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Inquérito aponta “sepse neonatal tardia” na morte dos bebés no Hospital Baptista de Sousa
Sociedade

Inquérito aponta “sepse neonatal tardia” na morte dos bebés no Hospital Baptista de Sousa

Um inquérito ao óbito de 7 recém-nascidos no Hospital Dr. Baptista de Sousa (HBS), em São Vicente, concluiu que a assistência foi devidamente prestada e que poderão ter morrido de “sepse neonatal tardia”.

As conclusões do inquérito, divulgadas hoje pelo Ministério da Saúde, referem que após a análise dos processos clínicos, da audição dos intervenientes e da visita realizada ao serviço de Neonatologia do HBS, a comissão que investigou este caso concluiu que a assistência pré-natal foi cumprida e que “a qualidade e segurança da assistência durante o internamento do ponto de vista técnico e humano das mães e dos recém-nascidos foi razoavelmente satisfatória”.

“São recém-nascidos prematuros e prematuros extremos que poderão ter falecido por sepse neonatal tardia”, apontam ainda as conclusões.

Acrescenta que a grande maioria das gestantes tinha uma gravidez “com risco aumentado para parto pré-termo, pelos antecedentes”, e que “foram seguidas nas estruturas primárias de saúde” e que “todas tinham indicação para seguimento na consulta de alto risco para grávidas”.

O inquérito apurou igualmente que a assistência às mães no serviço de obstetrícia daquele hospital “respeitou os procedimentos técnicos e os protocolos clínicos nacionais”, e que do “ponto de vista humano a assistência da parte dos profissionais foi admissível”.

“Foi aplicado o protocolo nacional para o manejo de situações de rotura prematura de membranas e de ameaça de parto pré-termo. Houve parco cumprimento do protocolo nacional de tratamento e seguimento dos recém-nascidos prematuros. Constatou-se uma ‘consciencialização’ da gravidade da situação pelos profissionais de saúde, o que espoletou uma investigação interna a nível do hospital em articulação com o nível central, para se detetar as inconformidades, possibilitando assim a implementação das ações corretivas que poderiam salvar vidas”, lê-se ainda na mesma informação sobre as conclusões do inquérito.

Segundo IPEMED, uma instituição brasileira de ensino especializado em pós-graduação médica, "a sepse neonatal tardia geralmente ocorre após as primeiras 48 a 72 horas de vida e está relacionada a fatores pós-natais como, por exemplo, procedimentos invasivos em UTI neonatal e transmissão horizontal por meio das mãos dos profissionais de saúde que entraram em contato com o bebê."

O documento aponta sete recomendações com vista à melhoria dos cuidados prestados no HBS, desde logo reforçar ações de capacitação na área da comunicação, humanização e liderança dos profissionais, bem como elaborar um plano anual de atualização/supervisão do cumprimento dos protocolos nacionais.

O hospital deve também “promover a cultura de discussão interna dos óbitos não esperados e dos casos de não conformidade”, integrar um psicólogo nas equipas, “melhorando a assistência aos pacientes”, bem como “melhorar a articulação e a interface entre os serviços da atenção primária, secundária e terciária”.

Também deverá apostar no “reforço a nível dos recursos humanos por forma a melhorar a qualidade na prestação dos cuidados” e “melhorar a comunicação entre o serviço e os pacientes”, para a tornar “mais eficaz e eficiente”.

O Presidente da República, José Maria Neves, pediu em 19 de maio uma “auditoria independente” ao HBS, no Mindelo, São Vicente, recordando a morte de sete recém-nascidos.

“Tratando-se de uma situação anormal e, considerando as sistemáticas queixas dos utentes do HBS, penso ser recomendável a realização de uma auditoria independente para uma avaliação organizacional exaustiva e apresentação de recomendações pertinentes”, afirmou o chefe de Estado.

“Tenho seguido com preocupação as notícias da morte, nestes dias de maio, de sete crianças recém-nascidas no HBS. Sei que o Ministério da Saúde e o próprio hospital estão a fazer as averiguações para identificar as causas destas mortes e tomar medidas cabíveis. E isto é essencial para pôr cobro às inquietações dos cidadãos”, acrescentou.

O Ministério da Saúde de Cabo Verde anunciou no dia 16 de maio a realização de um inquérito à morte, até então, de cinco bebés recém-nascidos, em maio, no HBS.

A investigação, acrescentou na altura o ministério, pretendia apurar factos como os cuidados médicos, de enfermagem e de atendimento prestados às mães e aos bebés recém-nascidos, bem como as boas práticas de segurança e qualidade da prestação dos cuidados aos pacientes.

Para essa investigação, o Ministério da Saúde nomeou uma equipa de especialistas nas áreas de gineco-obstetrícia, neonatologia e enfermagem, composta por profissionais do Hospital Central da Praia e da Direção Nacional da Saúde.

De acordo com o relatório de Estatísticas Vitais de 2021 do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), a taxa de mortalidade infantil em Cabo Verde, que contabiliza o número de óbitos de menores de 01 ano por cada 1.000 nascidos vivos, foi 10,5 em 2021 face aos 11,3 de 2020.

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