Colunista

A abordagem para combater a pobreza extrema não pode se limitar à simples disponibilização de dinheiro para as famílias. É necessário um enfoque mais amplo, abordando as causas subjacentes da pobreza, promovendo o desenvolvimento sustentável e garantindo um acompanhamento personalizado para assegurar a independência financeira das famílias beneficiadas. A experiência dos Estados Unidos e de outras nações que adotaram estratégias similares pode servir como inspiração para a formulação de políticas mais eficazes, visando não apenas aliviar os sintomas, mas erradicar as raízes da pobreza extrema.

Além dos desafios práticos, a abordagem de fornecer dinheiro diretamente às famílias também levanta preocupações em relação à democracia. No nosso pais, a pobreza extrema pode ser explorada como uma ferramenta política, onde líderes podem utilizar programas assistenciais como instrumentos eleitorais. Dessa forma, a luta contra a pobreza extrema não deve apenas focar na assistência imediata, mas também garantir a construção de estruturas políticas que evitem a manipulação eleitoral através da vulnerabilidade das camadas mais pobres da sociedade.

A pobreza extrema é um flagelo que assola diversas nações, desafiando líderes e legisladores a desenvolverem estratégias eficazes para combatê-la. Muitas abordagens têm sido propostas ao longo dos anos, e uma discussão crítica sobre a eficácia de simplesmente disponibilizar dinheiro para as famílias é crucial.  Em Cabo Verde e comum acreditar que fornecer recursos financeiros diretamente às famílias é a solução para a pobreza extrema. No entanto, renomados autores e estudiosos da área questionam essa abordagem simplista. Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, argumenta que "a pobreza não é apenas a falta de dinheiro. É a privação de oportunidades básicas para viver com dignidade." Essa visão ampliada sugere que a raiz da pobreza extrema vai além da simples ausência de recursos financeiros.

Ao considerar abordagens para combater a pobreza extrema, é essencial reconhecer a diferença entre fornecer dinheiro temporário como suporte inicial e criar uma dependência de longo prazo. Nos Estados Unidos, programas sociais foram implementados com objetivos bem traçados, seguindo o princípio de "mão para cima, não mão para fora". Autoras como Barbara Ehrenreich, em "Nickel and Dimed", apontam que esses programas são estruturados para fornecer assistência temporária, acompanhada de educacao e suporte, capacitando as famílias a se tornarem autônomas. Contrastando com essa abordagem, alguns países criaram programas de luta contra a pobreza extrema que evitam simplesmente oferecer dinheiro às famílias. Essa estratégia visa evitar a criação de uma dependência crônica do Estado. No entanto, é crucial que tais programas não apenas ataquem os sintomas, mas também abordem as causas subjacentes da pobreza extrema. A implementação de programas que promovam o desenvolvimento sustentável é fundamental.

O economista Muhammad Yunus, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, destaca a importância do microcrédito e do empreendedorismo como ferramentas para capacitar as comunidades a se tornarem autossuficientes. Essas iniciativas não apenas fornecem recursos financeiros, mas também promovem habilidades empreendedoras, incentivando a criação de pequenos negócios e a geração de rendimentos. Em Cabo Verde, a falta de um sistema de acompanhamento personalizado pode comprometer a eficácia de qualquer programa de combate à pobreza extrema. Jeffrey Sachs, conhecido por suas contribuições para a economia do desenvolvimento, destaca a necessidade de um acompanhamento rigoroso para garantir que as famílias beneficiadas alcancem a independência financeira. Nos EUA, por exemplo, as agências governamentais e organizações sem fins lucrativos trabalham em estreita colaboração para monitorar o progresso das famílias e fornecer suporte contínuo. Por favor, não politizem a miséria das pessoas!