, dado à fraca comparticipação financeira do estado e ao seu deficitário mecanismo de angariação de fundos, conjugados com o fraco poder de compra dos cabo-verdianos, passados 12 anos da sua criação, a mesma vem laborando com menos que 100 (cem) PROF. AUXILIARES, 0 (zero) PROF. ASSOCIADOS e 0 (zero) PROF. TITULARES, revelando, por conseguinte, uma estrutura científica bastante precária comparada às homólogas além fronteiras;

5 - Com o supracitado Despacho, embora emitido em ambiente e momento inoportunos, vários docentes com grau de doutor (satisfazendo sine qua non o critério de ilegibilidade) que encontravam-se enquadrados como assistentes, passam a ocupar parte das restantes vagas na categoria de PROF. AUXILIAR, descongestionando, em parte, a carreira docente que permanece estagnada por 12 anos, mas o governo, fazendo-se de tribunal, não reconhece o caráter executório do mesmo.

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