Um jacto privado interceptado no sábado, 15, na Florida, com armas e dinheiro pertencentes a Álex Saab, foi relacionado com a presença de "emissários" cabo-verdianos na Venezuela. O jornal colombiano El Tiempo garante que Gil Évora e Carlos Anjos regressaram de Caracas com mais três maletas das que levaram. O diário cita hora, local e nomes, mas foi um deputado venezuelano a unir os pontos e a descortinar esta eventual coincidência: "estarão a preparar um resgate armado de Alex Saab em Cabo Verde?". Os EUA já sabem e estão secretamente no arquipélago a controlar a operação, segundo o ex-presidente da Colômbia, em entrevista ao canal NTN24, com sede em Bogotá.
O Governo de Cabo Verde já desmentiu a notícia internacional do suposto envio de 'emissários' à Venezuela e até demitiu Gil Évora do cargo do PCA da Emprofac, ao que tudo indica por supostas ligações do gestor em negociações secretas, e fora do campo diplomático oficial, com o Executivo venezuelano para impedir a extradição do alegado testa-de-ferro de Nicolás Maduro em negócios envolvendo lavagem de dinheiro, tráfico de armas e até participação do empresário colombiano de ascendência libanesa com células terroristas ligadas ao Hezbollah do Líbano, segundo a versão do Qatar News.
Mas o detalhe que chama a atenção é outro e bem mais grave, porque evidencia o grau de um aparente cinismo diplomático e de uma possível corrupção que, máxime, mexe até com a soberania do país. O jornal Pan Am Post chega, inclusive, a relacionar a suposta presença de Gil Évora e Carlos Anjos em Caracas, capital da Venezuela, com a detenção, no sábado, 15, de um jacto particular na Florida, que, carregado de armas e dinheiro, teria como destino as ilhas caribenhas de São Vicente e Granada, onde Évora e Anjos teriam feito escala antes de regressarem a Lisboa, na segunda-feira, 17, com mais três maletas, que se desconhece o conteúdo.
Investigação de jornais sul-americanos categorizados como o Nuevo Herald, El Tiempo e PanAm Post, relacionam de pronto o suposto "encontro secreto" de Gil Évora, PCA da Emprofac, e Carlos Anjos, ex-director geral do Turismo, com Maduro, à apreensão, a na Florida, de "um jacto com registo venezuelano YV3441 que carregava 18 fuzis com objectiva, seis espingardas e pelo menos 58 pistolas semiautomáticas, mais 20 mil dólares em dinheiro e 2 milhões 618 mil dólares em cheques endossados", de acordo com a página oficial da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA.
A aeronave estará associada a Alex Saab. O congressista venezuelano Carlos Paparoni escreveu, a propósito, na sua conta no Twitter: "Um dos passageiros do YV3441, interceptado pelas autoridades dos Estados Unidos carregado com armas e dólares em dinheiro, é Carlos Lizcano, um ator-chave nas estruturas criminosas de Alex Saab".
Paparoni acrescenta ainda que “o avião YV3441 (…) pertence a uma empresa Roswell Rosales, piloto de Álvaro Pulido, sócio de Alex Saab”. A Roswell Rosales, por sua vez, esclareceu à Univisión que não é dono do avião desde que em outubro de 2019 o transferiu para "uma pessoa na Venezuela", sem esclarecer quem é. No entanto, Rosales confirmou à imprensa norte-americana sua relação com Álvaro Pulido, parceiro de Alex Saab.
"A ligação óbvia de Alex Saab com o avião apreendido na Flórida e com os dois cabo-verdianos que se encontraram com Maduro, e o facto de ambas as partes se terem encontrado em São Vicente e Granadinas, suscitam várias preocupações. Um deles: para que serviam as armas?", questiona o Pan Am Post, para a seguir trazer à baila outra suspeita: "Estava sendo preparada uma operação de resgate armado para Alex Saab?", pergunta o jornalista venezuelano Ewald Scharfenberg.
Segundo o jornal colombiano El Tiempo, citando fonte de Washington, neste momento a estratégia do empresário colombiano Alex Saab, depois de o Tribunal de Relação de Barlavento decidir pela sua extradição, passa por meter recursos acima de recursos nas instâncias superiores dos tribunais cabo-verdianos a fim de ganhar tempo enquanto o governo de Nicolás Maduro "tenta convidar e aliciar empresários cabo-verdianos próximos do poder em Cabo verde para pressionarem as autoridades locais", no intuito de impedirem a extradição de Àlex Saab para os EUA.
O jornal reforça essa tese fazendo referência à carta de Saab endereçada ao primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, na qual chega a "aliciar" o Governo de que ele e a Venezuela podem ajudar Cabo Verde mais do que fazem os EUA em 100 anos.
Esta mesma visão tem o ex-presidente da Colômbia, que em entrevista ao canal NTN24, afirma que os Estados Unidos da América já estão a par de tudo e que inclusive estão "secretamente" em Cabo Verde a controlar uma possível evasão do empresário colombiano tido como braço direito de Maduro nos assuntos financeiros e militares extra oficiais. E, coincidência ou não, a verdade é que os EUA têm neste momento no país uma equipa militar a fazer exercícios militares de resgate em alto mar com a Guarda Costeira.
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