Acaba de ser descoberta uma “enorme mansão” do século XVII em novas escavações arqueológicas na Rua Banana, na Cidade Velha, a primeira construída pelos portugueses em África, disse hoje à Lusa a presidente do Instituto do Património Cultural (IPC).
“Podemos estar a falar de um grande sobrado, de uma grande residência, provavelmente dos finais do século XVI e inícios do século XVII”, afirmou Ana Samira Baessa.
A presidente do IPC disse que, do ponto de vista patrimonial, esse achado é “muito importante”, porque vem “enriquecer” o discurso à volta da primeira artéria numa urbanização portuguesa nos trópicos, que era um “espaço privilegiado da elite” da então capital do país.
Samira Baessa adiantou que os investigadores já escavaram parte substancial da “enorme mansão” e recolheram objetos que estariam ligados ao uso e ocupação da casa no bairro de São Pedro, onde está a Rua Banana.
“Para além das evidências visuais que agora ficam na estrutura já escavada, trazem novas pistas para outras investigações” para aprimorar a vivência e a culturalidade da Cidade Velha, que não estão presentes na monumentalidade de outros edifícios, perspetivou a presidente do IPC.
A escavação, que arrancou há três semanas, está a ser realizada por historiadores, arqueólogos e especialistas de vários domínios, que pretendem descobrir mais informações sobre o património habitacional dos séculos XVII a XVIII.
A primeira prospeção no local foi feita em 2018.
A primeira fase destes trabalhos termina na próxima semana e a presidente do IPC disse que o objetivo, agora, é encontrar mecanismos para proteção e valorização dos achados, "nomeadamente, através da sua musealização”.
Para a dirigente, o objetivo é valorizar a Cidade Velha “como um todo”, incluindo tanto o património subaquático, como o que está à vista.
Aquilo que ainda está no subsolo, “pode ajudar a reconstruir a história” do local, que é Património da Humanidade.
As escavações são financiadas pelo Projeto CERIBAM e pela Fundação Palarq, numa parceria entre o IPC, o Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa e a Universidad del País Basco, em Espanha.
A Cidade Velha foi elevada à categoria de Património Mundial da Humanidade pela UNESCO a 26 de junho de 2009, quase há 15 anos.
A ilha de Santiago foi descoberta pelo navegador português Diogo Gomes, em 1460, e foi António da Noli, italiano, então ao serviço da coroa portuguesa, que deu início ao povoamento da localidade, dois anos mais tarde.
Primeira capital do arquipélago de Cabo Verde, até 1770, a Ribeira Grande de Santiago (nome da zona conhecida como Cidade Velha), a 12 quilómetros da cidade da Praia, foi elevada a cidade em 1533, altura em que contava com cerca de 500 habitantes, um quarto dos atuais.
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