Nós, os cabo-verdianos emigrados, experimentamos, sempre presente, nas nossas viagens e deambulações – isto é, as viagens que fazemos com o pensamento quando estamos longe do solo pátrio - uma expectativa que não nos larga: como estarão os amigos que queremos ver e nos querem ver, os familiares que ajudamos e nos ajudam? Vêm-nos à mente projetos e recordações, mas sobretudo a saudade… Uma saudade tão grande que não medimos as horas para abraçar e ser acarinhado. À chegada ao Aeroporto despimo-nos das formalidades que por outras paragens foi preciso cumprir… agora, finalmente no nosso país, já podemos falar e ser entendidos na nossa língua, já podemos abraçar os nossos, já podemos estar como somos. Que maravilha, nada melhor, melhor, mesmo!
Várias tragédias envolvendo o mar têm sido notícia nestes últimos tempos: o mar ceifando vidas, sonhos desfeitos e tristezas… Estes acontecimentos dificultam a tarefa de quem se propõem escrever sobre o mar. As coisas são como são: o mar é o mar, a força da natureza que irrompe com pujança. É verdade: a natureza, e não apenas o amar, muitas vezes surge indomável.
Não é meu propósito, neste artigo, debruçar-me sobre a tragédia que está a abalar o país e que todos nos lamentamos... aquilo que pretendo neste fim de férias na minha Ilha de Santiago, é falar das suas belezas que exercem sobre mim uma verdadeira sedução. De cada vez que a revisito descubro coisas novas. Assim acontece com todos aqueles que a percorrem sem pressas e com olhos de ver. É missão de todos nós descobri-la, promovê-la, dando-a a conhecer ao mundo. E quando a vemos – ou tornamos a vê-la – com olhos de ver, que veem em primeiro lugar os nossos olhos? O mar imenso e matizado que a envolve! Não é possível falar desta ilha de Santiago sem passar pelo mar, sem voltar uma e outra vez ao mar, sempre o mar!
O mar, protagonista de tantas tragédias, dá-nos tudo… torna a nossa vida mais feliz! Quem por cá vive sabe-o bem, basta passar pela praia de Quebra-Canela. O mar, fonte do nosso sustento e estrada imensa que nos liga ao mundo, é o companheiro de todas as horas… sozinho, em grupo, mergulha-se nas ondas, faz-se a festa! Com exuberância ou em silêncio e contenção, durante o dia ou na noite, basta contemplar o mar… aquela beleza terna e brutal, afugenta as tristezas do presente e as do passado, aquelas que carregamos na alma. Na tarde em que preparava este artigo, olhando o mar que estava tão calmo, até me emocionei.
Mas, o nosso país tem outros encantos para além do mar… Nós, os cabo-verdianos emigrados, experimentamos, sempre presente, nas nossas viagens e deambulações – isto é, as viagens que fazemos com o pensamento quando estamos longe do solo pátrio - uma expectativa que não nos larga: como estarão os amigos que queremos ver e nos querem ver, os familiares que ajudamos e nos ajudam? Vêm-nos à mente projetos e recordações, mas sobretudo a saudade… Uma saudade tão grande que não medimos as horas para abraçar e ser acarinhado. À chegada ao Aeroporto despimo-nos das formalidades que por outras paragens foi preciso cumprir… agora, finalmente no nosso país, já podemos falar e ser entendidos na nossa língua, já podemos abraçar os nossos, já podemos estar como somos. Que maravilha, nada melhor, melhor, mesmo!
Num destes dias, no início deste fugaz tempo de regresso às origens, perguntaram-me, lá de fora, como estavam a ser as férias. A resposta saiu espontânea: Aqui é outra vida, é tudo sem stress, o clima especial; uma felicidade que não tem comparação. Na verdade, é impressionante verificar a felicidade que experimentamos neste país, e que, depois sentimos saudade, reside nas coisas simples que não custam dinheiro: este clima suave, no viver descontraído, tranquilo, simples, neste jeito alegre de estar aqui, também, nesta Cidade da Praia, a capital, que também tem para oferecer cultura, história e identidade!
Um roteiro pela Ilha ajuda a cultivar o espírito, basta estar aberto e disposto a aprendizagem. Uma viagem pela história, à Cidade Velha, nosso berço que é lá: memória viva, banhada pela brisa do mar e pelo verde das hortas. Uma visita que, de modo algum, não pode ficar por fazer.
Outro local: o Campo de Concentração do Tarrafal, preservação de uma memória maculada de tristezas e exaltação da determinação de um povo. Entre tantos outros locais de interesse, uma passagem pela Serra da Malagueta constitui sempre ocasião para um tranquilo diálogo com a natureza, aqui, tão exuberante. Diálogo intenso e regenerador, que se pode ir fazendo até chegarmos lá abaixo, à baía do Tarrafal, onde a Serra se espelha no mar.
Alguém me dizia que, em Santiago, há muitos lugares bonitos que, nós próprios, não conhecemos ainda. Assim é: esta terra é um manancial de encantos para quem, sem pressa, se aventurar por ela. E nesta aventura, “como cereja estar no topo do bolo”, encontramos um povo hospitaleiro e uma excelente gastronomia. Por onde quer que se vá, sempre nos sentimos acolhidos por um povo autêntico e simpático.
Em jeito de conclusão: a calma desta gente! “Espera um pouco, estou no mar, à esperar os meninos saírem do mar”, disseram-me ao telefone. A felicidade reside nisto: saber esperar sem pressa os meninos que brincam no mar! Sempre o mar, onde os meninos ainda brincam…
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