Em Cabo Verde, a despeito das conquistas da Nação, há sinais de que, afinal, não conseguimos converter-nos naquilo a que Otto Bauer chamaria de “comunidade de destino”. Não conseguimos entendimentos tácitos sobre o que queremos ser e muito menos para onde queremos ir; temos sérias dificuldades em explorar o que nos une e grande predisposição para potenciar o que nos separa. Descurando o essencial, gravitamos em torno do residual.
De certa forma, estamos a experimentar uma espécie de “retorno aos primórdios” onde, marcada por tráfico e traficâncias, a vida no arquipélago decorria sob o signo da automutilação do próprio corpo social, por amputação da componente humanizante, pela subtração da dimensão civilizacional e pela brutalização fundante que esmaga e anula as possibilidades de uma pauta humana de que pudesse resultar um projeto social.
Ontem, tivemos mais um sinal de fragmentação das bases do estar junto comunal. Porém, nada que pudesse surpreender-nos. Afinal, a violência física de que tanto se fala e que tanto repúdio suscita parece ser corolário natural de um perigoso processo de banalização do mal e de recuo civilizacional a que todos assistimos, serenamente, ou instigamos, tacitamente.
Portanto, nada de alarmismo, e muito menos de puritanismo ou pseudo-moralismo. De certa forma, merecemos o que temos.
Artigo publicado por Gabriel Fernandes na sua página pessoal do facebook.
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