Ponto de Vista

A recente contestação judicial contra a candidatura de Francisco Carvalho à presidência do PAICV é a última cartada de uma elite desesperada. Acostumada ao monopólio do poder, essa elite não consegue aceitar que sua influência esteja sendo desafiada por um candidato legitimamente apoiado pelas bases. A tentativa de barrá-lo através do Tribunal Constitucional a meras 72 horas da eleição interna não é apenas um ato de desespero, mas uma demonstração gritante da incapacidade de compreender a realidade social e política do país.

Francisco Carvalho não é uma figura emergente por causa de promessas eleitorais de viagens interilhas mais baratas ou do acesso gratuito à universidade pública e aos serviços de saúde. Seu crescimento político começou muito antes, desde sua primeira candidatura à Câmara Municipal da Praia, em 2021, e se consolidou com sua reeleição em dezembro de 2024. As promessas mencionadas surgiram depois dessa consolidação e não são a raiz de sua popularidade. O que realmente assusta a elite tradicional é o fato de Francisco Carvalho ter mobilizado as massas de forma espontânea, algo que essa elite jamais conseguiu sem recorrer a privilégios e manobras internas para manter seu domínio.

O mais irónico nessa tentativa desesperada de bloqueá-lo é a hipocrisia evidente no uso do Tribunal Constitucional. Cabo Verde padece de um atraso crônico na resolução de processos judiciais, com casos caducando todos os dias devido à ineficiência do sistema. No entanto, nunca houve uma mobilização da elite ou de qualquer segmento privilegiado para exigir um funcionamento mais célere da justiça em benefício da população. Mas, quando seus interesses estão em jogo, a justiça se torna subitamente célere e conveniente. Com muita sorte, o Tribunal Constitucional não mandou parar o Partido de incapacidade de autogestão, pois o pagamento de quotas é um assunto trivial e interno e é um problema de todas as organizações associativas, fundações e cooperativas de Cabo Verde, quanta tontice de uma elite perdida de si e de todos!

Essa manobra política, além de irresponsável, expõe uma elite desconectada do país real. Em vez de investir em soluções concretas para os problemas estruturais de Cabo Verde, prefere usar a máquina do Estado para tentar silenciar adversários políticos e preservar seus privilégios. Mas os tempos mudaram. A população já não se deixa enganar tão facilmente, e essa tentativa de golpe institucional só reforça a percepção de que essa elite perdeu qualquer legitimidade que um dia possa ter tido. Francisco Carvalho representa uma nova dinâmica política, e tentar barrá-lo por vias artificiais só comprova o desespero de quem já não tem mais nada a oferecer ao país.

Lembrando que uma boa elite, sempre pode influenciar, qualquer líder eleito mas, tem de usar a sua sapiência e esperar que o povo diga de sua justiça, pois, assim se determinou a 19 de fevereiro de 1990. De vez em vez, a base detém o poder e nessas datas, a elite não disputa com o povo…escuta e segue a atuar em seguida, pois, a elite é a camada mais preparada para qualquer situação. Logo, a virtude manda que ela seja servidora da nação e das bases em vez de se servir do Estado.