A conselheira do secretário-geral das Nações Unidas para a África, Cristina Duarte, pediu ontem, na Praia, o apoio do Presidente do país para mudança da narrativa sobre a problemática do financiamento para o desenvolvimento no continente.
Após uma audiência com o chefe de Estado, José Maria Neves, a conselheira de António Guterres notou a “necessidade e o imperativo” de se mudar o paradigma de um financiamento para o desenvolvimento que tem sido essencialmente pensado a partir do exterior para ser pensado a partir da África.
“E eu e a minha equipa criámos uma nova narrativa para darmos a nossa contribuição à mudança de paradigma do financiamento para o desenvolvimento em África”, avançou Cristina Duarte, notando que África é um continente rico em recursos naturais, mas também em recursos financeiros.
“Ou seja, a África é um continente que já provou que tem capacidade para gerar recursos domésticos, económicos e financeiros. Não tem capacidade para os mobilizar, para os reter. Isto tem a ver com a fragilidade dos sistemas a nível de todos os países africanos”, diagnosticou.
Para a responsável, o desafio é o continente mobilizar os recursos domésticos que necessita para implementar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a Agenda 2063.
Cristina Duarte chefiou as pastas das Finanças e Planeamento em Cabo Verde, tendo saído do executivo em 2016 depois de 10 anos em cargos no Governo, liderado por José Maria Neves, do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV).
Além da questão do financiamento, disse que abordou com o Presidente da República de Cabo Verde o desafio energético no continente e a sua relação com as mudanças climáticas, considerando que é necessário África resolver “de maneira definitiva” nos próximos cinco a 10 anos o grande défice estrutural energético.
A segurança alimentar em África e a crise em matéria de segurança alimentar provocada pela instabilidade geopolítica foi outro assunto abordado pela conselheira da ONU, entendendo que, além de pensar a sua segurança alimentar, África tem que pensar a sua soberania alimentar.
“É um continente extremamente rico em recursos agrícolas, e não só, e tem todas as condições para gozar de uma posição de soberania forte em matéria alimentar”, considerou.
Cristina Duarte disponibilizou ainda a equipa que chefia em Nova Iorque para apoiar José Maria Neves como chefe de Estado de Cabo Verde e como líder africano que neste momento desempenha o papel de “champion” em termos de património cultural e natural do continente.
“É uma posição extremamente interessante, de extrema responsabilidade e eu sendo uma cabo-verdiana a desempenhar as funções que desempenho em Nova Iorque tenho a obrigação de me disponibilizar pessoalmente, disponibilizar o sistema e a minha equipa”, prometeu.
Há três anos no cargo, a ex-ministra cabo-verdiana disse que tem sido um “desafio extremamente interessante”, considerando-se uma pessoa que sempre teve uma “alma pan-africana muito grande” e que tem posto isso em prática.
E disse que tem tentado fazer do departamento que lidera “um palco para as vozes africanas”, dando como exemplo a criação de uma rede de especialistas africanos em todas as áreas, para que as suas vozes sejam “mais ouvidas e mais consideradas” na formulação e na formatação das narrativas globais.
“Porque nós sabemos que as narrativas globais, silenciosamente e às vezes não silenciosamente, decidem a alocação de recursos. Portanto, é fundamental que as vozes africanas sejam tidas, processadas na elaboração destas narrativas globais para poderem influenciar a alocação de recursos”, concluiu.
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