Aos 65 anos de idade, a morte do líder histórico da Renamo está relacionada com complicações de diabetes. Notícia é avançada pela Televisão Independente de Moçambique e AFP Africa. Dhlakama terá morrido a bordo de um helicóptero que o transportava para tratamento médico urgente.
Morreu Afonso Dlakhama, líder da Renamo, segundo avançaram esta quinta-feira a Televisão Independente de Moçambique e a AFP Africa. A notícia foi posteriormente confirmada à Lusa por fonte partidária. Tinha 65 anos.
Dhlakama vivia refugiado na serra da Gorongosa, no centro do país, desde 2016, tal como já o havia feito noutras ocasiões, quando se reacendiam os confrontos entre a Renamo e as forças de defesa e segurança de Moçambique.
Afonso Macacho Marceta Dhlakama, nasceu em Mangunda, Sofala, a 1 de Janeiro de 1953. Foi um político e militar revolucionário e líder da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), o principal partido político da oposição em Moçambique, durante 40 anos. Afonso Dhlakama foi ex-vice-presidente da Internacional Democrata Centrista, uma associação internacional, fundada em 1961 e sediada em Bruxelas, da qual a RENAMO é membro.
Ele foi casado com Rosária Xavier Mbiriakwira Dhlakama e teve oito filhos
Afonso Dhlakama tornou-se líder da Renamo durante o auge da guerra civil que assolou o país e provocou centenas de milhares de mortos. Recorde-se que a guerra civil começou em 1977, dois anos após o fim da Guerra de Independência de Moçambique, e apenas terminaria em 1992, aquando da assinatura, em Roma, do Acordo Geral de Paz entre a Renamo e a Frelimo de Joaquim Chissano, antigo presidente de Moçambique.
Então, a Renamo tornar-se-ia oficialmente um partido, na oposição, nunca abandonando, contudo, um contingente armado que se envolveu, ao longo dos anos, em vários ciclos de violência com as forças governamentais da Frelimo, sobretudo após a realização de eleições.
Em abril, o presidente moçambicano Filipe Nyusi, da Frelimo, confirmou que o Governo e a Renamo se encontravam a negociar e a finalizar um acordo para o desarmamento, desmobilização e reintegração dos combatentes da Renamo nas forças armadas e de segurança do país — esta reintegração sempre foi uma exigência pública de Afonso Dhlakama. “Conseguimos encetar um diálogo com o presidente da Renamo e, através de contactos, temos estado a construir confiança mútua, que até ao momento ajudou o nosso país a parar com a violência”, explicou Filipe Nyusi.
Também em abril último, a líder parlamentar da Renamo, Ivone Soares, afirmou que Afonso Dhlakama poderia em breve abandonar a Gorongosa e regressar a Maputo para liderar a oposição na capital. “Estamos a trabalhar para que a saída do presidente Afonso Dhlakama seja para breve, com as medidas de segurança acauteladas e com o término das negociações militares, que englobam garantias de que as forças residuais da Renamo vão ser acopladas dentro do exército único do estado moçambicano”, garantia Ivone Soares.
Em março de 2017 foi assinado entre a Renamo e a Frelimo o último cessar-fogo.
Uma vez guerrilheiro, sempre guerrilheiro
Com o fim da Guerra Colonial, em 1974, Dhlakama ingressou na Frelimo, abandonando o partido, em divergência, dois anos volvidos.
Então, funda em Harare, no Zimbabué, a Resistência Nacional de Moçambique, a RNM, um movimento armado apoiado pelos serviços secretos da Rodésia — tendo a RNM como principais ideólogos políticos e militares, para além de Dhlakama, o chefe dos serviços secretos rodesianos, Ken Flower, e Orlando Cristina, antigo membro da PIDE-DGS. As primeiras ações armadas da RNM registam-se na Gorongosa, precisamente onde esta quinta-feira o líder da Renamo morreu.
O primeiro líder do movimento foi André Matsangaissa, como Dhlakama um dissidente da Frelimo. Após o assassinato de Matsangaissa em 1979, Dhlakama assume a liderança, passando o movimento (ainda armado e pouco político) a denominar-se Renamo. E o conflito continuou. Só após a morte de Samora Machel, antigo presidente de Moçambique, em 1986, e com a chegada ao poder de Joaquim Chissano, o acordo de paz se assinou, em 1992.
Várias vezes Dhlakama concorreu às eleições em Moçambique. A primeira vez que concorre é no ano de 1994. Joaquim Chissano é eleito Presidente. Dhlakama não contestaria os resultados. Mas contestou em 1999, após a derrota da Renamo, que viu Chissano (Frelimo) ganhar novamente. A paz não perduraria. Houve pelo menos 40 mortos durante um protesto da Renamo na cidade de Montepuez. Dezenas de pessoas foram detidas então, 83 acabaram por morrer, sufocadas, numa cela.
Quando Armando Guebuza vence as presidenciais de 2004, Dhlakama rejeita os resultados, como rejeitaria em 2009, após a recondução de Guebuza. Mesmo sendo a Renamo o maior partido da oposição, Dhlakama regressa em 2012 à antiga base do partido que dirige, em Satunjira, na Gorongosa. A instabilidade político-militar toma o país de assalto, a Frelimo responsabiliza a Renamo por sucessivos ataques armados em Moçambique, tomando, em outubro de 2013, a base de Satunjira.
O Acordo Geral de Paz, já de si frágil, rompe-se, só chegando Afonso Dhlakama e Armando Guebuza a novo acordo um ano depois, na véspera do ato eleitoral de 2014. Filipe Nyusi, atual presidente, vence e, como até aqui, Dhlakama contesta, reclamando governar as províncias em que a Renamo triunfou. Nyusi e Frelimo rejeitam. E o presidente moçambicano apenas se reaproximaria de Afonso Dhlakama recentemente, negociando ainda, e até à morte de Dhlakama, o desarmamento do partido da oposição.
Com Observador
Comentários