O Presidente da República disse hoje no Mindelo que neste momento o Estado está a endividar-se para o seu funcionamento e que se isso continuar pode perigar a sustentabilidade das finanças públicas em Cabo Verde.
José Maria Neves fez estas considerações ao falar sobre “Cabo Verde o futuro pós-pandemia” com jovens de São Vicente, principalmente estudantes universitários e das escolas secundárias.
Segundo José Maria Neves, a situação do País é “muito complexa e muito difícil,” após viver três anos de seca severa, enfrentar os efeitos da pandemia da covid-19 e ainda os impactos da guerra na Ucrânia, com “o aumento generalizado de preços, sobretudo de bens de primeira necessidade”.
Conforme o PR, por causa da pandemia da covid-19, a economia retraiu cerca de 14,8 por cento (%), “o que é muito” em termos da riqueza nacional e ainda “o País precisa recuperar em termos do desemprego, do emprego e do combate à pobreza e às desigualdades”.
Para José Maria Neves, a retoma poderá ser mais lenta do que se estava à espera”, por causa da guerra e Cabo Verde “vai precisar de cerca de três anos com a economia a crescer fortemente para chegar à riqueza que tinha em 2019”.
Diante deste cenário, o chefe de Estado defendeu que deve haver “mais qualidade nas despesas públicas”, a “redução ou eliminação de gastos supérfluos e a tomada de medidas para, a curto prazo, acudir as famílias mais carenciadas e que mais precisam do apoio do Estado para poderem fazer face à crise”.
“A retoma será muito mais lenta, as dificuldades e os desafios aumentarão. Temos um grande aumento da dívida pública, que ultrapassa os 150 % do Produto Interno Bruto (PIB) e, portanto, estamos a caminhar perigosamente para um País altamente endividado se continuarmos a esse ritmo de endividamento, além de outras dívidas não titularizadas”, elucidou o Presidente da República, lembrando ainda que a “dívida interna ultrapassa os 30 %, o que pode criar dificuldades às empresas internamente, ainda mais quando o Estado concorre com as empresas para o acesso a recursos”, aumentando “grandemente o custo do próprio investimento”.
Neste sentido, o Presidente da República sustentou que “o Estado não pode endividar-se para garantir o seu funcionamento”.
“O Estado pode endividar-se, sim, para o desenvolvimento e crescimento da economia. A dívida deve ser alocada ao investimento e criação de riqueza, ou formação bruta de capital e não para o funcionamento do próprio Estado”, reforçou.
Por isso, defendeu que se deve ter “coragem para a realização de profundas reformas e mudanças”, para a “redução da dimensão máquina pública” e ainda “da dependência em relação ao próprio Estado”. “Radicalmente aumentar a descentralização, desestatizar a sociedade e reduzir a máquina pública para canalizar os recursos para enfrentar os desafios que se colocam à sociedade cabo-verdiana”, vincou.
Ainda, ajuntou, o País tem que “acelerar o passo em termos de transformação global e da economia, da diversificação, melhorar o processo de formação das políticas públicas, acelerar em termos de eficiência e eficácia dos resultados e garantir que se possa fazer as coisas certas no tempo certo e com muito mais qualidade”.
Sobre o encontro com os jovens, José Maria Neves frisou que “foi excelente” e que a sua perspectiva enquanto PR é “descontrair, distensionar o debate” para “procurar no tempo certo os acordos e os consensos que são necessários”
“O debate com a juventude é muito pertinente porque ajuda-nos aprender a construir respostas para os enormes desafios que nós temos neste momento em Cabo Verde e que exigem muito diálogo, muita moderação e qualidade em tudo o que nós fazemos”, lançou.
Além do encontro com os jovens, o Chefe de Estado participa ainda hoje na apresentação do livro “Luís Loff de Vasconcelos – Obra quase completa – I Volume, Opúsculos”, e na Gala 30 anos da Ímpar Seguros.
Este sábado, no período da manhã, José Maria Neves continua com encontros com organizações e praticantes dos desportos náuticos e organizações não governamentais. À tarde, o Presidente da República efetua visitas a vários empreendimentos ligados a confecções, agricultura, pesca, terminando o dia com um sarau cultural.
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